sábado, 25 de abril de 2009
Em colapso
As leis ambientais foram criadas na tentativa de evitar o colapso econômico de cidades ou nações inteiras em todas as partes do mundo. Não faltam exemplos, com evidências bem claras, de regiões altamente desenvolvidas economicamente que após arruinarem o meio ambiente viram a prosperidade transformar-se em miséria da noite para o dia.
Todo este aprendizado com a história da humanidade e da ciência levou as sociedades a se prevenirem. Criaram-se regras para ocupação das áreas naturais visando à proteção de recursos estratégicos, como a água.
Estabeleceu-se que a pessoa pode praticar agricultura deste que respeite as nascentes, as margens dos rios etc. Porque sem estas regras, vai faltar água na cidade, levando-a ao colapso e, consequentemente, não terá mais consumidores para os produtos agrícolas e os agricultores vão quebrar.
Logo, a prosperidade de todos está fortemente relacionada com a questão ambiental. Ninguém gosta de ser multado. Mas a sociedade ainda não encontrou outros meios de controlar a ganância das pessoas. Os motoristas infratores também reclamam muito do código de trânsito. Acham o código rigoroso demais quando recebem uma multa e perdem pontos na carteira por transitarem a 120 km/h em frente de uma escola. Já os pais de uma criança que foi atropelada em frente à escola clamam para que a lei seja mais rigorosa ainda. Por que, então, nenhum deputado é louco de propor que não se tenha mais limite de velocidade em frente das escolas ou em qualquer lugar? E que ninguém mais seja multado?
A questão ambiental não é menos grave do que esta verdadeira chacina que observamos no trânsito. O que joga contra o meio ambiente é o fato de que, apesar da gravidade óbvia, os problemas não aparecem tão rapidamente.
Geralmente, deixa-se a conta para as gerações futuras pagarem. Porém, há exemplos da fatura chegar via “sedex 10”, como na tragédia do Morro do Baú, em Ilhota .
É uma grande ilusão achar que o código ambiental de Santa Catarina vai ajudar os agricultores a resolverem seus problemas. O que os nossos agricultores precisam é de ações mais concretas como estradas boas, facilidade de crédito, valorização dos produtos e tecnologia. Fortalecer a Epagri é a melhor estratégia para desenvolver e repassar esta tecnologia de modo a garantir a prosperidade ao homem do campo.
É fácil constatar que as leis ambientais não são culpadas pelo fracasso de alguns que tentam viver da agricultura. Geralmente, os que não vão bem são os que mais desrespeitam a leis ambientais. Dão-se mal na agricultura e tentam ganhar dinheiro partindo para a ação predatória, saqueando o pouco que resta de natureza. Destroem a mata ciliar para fazer carvão, poluem ou secam todos os riachos, capturam e vendem animais silvestres, invadem propriedades alheia etc. Estes continuarão não respeitando nem os ridículos cinco metros de mata ciliar, que é a copada de uma árvore.
Já aqueles pequenos agricultores que se dão bem não reclamam tanto assim das leis ambientais. A prosperidade e a felicidade são conseguidas com trabalho, dedicação e muita competência. Agricultura de hoje não é mais para qualquer. Não há espaço para amadores. Tem de ter eficiência.
Um exemplo que eu observei em Itaiópolis, no Norte do Estado, é o cultivo de fumo. Como tem segredos! É um conhecimento acumulado ao longo de gerações. Requer um cuidado extremo em todas as etapas, desde o plantio, passando pela secagem até o empacotamento e comercialização. Uma bobeada em alguma destas etapas... Foi-se o lucro. Os agricultores que dominam bem todas as técnicas conseguem uma boa renda com esta atividade.
A preservação do pouco que resta de nossas matas não pode levar a culpa pelos problemas sociais. O desenvolvimento sustentável de Santa Catarina depende da preservação da natureza. Resolver os problemas sociais não é permitir que as pessoas obtenham lenha arrancando as tábuas do casco do barco onde todos nós estamos a bordo.
GERMANO WOEHL JUNIOR* GUARAMIRIM
* Germano Woehl Junior é físico e ambientalista.
Ele é um dos fundadores do Instituto Rã-bugio.
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