quarta-feira, 27 de julho de 2011

ACIG Convida para um passeio ciclístico pela Zona Sul - Via Barcas Cocotá X Praça XV


Aproveitando o fim de férias de boa parte da garotada. A ACIG realizará nesta Quinta 28/07, um pedal leve pela belíssima Zona Sul do Rio de Janeiro, aproveitaremos uma carona das barcas, embarcando no Aterro do Cocotá e desembarcando na Praça XV.  Iremos do Centro até o Leblon só por ciclovias curtindo as maravilhas de nossa cidade! 
Avisos Importantes: 
  • Embarcaremos na barca das 14h no Aterro do Cocotá, portanto, certifique-se de chegar pelo menos 20 minutos antes.
  • Ciclistas da Ilha só pagam a sua passagem na barca, a bike vai de carona, válido tanto para ir tanto para voltar.
  • O preço da passagem custa R$ 3,40.  
  • Retornaremos na barca das 18:40, na Praça XV.
  • Menores de 12 anos só poderão participar acompanhados dos responsáveis.
  • Menores de 18 anos deverão apresentar preenchido uma Ficha  de autorizacao que se encontra na loja Cicle Zidan (localizada na Rua Jaime Perdigão) ou imprima clicando aqui: http://pt.scribd.com/doc/60754750/Ficha-de-autorizacao
  • Leve câmera para registrar as lindas paisagens.
  • Garanta sua alimentação, leve de casa alimentos leves e saudáveis. Na Zona Sul tudo é mais caro.
  • O Espírito de grupo é o que prevalesce "Saímos juntos e retornamos juntos".
  • Aconselhamos ir com as camisas da ACIG para passar uma idéia de gupo.
    Maiores esclarecimentos:  luanvasflu@hotmail.com 
    ou pelo cel. 21 9847-5988 

    Trajeto previsto:

Praça XV- Flamengo - Botafogo - Urca - Leme - Copacabana - Ipanema -
Leblon - Lagoa - Humaitá - Botafogo - Flamengo - Praça XV (25 km)

O mundo em um grão de areia: Beleza natural

Cientista amplia imagens de grãos de areia e revela formas e cores inusitadas
Gary Greenberg, diretor do Laboratório de Microscopia e Microanálise do Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí, Estados Unidos, fotografou grãos de areia e ampliou as imagens em mais de 250 vezes.
Com a ajuda de microscópios especiais tridimensionais, o pesquisador mostrou que cada grão de areia traz consigo histórias sobre a geologia, a biologia e a ecologia da região em que se originou.
Ao fotografar imagens de minúsculos grãos de areia e ampliá-las mais de 250 vezes, Gary Greenberg revelou um curioso mundo de formatos e cores inusitados.
O cientista Gary Greenberg disse que demorou para analisar microscopicamente os grãos de areia que seu irmão havia reunido em um tubo de vidro no Havaí e, quando os fez, se assombrou com o que viu.
O pesquisador disse que cada grão de areia é único. "Já vi areia de milhares de praias em todo o mundo e nunca vi dois iguais. Cada grão tem uma história para contar sobre a geologia, a biologia e a ecologia da região".
Gary Greenberg revela que o trabalho de fotografar pequenos objetos é difícil, pois os microscópios óticos e de luz têm pouca profundidade de campo e, por isso, dificultam o foco. A fim de resolver o problema, o cientista registrou uma série de imagens com diferentes níveis de foco. As imagens foram então incluídas em um computador e descartou as desfocadas.
O trabalho rendeu a Gary Greenberg uma coleção de fotografias coloridas e impressionantes, além de novas perspectivas sobre a ciência.


Fonte: 

sexta-feira, 15 de julho de 2011

É temporada de baleias no litoral catarinense


Por: Daniele Bragança
Começou a temporada oficial das baleias no litoral de Santa Catarina. De sábado, dia 2, a sábado, dia 7, foram avistados 15 baleias franca no litoral. Essa é a época em que as baleias francas vêm com seus filhotes para o litoral catarinense fugindo do inverno na Antártica. A Baleia Franca é a segunda espécie de baleia mais ameaçada de extinção no planeta
É também a época em que os pesquisadores e voluntários do Projeto Baleia Franca (PBF/Brasil) - que há 30 anos se dedica à pesquisa e à conservação desses animais em terras brasileiras - tem mais trabalho. No sábado, dia 2, foram três baleias avistas na Praia de Itapirubá, sede do Projeto. Os animais foram vistos inicialmente na Praia de Itapirubá Sul, e estavam em deslocamento no sentido Norte. Na terça e quarta-feira, dia 5 e 6, a equipe percorreu desde o Cabo de Santa Marta (Laguna) até a Guarda do Embaú (Palhoça), onde foram registradas 12 baleias francas, sendo 10 indivíduos adultos e 1 par de mãe e filhote. O grupo foram registradas nas praias do Cardoso (Cabo Sta. Marta), Ferrugem e Ouvidor (Garopaba) e Guarda do Embaú (Palhoça).
 Imagens registradas no dia 7 de julho. crédito: PBF/Priscila Couto
crédito: PBF/Priscila Couto
Para ajudar no trabalho, esse ano 15 voluntários foram selecionados para integrar a equipe e estão em treinamento desde o dia 22 de junho. Os voluntários são estudantes e recém-formados dos cursos de Biologia e Medicina Veterinária vindos de várias partes do Brasil para aprimorar seus conhecimentos e vivenciar a experiência de pesquisa em campo sobre as baleias franca, cientificamente chamada de Eubalaena australis.
A baleia franca austral é uma espécie bastante dócil, nadando geralmente muito próxima à praia, logo após a arrebentação das ondas. Exposição de cauda e nadadeiras peitorais, além de borrifos em forma de "V", são comportamentos bastante comuns facilmente observados a partir da costa, e que costumam atrair turistas para a observação das francas, que se caracterizam por possuir o corpo predominantemente preto, apresentar nadadeiras peitorais em formato trapezoidal, cauda larga e pontuda. Podem pesar mais de 70 toneladas e atingir 18 metros de comprimento. Os filhotes nascem com cerca de 4,5 a 6 metros de comprimento, pensando 5 a 6 toneladas. A gestação dura um ano, o mesmo tempo em que o filhote fica com a mãe ao nascer.

Fonte:
http://www.oeco.com.br/noticias/25179-e-temporada-de-baleias-no-litoral-catarinense

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Floresta de mangue é desmatada ilegalmente na APARU do Jequiá

Por: Teresinha Victorino
O Manguezal do jequiá abriga três espécies de mangue (o mangue preto[1] o mangue branco[2] e o mangue vermelho[3] ou bravo) e outras variadas de fauna e flora.



[1]Mangue Preto ou Seriba - (Avicennia germinas e Avicennia Schaueriana)
A Siriúba, gênero Avicennia, é uma arvore com casca lisa castanho – claro, que quando raspada mostra cor amarelada. A siriúba tem folhas esbranquiçadas por baixo devido à presença de minúsculas escamas. O sistema radicular dessa espécie e muito interessante, desenvolvem-se horizontalmente, a poucos centímetros abaixo da superfície do sedimento.
Dessas raízes axiais saem ramificações que crescem eretas (geotropismo negativo), expondo-se ao ar como autênticos paliteiros, são os chamados pneumatóforos. Estes apresentam consistência esponjosa, e têm função destacada no processo das trocas gasosas entre a planta e o meio. 
Avicennia (mangue preto) é dos gêneros mais tolerantes, conseguindo sobreviver em locais em que as águas intersticiais chegam a conter 65 à 90 partes de sal por 1.000 partes de água


Floração da Avicenia schaueriana
 
Pneumatóforos da Avicenia schaueriana
Destacando-se as lenticelas 
[2] Mangue Branco (Laguncularia racemosa
O mangue Branco, mangue manso ou tinteira, gênero Lagunculária, é comumente uma árvore pequena, cujas folhas têm pecíolo vermelho com duas glândulas em sua parte superior, junto à lâmina da folha. Possui sistema radicular semelhante ao da siriúba, porém menos desenvolvido, tanto em número quanto em altura dos pneumatóforos. Produz grande quantidade de propágulos, formando verdadeiros cachos (67acemos) que pendem das partes terminais dos galhos.
Apresenta tolerância intermediária, quando comparada com a dos gêneros vermelho e preto.

 Sistema radicular
Laguncularia racemosa
Pneumatóforo da Laguncularia
Floração da Lagunculária 
Racemosa 
 [3] Mangue Vermelho ou Sapateiro (Rhizóphora mangue)
O Mangue Vermelho ou mangue verdadeiro, gênero Rhizophora, é uma arvore de casca lisa e clara, que ao ser raspada mostra cor avermelhada. O sistema radicular do mangue vermelho é formado por rizóforos que partem do tronco e dos ramos, formando arcos com aspecto muito característicos e, ao atingirem o solo ramificam-se profusamente permitindo melhor sustentação da planta num sedimento pouco consolidado. As estruturas reprodutivas ao amadurecerem caem como lanças, apontadas para baixo, vindo a enterrar-se na lama por ocasião da baixa-mar.
É o gênero menos tolerante à presença do sal desenvolvendo-se melhor em locais onde a água contida no sedimento (água intersticial) apresenta teores menores que 50 partes de sal por 1.000 partes de água.
 
Floração da Rhizophora mangle
Rhizóforo da Rhizophora mangle
 
Os manguezais, ou florestas de mangue, podem ser considerados um dos mais produtivos ambientes naturais do Brasil. São ricos em alimento, servindo de abrigo para diferentes espécies animais. Também funcionam como um filtro biológico, retendo terra e outros materiais trazidos pelos rios, evitando que escoem para o mar.
Comparado a outras florestas, os manguezais não são muito ricos em espécies, mas, destacam-se pela grande variedade das populações que vivem neles. Os manguezais são considerados ecossistemas-chave e um dos mais produtivos ambientes naturais do Brasil devido a uma grande variedade de recursos naturais e serviços ambientais que dão suporte a atividades econômicas além de assegurar a integridade ambiental em áreas costeiras tropicais.
Os bosques de mangues são descritos como sendo a transição clássica entre os ecossistemas terrestre e marinho. As ligações entre os ecossistemas são efetuadas por meio de vários cursos de água, pelos quais passa a maioria dos materiais transportáveis entre as biotas associadas. Portanto, o manguezal é freqüentemente caracterizado como um ecossistema aberto, que exerce inúmeras influências sobre os ecossistemas adjacentes.
No artigo Ecossistema Manguezal como compatibilizar a conservação e apropriação pelo capital apresenta uma matéria da revista National Geographic de 01 de fevereiro de 2002, que chama atenção para a importância da preservação das vegetações de manguezais. Segundo ela a "perda das florestas de mangue poderá ser catastrófica em aspectos que só agora estão sendo percebidos. Há mais de 25 anos Jin Eang Ong, professor aposentado de estudos marinhos em Pengang (Malásia), vem observando uma contribuição menos óbvia dos manguezais. Que papel essas florestas poderiam ter em uma mudança climática? Ong e seus colegas estudam o orçamento de carbono dos mangues – o balancete que compara todas as entradas e saídas de carbono no sistema de manguezal.
E constataram que essas florestas são eficientíssimas consumidoras de carbono. Absorvem dióxido de carbono e tiram o carbono de circulação, e assim reduzem a quantidade do gás causador do efeito estufa. “ 
 
Parte da floresta de mangues da APARU do Jequiá é desmatada ilegalmente. Para quem acha que não houve crime ambiental vejam as fotos abaixo.


Obs.: As fotos do desmatamento eu recebi por email.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Novo Código Florestal põe anfíbios em risco

Redução das Áreas de Proteção Permanente em margens de rios pode gerar extinções localizadas, diz estudo  

Chico Siqueira - O Estado de S.Paulo

A redução de 30 para 15 metros das Áreas de Preservação Permanente (APPs) em margens de riachos com até 5 metros de largura, que consta do novo do Código Florestal, vai colocar em risco e pode promover uma extinção localizada de espécies de anfíbios que vivem nos lagos e matas do interior de São Paulo.
Só na região noroeste, 38 espécies de sapos, rãs e pererecas correm risco de desaparecer de determinados hábitats, cujas matas ciliares serão reduzidas em até 50% por força da nova lei.
A constatação está em um estudo realizado em fragmentos de florestas de APPs de seis municípios da região (Pindorama, Palestina, Onda Verde, Matão, Magda e Macaubal) pelo pesquisador Fernando Rodrigues da Silva, autor de tese de doutorado pelo Departamento de Zoologia e Botânica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), câmpus de São José do Rio Preto.
Estudioso dos anfíbios há mais de dez anos, Silva ficou de 2008 a 2009 analisando populações desses animais na região e constatou que, quanto mais distante elas ficam dos fragmentos das florestas, maior o seu índice de mortalidade. "Essas espécies se reproduzem em lagos temporários formados pela chuva e nos brejos dos pastos. E quando chega a época de seca, vão para esses fragmentos de florestas. Ocorre que, quando mais distante está a mata, mais mortes ocorrem."
"Constatamos que há mais riqueza de vida nos lagos mais próximos das matas que naqueles que estão mais distantes. Um lago que está a 50 metros, por exemplo, tem muito mais vida que um que está a 100, 150 metros de distância", continua.
Segundo Silva, com o novo Código, os fragmentos poderão ser desmatados, distanciando-se dos micro-hábitats dos animais. "Espécies desses hábitats vão desaparecer ou perder consideravelmente suas populações", diz.
Outras regiões. O pesquisador - cujo estudo foi publicado na revista Science e aprovado em banca em fevereiro deste ano - chamou a atenção para o fato de que a ameaça não está restrita apenas ao interior de São Paulo.
Segundo Silva, a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica serão os biomas mais prejudicados, porque neles há espécies endêmicas que vivem em micro-hábitats dentro das matas, que vão sofrer com o desmatamento e a seca causada pela redução dessas áreas. "Há estudos que comprovam que os anfíbios que vivem na Mata Atlântica sofrerão um impacto muito forte." 
O pesquisador diz que a lei também punirá espécies que precisam dos fragmentos de APPs para se locomover em busca de reprodução e de alimentos. "Essas áreas, geralmente fragmentos de galerias (às margens dos rios), servem como corredores e abrigo para diversas espécies que procuram matas maiores", diz. "Sem essas pequenas matas, elas terão dificuldade para se locomover e, consequentemente, para se alimentar e se procriar." 

Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110703/not_imp740060,0.php

Criação de abelhas silvestres (meliponicultura) ameaça ou protege colmeias na natureza?

Li uma matéria muito interessante sobre meliponicultura no blog do Germano Woehl em que  fala da ameça que essa cultura expõe às colmeias da natureza devido principalmente à gamância do ser humano que não se importa com as questões sociais muito menos com as ambientais. 
Através da ONG ambientalista criada por ele e sua esposa, Elza Nishimura Woehl, em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, as ações do Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade tratam de questões relacionadas com a defesa do que resta da Mata Atlântica. 
A pesar de não conhecê-los pessoalmente, tenho um enorme respeito e grande admiração pelos seus trabalhos. Tanto que, muitas vezes precisei de esclarecimentos sobre determinados assuntos e recorri ao Germano que mesmo não me conhecendo, dedicou-me atenção, me respondendo e esclarecendo todas as minhas dúvidas. Desde então considero-o um dos meus mestres, que à distância continua me encaminhando assuntos polêmicos e interessantes sobre a biodiversidade da Mata Atlântica e outros temas ambientais pertinentes. 
Como Gestora da Biodiversidade, sei da importância das abelhas na natureza tanto que ao ler essa matéria sobre a meliponicultura e o impacto sobre às colmeias na natureza, imediatamente postei neste blog. Mais tarde porém, recibi um comentário (abaixo) do José Halley Winckler do Blog AME-Rio: Criação de Abelhas sobre a postagem do artigo do Germano. Ao ler o seu texto publicado dias depois, decidi postá-lo abaixo e anexo ao do Germano. Todavia, conforme havia sido previsto pelo Germano "estão modificando geneticamente estas abelhas para produzir mais mel. É o início do fim." Aproveito para esclarecer que os seus artigos sempre incomodam as pessoas que "ganham dinheiro com a atividade altamente devastadora contra a natureza", pelo fato dele ser um eterno defensor do "lado mais fraco, da natureza e do direito das gerações futuras conhecerem o que ainda resta de vida neste planeta". Deixo então ao meus leitores a oportunidade de conhecer distintas visões sobre essa cultura e através de reflexões decidirem se a meliponicultura ameaça ou protege as comeias na natureza.

Criação de abelhas silvestres (meliponicultura) ameaça colmeias na natureza

Germano Woehl Jr
Cepo de uma árvore centenária com 70 cm de diâmetro abatida criminosamente com motosserra para retirada de uma colméia de abelhas silvestres. O local fica em uma área de Mata Atlântica primária, em uma encosta às margens do rio Itajaí, onde foi criada a RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC).
A pior coisa que pode acontecer para uma espécie de planta ou animal é ser alvo da cobiça humana. O fato de uma área ser protegida e vigiada não é empecilho para alguém que deseja saquear algo que pode lhe render alguns trocados.
A bola da vez são as abelhas nativas da Mata Atlântica, ou sem ferrão, cujo comércio tem sido fortemente impulsionado ultimamente com a propaganda de que podem ser exploradas intensivamente para produção de mel, com promessas de ser uma atividade altamente lucrativa. Pelo menos para os saqueadores de colméias em áreas protegidas de matas nativas deve ser, pois já estão ganhando dinheiro sem investimento nenhum.
No meio da área mais preservada da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC), observamos algo inacreditável. Uma árvore centenária, com 70 cm de diâmetro, foi abatida com uma motosserra apenas para saquear uma colmeia de abelhas silvestres. O tronco que estava oco foi seccionado para ser levado apenas a parte onde estava a colméia. Veja as imagens. Não conseguimos identificar a árvore, e obviamente, muito menos a espécie de abelha silvestre, para saber se é ou não espécie ameaçada de extinção.
Detalhe do tronco da árvore abatida onde foi saqueada uma colmeia de abelha silvestre na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí
O que restou da árvore centenária abatida: troncos seccionados com motosserra para retirada da colmeia de abelhas silvestres

Na área onde fica o Centro Interpretativo da Mata Atlântica (CIMA), em Jaraguá do Sul (SC), na parte mais preservada, encontrei recentemente outra árvore abatida com o propósito de saquear uma colmeia de abelhas silvestres.
Isso mostra que o problema é preocupante porque já não temos tantas matas preservadas para proteger a biodiversidade e que podem estar sendo garimpadas as últimas colmeias de certas espécies. Descobri que estas colmeias saqueadas da natureza são vendidas para os criadores por R$ 70,00
Este tipo de apicultura utilizando as abelhas nativas ganhou até um nome especial, meio complicado, de meliponicultura, como uma estratégia de marketing para mostrar que está se explorando algo novo, diferente, mas não é bem assim.
Quando o assunto é domesticação de plantas e animais, o principal equívoco que se comete é ignorar a experiência do passado do ser humano em lidar com as leis da natureza. Esta experiência ainda não acabou. Nesta dura batalha que nossa espécie travou contra a natureza, para explorá-la de modo a aumentar indefinidamente nossa população, que deverá atingir 7 bilhões neste ano, nossos principais alimentos são provenientes de apenas algumas espécies plantas e animais que foram domesticados por volta de 10 mil anos e desde esta época não surgiram grandes novidades.
Mel não é um alimento básico dos humanos. É uma iguaria bastante antiga, mas chegou à mesa das classes menos abastadas somente as últimas décadas, em decorrência da produção comercial de mel em larga. Para esta finalidade, não foi por acaso a escolha da abelha européia Apis melífera, que, com os propósitos de aumentar a produção, foi miscigenada aqui no Brasil com outra abelha do mesmo gênero, de origem africana, que denominamos de africanizada, criando todos estes problemas que estamos convivendo.
Há muitas evidências de que a opção de explorar abelhas nativas da Mata Atlântica para a produção comercial de mel em larga escala foi considerada, testada intensamente e descartada em vários momentos da nossa história nos últimos 300 anos, pelo menos.
A produção de mel com estas abelhas em pequena escala existe há décadas. Quem já não foi abordado nas ruas das grandes metrópoles desde a década de 70, ou antes disso, não sei, por um vendedor ofertando mel de abelha jataí (certamente falso) a um preço 10 ou 20 vezes maior do que o mel de abelha africanizada?
O argumento de que a produção em pequena escala ajudará na geração de renda de pequenos agricultores (agricultura familiar) é pouco provável que ocorra, considerando que já estão com dificuldade em vender ao consumidor final por R$ 5,00 o quilo do mel de abelha africanizada que é relativamente fácil de produzir. Inclusive produtores rurais no entorno de grandes metrópoles ricas do nosso País não estão conseguindo mercado para o mel que produzem de abelhas africanizadas com preços populares. O que dirá, então, vender um mel que custa 10 ou 20 vezes mais, produto de alto valor que é muito mais visado pelos falsificadores – e dificulta a aceitação.
Além de um mercado muito limitado, as dificuldades de manejo são imensas. Haja vista do que ocorre com a apicultura tradicional, que para sobrevivência da colmeia é necessário deixar certa quantidade de mel, mas nem sempre os apicultores, principalmente os inexperientes, respeitam este limite e perdem todas as colmeias nos invernos mais rigorosos. Imagine, então, como será difícil controlar a ganância para um produto que custa R$ 100,00 o quilo e de espécies de abelha que só toleram retirar uma quantidade muito pequena de mel. Portanto, as colmeias saqueadas na natureza vão morrer nas mãos dos criadores em pouco tempo.
As doenças desconhecidas ainda que advirão da criação intensiva de abelhas silvestres é outra grande ameaça às espécies nativas que habitam nossas matas preservadas. Mas pela situação vulnerável em que se encontram hoje, poderão desaparecer da natureza bem antes disso, pelo simples saque das colmeias, como estamos observando.
Na Mata Atlântica ocorre uma interação muito forte entre plantas e animais. A dispersão das sementes e polinização da maioria das plantas são serviços realizados por animais (aves, mamíferos e insetos). Algumas espécies de abelhas silvestres são polinizadores específicos de certas árvores e o declínio ou extinção destes insetos representa a fim para estas árvores e consequentemente pode causar um colapso em todo o ecossistema.

Fonte: http://ra-bugio.blogspot.com/2011/07/criacao-de-abelhas-silvestres.html

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Criação de abelhas silvestres (meliponicultura) protege colméias na natureza

Por: José Halley Winckler


Para evitar que árvores centenárias sejam abatidas criminosamente com machado ou motosserra para retirada de uma colméia de abelhas silvestres, está sendo estimulada a capacitação dos criadores a fim de preservar os ninhos remanescentes nas áreas de Mata Atlântica, especialmente nas encostas íngremes e às margens do rios de SC.
Para que as espécies de plantas ou animais não sejam alvo da cobiça humana, é necessário que seja desenvolvida a consciência de preservação, e isso é alcançado com a informação e capacitação dos envolvidos. Há também a necessidade de ampliar o numero de áreas protegidas e gerando a cultura dos povos margeantes para que ajudem na vigilância desse patrimônio natural evitando que saqueadores destruam espécies raras em troca de alguns trocados.
Atualmente as abelhas nativas da Mata Atlântica, ou sem ferrão, já contam com muitas pessoas que as defendem, criam racionalmente de forma a recuperar pelo menos um pouco do que já foi destruído, sendo que o comércio pode ser impulsionado como forma de evitar que as pessoas interessadas recorram a natureza, pela falta de opção em desenvolver a atividade.
Devido as modernas técnicas desenvolvidas em parcerias por institutos de pesquisa e criadores pelo país inteiro, as ASF já podem ser exploradas intensivamente para produção de mel, pólen, própolis e polinização, gerando renda complementar e desenvolvendo alternativa socioincluidora, fixação do homem ao campo, turismo ecológico, laborterapia, com promessas de ser uma atividade viável. Pelo menos para os criadores racionais que respeitam não somente o meio ambiente, mas também a potencialidade das colméias, pois dentre as espécies são regidas por regras peculiares.
A criação racional e o manejo técnico visam desestimular a captura em áreas protegidas de matas nativas sendo que a captura através de ninhos-iscas e multiplicação racional de ninhos pré-existentes são permitidos por lei.
Meleiros e mateiros, quando não capacitados, removem ninhos de cavidades naturais, na expectativa de usufruir do mel, descartando os enxames, ou para ganhar dinheiro, no entanto causam a supressão dessas abelhas nativas, exaurindo esses recursos para o futuro.
Para evitar o saque de colméias de abelhas silvestres fora de APP ou RPPN, se difunde as técnicas de divisão racional sem a derrubada das árvores, devendo permanecer no local de origem, parte do núcleo que dará origem a um novo enxame, dando continuidade a espécie, e propiciando que as pessoas possam ingressar na atividade.
Com essa técnica, ou com a técnica de captura apenas de campeiras, como descrito no livro A Jandaíra do Monsenhor Humberto Brunning, sendo que o tronco permanece intacto, e o cortiço não é violado, permitindo que enxames nessa condição possam contribuir perenemente com o avanço da meliponicultura.
A poucas décadas muitas espécie de ASF em SC estavam ameaçada de extinção, no entanto com o trabalho árduo de entidades, Universidades, Associações, ONG's e de criadores anônimos, atualmente a maioria delas, já se encontram em números estáveis, com fortes indícios de franca regeneração, sendo que já há muitos relatos de enxames racionais, enxamearem para matas, contribuindo assim a atividade formal para o retorno desses animais para a natureza, pois são criados livres, e podem optar por escolher qualquer local para nidificarem.
Para que o problema de destruição de vegetação nativa não perdure, o que era preocupante até se ter as técnicas adequadas de manejo, é necessário que as entidades oficias de pesquisa e extensão se engajem fortemente na formatação de cursos e na capacitação dos técnicos agrícolas, para que esses possam estar replicando os conhecimentos, junto ao homem que não tem acesso a essas informações, que infelizmente ainda são de difícil acesso a boa parte da população envolvida.
Ainda temos partes de matas preservadas e precisamos proteger a biodiversidade, para que possam garantir a nossa sobrevivência agora e no futuro.
O manejo racional das abelhas nativas é denominado de meliponicultura, pois são abelhas do gênero Apidae (pertencem a subfamília Meliponinae, que é dividida em Tribos Meliponinae (Meliponini, Trigonini, etc...) e, gêneros (Melipona, Tetragonisca, etc...), sendo que em cada região ocorrem as espécies características (M. bilcolor, T. angustula, plebéias, scaptotrigonas, etc...).
Sabe-se que a domesticação de plantas e animais, tem preservado esses seres da extinção, os quais prestam um serviço importante a manutenção da raça humana, no entanto a manipulação genética e o uso de pesticidas podem alterar as leis da natureza.
O Mel além de alimento é uma iguaria bastante antiga, e se espera que chegue não somente à mesa das pessoas mas também faça parte da merenda escolar e da dieta em academias, hospitais e clínicas de recuperação, pois alem de energético de fácil absorção, encerra em si a energia vital das plantas, levando o equilíbrio da natureza para o beneficio da nossa saúde.
Diferente da Apis mellifera scutellata, de origem africana, que denominamos de africanizada, que possuem em média mais de 50.000 indivíduos por colméias, as ASF possuem poucas centenas ou alguns milhares, sendo que por terem numero menor de indivíduos por colméia, há necessidade de que os criadores, tenham um numero maior de caixas, para poderem ter uma produção equivalente, o que ajuda a natureza a sua volta, devido ao serviço ambiental desenvolvido que é a polinização e a dispersão de sementes.
As ASF não causam problemas ou acidentes pois não possuem aguilhão, ou seja não tem ferrão.
Há muitas opções de explorar abelhas nativas em prol da natureza, mas a mais difundida é o diletantismo, hobie ou PET, pois as espécies sociais de ASF são de fácil manejo e a maioria delas se ambientam facilmente ao meio urbano ou próximo as residências rurais, o que é um fator importante para o envolvimento de mulheres e crianças na atividade, gerando inclusão social dos entes da família, especialmente em horários neutros, que estariam ociosos.
No Brasil não há produção comercial de mel de ASF em larga escala, pois faltam estímulos na formação de pasto melífero, subsídios para o aumento dos planteis, e a divulgação ao público consumidor.
A produção de mel com estas abelhas tem sido em pequena escala, mas é imperiosa a organização dos envolvidos em Associações ou cooperativas, para evitar que pessoas desqualificadas perambulem pelas ruas ofertando mel de abelha de ASF a preços módicos, sem respeito as exigências de higiene e procedência, o que macula gravemente a atividade.
Como argumento de que a produção em pequena escala ajudará na geração de renda de pequenos agricultores (agricultura familiar), tem sido a tônica de muitos projetos de meliponicultura do Brasil, dentre eles o INPA, AMavida, Iraquara, Sebrae, Emater, entre outros, considerando que a dificuldade em vender ao consumidor final é devido a falta de conhecimento do produto, sendo que é relativamente fácil contornar esse óbice, se houver uma produção regular, e o mel for inserido em programa alimentares, de forma a gerar a cultura e o conhecimento desses nobres produtos.
Há de se combater energicamente os méis falsificadores, tanto de Apis como de Nativas, pois isso tem desacreditado o produto o que dificulta a aceitação perante o público.
Devido ao pequeno volume produzido o mercado ainda é muito limitado, mas como as dificuldades de manejo já estão sendo resolvidas em breve, com o melhoramento da oferta de floradas, haverá uma maior democratização e acesso a esses produtos.
Acreditamos que via associativismo será fácil controlar a ganância individual de produtores que agiam isolados, pois em grupo com cursos de capacitação e a vigilância coletiva, se viabilizará o controle do processo, sendo que algumas espécies de ASF produzem méis que podem chegar a R$ 100,00 o quilo, mas é vendido em gramas, sendo que a maioria das espécies de abelha nativas, só toleram que seja retirado de cada vez, uma quantidade que não comprometa o consumo de mel do enxame, exigindo um manejo mais criterioso.
Como não há relato de doenças conhecidas em ASF, não se requer o uso de substancias químicas, o que poderia comprometer a qualidade do mel, que até então seria orgânico, agregando valor ao produto.
Segundo estudos científicos, para evitar ameaça às espécies nativas que se encontrem isoladas geograficamente de outras da mesma espécie, que sejam criadas numa mesma área de alcance de vôo, quantidades o suficiente para que não haja endogamia, viabilizando a variabilidade genética do plantel.
Isso não era preocupação para as ASF que habitam as nossas matas preservadas, pois a permuta gênica ocorre de forma natural. Mas pela situação vulnerável em que as matas se encontram hoje, formando ilhas distantes, favorecendo a endogamia de muitos animais, inclusive das ASF, que poderão desaparecer da natureza, a meliponicultura é uma solução para esse problema.
Nas Matas ocorrem uma interação muito forte entre plantas e animais. A dispersão das sementes e polinização da maioria das plantas são serviços realizados por animais (aves, mamíferos e insetos). Algumas espécies de abelhas silvestres são polinizadores específicos de certas árvores e o declínio ou extinção destes insetos representa a fim para estas árvores e conseqüentemente pode causar um colapso em todo o ecossistema, por isso que os governos e a população devem fomentar a meliponicultura.
Fonte: http://www.ame-rio.org/2011/07/criacao-de-abelhas-silvestres.html#comment-form

domingo, 3 de julho de 2011

Japoneses querem nosso atum

Por: Celso Calheiros
 Embarcações e tecnologia japonesas arrendadas a indústria pesqueira potiguar está capturando espécies de atum em grandes profundidades. crédito: Demis Roussos
As diferentes espécies de atum que vivem em alto mar, a profundidades inferiores a 200m, nadavam em paz nos seus cardumes magníficos nas correntes do Atlântico Sul. Afinal, a atividade pesqueira a partir do Rio Grande do Norte capturava menos de 4 mil toneladas ao ano – o que obrigava o Brasil a respeitar cotas apenas para a pesca de espadarte, de acordo com a metodologia da Comissão Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico (ICCAT). O volume é classificado de pouco expressivo para os industriais da pesca no Japão, em especial a Japan Tuna, uma das maiores do setor.
Como o consumo das espécies de atum no Japão é maior do que seus barcos são outorgados a pescar, os objetivos dessa indústria pesqueira passaram a incluir a cota de outros países (ou melhor, a comprar o atum que outros países pescam). Nessa hora, o Brasil apresentou um sócio de qualidades sem par. Apesar dos 8 mil quilômetros de litoral, o Brasil mas não possui uma cultura de pesca oceânica que o obrigue a obedecer quotas, apenas indicadores para pesca de atum (temos cotas apenas para o espadarte). Além do mais, o litoral do Rio Grande do Norte é estrategicamente localizado próximo a cardumes de espécies migratórias (como o atum) e o governo do estado apoia a atividade. O mercado brasileiro é um consumidor iniciante dessa espécie (em comparação com Japão, Estados Unidos e Espanha). Nossas embarcações são consideradas ultrapassadas e a técnica atrasada. É aí que chegam os emissários da Japan Tuna com uma proposta irrecusável.

Gabriel Calzavara, presidente da Atlântico Tuna, na frente de um dos dez barcos arrendados da Japan Tuna. crédito: Demis Roussos 
Em troca do arrendamento de 10 barcos atuneiros com uma tecnologia avançada, os brasileiros vão poder capturar muito mais. O plano é tirar 3 mil toneladas do mar apenas nestes barcos. A Japan Tuna, parceira na empresa criada para o arrendamento das embarcações, é o comprador preferencial. As mudanças foram grandes. Em todo ano de 2009, o Brasil capturou 4.704 toneladas de atum. O presidente da Atlântico Tuna, Gabriel Calzavara, foi nacionalista ao declarar: “O Brasil vai ocupar o seu lugar na pesca de atum”.
Seu plano é avançar sobre um estoque de atuns (albacora branca, albacora bandolim e albacora laje) que nadam em profundidades superiores, não acessados pelas embarcações brasileiras atualmente. Ele planeja deixar seus anzóis no meso pelágico, entre 200m e 500m de profundidade. 

Avaliação
O negócio tem críticos e defensores. Entre os que sentem contrariedade está José Dias Neto, analista ambiental do Ibama, que é mestre em desenvolvimento sustentável pela UnB e engenheiro de pesca. Ele tem bons argumentos: “Nunca na história dos arrendamentos para pesca, o governo brasileiro permitiu um processo tão absurdo”, afirma. E aponta aspectos incomuns nesse tipo de negócio: “A empresa arrendatária é recém criada, tem participação japonesa e não há exigência para que dois terços da tripulação sejam compostos por brasileiros”.
Vale um esclarecimento para o protesto de José Dias. Ao classificar a embarcação como de bandeira brasileira, o barco passa a ter liberdade para pescar em nossa zona econômica exclusiva (nossas 200 milhas marítimas). No entanto, os barcos da Atlântico Tuna são, em última análise, japoneses arrendado a uma empresa brasileira. E essa empresa, como José Dias realça, tem a parceria da Japan Tuna, principal cliente.
O ponto mais sensível, na visão de José Dias, é que os navios passam três meses em alto mar capturando atuns para depois transferi-los ao navio cargueiro japonês, atracado no Porto de Natal, sem que os pescados sejam desembarcados. “Pode ocorrer que não fiquemos sabendo nem quanto foi produzido e, por consequência, quanto exportamos. Isso para não falar do risco do preço subfaturado, pois o valor do atum é diferente de acordo com o tipo peixe”, considera. Os mais visados pela Atlântico Tuna são o albacora bandolim (Thunnus obesus), albacora laje (Thunnus albacares), albacora branca (Thunnus alalunga) e espadarte (Xiphias gladius).
Entre os defensores do acordo entre a gigante japonesa e a empresa potiguar, o mais ilustre é o professor Fábio Hazin, diretor do departamento de Engenharia de Pesca da Univesidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e, atualmente, presidente da ICCAT. Hazin, que detém um  currículo acadêmico de fazer inveja a muito doutor, crê na joint venture como uma oportunidade para absorção de know-how, capacitação de profissionais, geração de empregos, renda, divisas, além fonte de alimentos para o Brasil. Segundo ele, “o negócio assegura ao setor pesqueiro nacional as oportunidades que ele precisa para se desenvolver, de forma sustentável e ambientalmente responsável”.
A professora Carolina Minte-Vera, do núcleo de pesquisas em limnologia, ictiologia e aquicultura do departamento de biologia da Universidade Estdual de Maringá, é uma das especialistas da ICCAT na área de avaliação de estoques pesqueiros. Carolina argumenta que o Brasil precisou aumentar sua participação na pesca de atuns. “Caso o país não pesque sua cota pode chegar a perdê-la para outro país”, argumenta. E segue o raciocino ao lembrar que não possuímos embarcações nacionais em quantidade suficiente e adequadas para a pescaria. “Desta forma, foi necessária a joint venture”.
O avanço da indústria nos estoques pesqueiros, pelos estudos da ICCAT, não será muito diferente do que já vem ocorrendo, aponta o professor Paulo Travassos, cientista integrante do Comitê Permanente de Gestão de Atuns, do Ministério da Pesca e Aquicultura e, por dez anos, correspondente estatístico do Brasil junto à ICCAT. “Haverá um aumento substancial das capturas pelo Brasil (declaradas na ICCAT como brasileiras), mas vale lembrar que quase todos os barcos japoneses baseados em Natal já operavam no Atlântico e, portanto, não gerarão aumento da produção total das espécies neste oceano”, analisa.

Modernização 

As embarcações arrendadas são descritas como tecnologicamente avançadas em comparação às similares atracadas nos portos do Rio Grande do Norte. Os novos atuneiros lançam espinhéis a até 400 metros de profundidade (o espinhel é um fio longo que prende outros fios curtos com anzóis nas extremidades). Os concorrentes nacionais operam a até 80 metros abaixo da lâmina d’água.
Outro aspecto destacado é a capacidade para o congelamento dos pescados na própria embarcação de pesca, a 60°C negativos. A temperatura permite manter o peixe por até um ano, permitindo a escolha do melhor momento para a comercialização. Antes dessa tecnologia ao alcance dos pescadores brasileiros, a forma de manter os peixes congelados era resfriá-los por até 15 dias. São barcos com 60m de comprimento, com capacidade para permanecer três meses em alto mar e capturar 250 toneladas de peixe.
Gabriel Calzavara defende o negócio de arrendamento pela oportunidade que geram de absorção tecnológica. “Só os japoneses pescam nessa profundidade e é com eles que precisamos aprender”, afirma. Ele fala com a experiência que adquiriu na Norpeixe, empresa do setor que, no passado, arrendou embarcações espanholas e hoje possui um sócio espanhol.

  Embarcações podem congelar pescados a menos 60°C e ficar em alto mar por até três meses. crédito: Demis Roussos
 Com relação à pequena quantidade de brasileiros a bordo (apenas quatro, atualmente), Calzavara conta que desenvolveu uma programação para treinamento que, progressivamente, colocará mais conterrâneos em busca desses grandes peixes migratórios. “Temos acordos com o governo e será instalado um centro de pescadores em alto-mar, em Santa Cruz, no litoral potiguar”, anuncia. 
Calzavara frisa, ao falar sobre a Atlântico Tuna, que procura um estoque de peixes ainda não acessado por navios brasileiros. E também reforça que sua atividade será sustentável, seguirá as recomendações dos órgãos de controle do meio ambiente e também da ICCAT. “A partir da Norpeixe (sua outra empresa), temos tradição de seguir todas as regras do setor e de manter um diálogo a universidade”.
No mundo 
Discurso e tecnologia, mercado e possibilidade de crescimento da indústria da pesca criaram uma legião de admiradores e entusiastas do projeto Atlântico Tuna. Os críticos nacionais, por vezes, são chamados de alarmistas. Na imprensa internacional, a visão é diferente. São comuns editoriais na grande imprensa norte-americana  (como no The New York Times) apontando a crise do atum japonês como um problema criado pela indústria de pesca japonesa. 
A visão da imprensa no Japão também é crítica (como registra o The Japan Times Online). Até porque foi lá que o rei dos atuns, o atum-rabilho (Thunnus thynnus) deixou de ser encontrado e teve sua pesca suspensa. O quadro ficou pior depois do desastre nuclear em Fukushima. A indústria de pesca japonesa teve, por necessidade de sobrevivência, que procurar parcerias e acordos em outros países – como previu a bióloga Leandra Gonçalves, coordenadora de projetos de Greenpeace.
 
Ex-ministra da Pesca Ideli Salvati chegou a receber dirigentes da Japan Tuna, em missão de reconhecimento em um país aberto aos negócios
Leandra Gonçalves critica as políticas públicas que estimulam o aumento na quantidade de pescados de uma mesma espécie. Ela cita a Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva (Revizee), feita em 2006, que revela a grande diversidade - mas estoques pequenos - das espécies encontradas no litoral brasileiro. “80% dos estoques pesqueiros comerciais são sobre explorados, isto é, pescados além do limite de recuperação desses próprios estoques”.
O presidente da Atlântico Tuna, Gabriel Calzavara, tem conhecimento do Revizee e concorda com os dados, com uma ressalva: “Os números apontam espécies litorâneas. Nós pescamos grandes espécies migratórias. Esses peixes migratórios não são de nenhum país, só ganham alguma nacionalidade quando capturados. Ganham a nacionalidade da bandeira do barco de pesca”.
Na avaliação de Leandra, falta governança. O Ministério da Pesca e Aquicultura passou a ver apenas o aspecto desenvolvimentista, enquanto o Ministério do Meio Ambiente preocupa-se, sozinho, com a conservação. E para piorar, o ICCAT não tem sido um bom regulador. “O ICCAT não ouve seu próprio corpo técnico e seu histórico é de instituição política, sensível a pressões da indústria pesqueira”, afirma.
Para piorar, a indústria pesqueira nem sempre está nas páginas de economia. Por vezes, aparece nas denúncias sobre mau uso de recursos públicos. Em 2001, a Comissão Pastoral da Pesca e o Ministério Público Federal citaram o economista Gabriel Calzavara como possível envolvido no desvio de verba destinada ao financiamento de pequenas embarcações em Pernambuco e na Paraíba (como publicado nas revistas Época, IstoÉ  e no Diário de Pernambuco). Gabriel Calzavara trabalhou como consultor, de 1995 a 1998. Em seguida, foi para o ministério da Agricultura ocupar o cargo de diretor da Pesca e Aquicultura (época em que não existia o Ministério da Pesca e Aquicultura). “Essas denúncias foram todas investigadas e nunca fui responsabilizado. São denúncias vazias. Ocorrem com qualquer pessoa que ocupe um cargo público”, rebate.
http://www.oeco.com.br/reportagens/25152-japoneses-querem-nosso-atum