sexta-feira, 1 de julho de 2011

O Brasil na II Guerra Mundial

Por: Teresinha Victorino

Sua posição geográfica, — o país ocupa a parte mais estreita do Atlântico próximo à África — a extensão de seu litoral e sua população, foram características que tornaram difícil a neutralidade do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
Pressionado pelos Estados Unidos da América desde 1940, que desejavam uma aliança política e militar, ocupando “preventivamente” o norte/nordeste do Brasil (Belém, Natal e Fernando de Noronha), que se constituía num alvo provável de uma eventual invasão da América do Sul, e instalando ali, bases aéreas em locais ideais para partida de aeronaves que se dirigissem para a África e União Soviética desde o continente americano ao mesmo tempo em que impediam que essas rotas fossem usadas pelos países do Eixo — Alemanha, Itália e Japão. Em Natal (RN), foi instalada a maior base militar americana fora dos EUA, que tinham como objetivo principal garantir a defesa do continente quanto a uma possível invasão da Alemanha e de seus aliados. O Brasil assumia grande importância estratégica para a defesa do continente americano.
Em 1942, houve o rompimento das relações do Brasil com o Eixo, desde então o país assinou diversos acordos com os EUA. Entre eles um que estabelecia bases abrangentes para as relações entre os dois países no quadro de guerra, um de Empréstimo e Arrendamento e outro sobre as exportações de ferro e borracha para os EUA. Outro importante documento firmado entre os dois países foi o Convênio Político e Militar que estabelecia as condições de instalação e operação das bases militares norte-americanas no Brasil.
A primeira agressão alemã a embarcações brasileiras ocorreu em 1941 quando um navio brasileiro foi atacado por um avião militar alemão no Mediterrâneo. Em seguida, o navio brasileiro Santa Clara em condições de bom tempo desaparece próximo às ilhas Bermudas, gerando suspeitas de ter sido afundado por um submarino alemão. Entretanto, no ano seguinte, após o governo brasileiro romper com o Eixo e se posicionar a favor dos Aliados, teve início uma longa série de ataques de submarinos alemães à marinha mercante brasileira. Os sucessivos torpedeamentos dos navios brasileiros e a pressão exercida pelos EUA fizeram com que o Brasil decidisse participar da guerra contra a Alemanha e a Itália.
A Força Expedicionária Brasileira – FEB, composta por mais de 25 mil homens, desembarcou em Nápoles, Itália. Com importantes conquistas, os brasileiros da FEB sofreram preconceitos durante e após a guerra. A metade dos oficiais subalternos da Força era constituída de soldados recém-recrutados, oriundos da zona rural e de baixo nível de escolaridade e de saúde, eram pobres e pouco instruídos e a outra metade era de reservistas, pouquíssimos eram os soldados profissionais, com longo tempo de serviço. Grande parte dos oficiais da ativa conseguiu escapar da guerra através de contatos sociais influentes. Dos 25 mil homens enviados para a luta, menos de 1.500 eram voluntários.
A maioria dos treinos realizados com nossa artilharia foi feito por instrutores americanos, que a treinaram aqui no Brasil usando o mesmo tipo de material que seria empregado na linha de frente. Entretanto a nossa infantaria não teve a mesma sorte. A apenas um regimento dos três da infantaria recebeu treinamento adequado com a realidade da luta que seria travada, os outros dois partiram para a guerra praticamente sem instrução. Segundo o chefe do Estado-Maior da Força Expedicionária Brasileira, a FEB não realizou nenhum treino em conjunto, a fim de detectar falhas na sincronização das manobras.
As tropas brasileiras deram apoio ao exército norte-americano. Os seus mais importantes feitos na II Guerra foram: em primeiro lugar, ter servido como base aérea das grandes aeronaves dos EUA para todas as frentes de batalha; fornecer alimentos e matérias-primas para o esforço industrial norte-americano; cooperar com o patrulhamento do Atlântico e ajudar a impedir o tráfego de navios e submarinos do Eixo naquela área; e disponibilizar uma divisão de infantaria para lutar na Itália. Além dos dois grandes feitos da FEB nas operações da Ilália, o primeiro foi a tomada de Montese, em 14 de abril de 1945, em que ela atraiu para a sua área a maior parte do fogo defensivo de artilharia do inimigo, aliviando consideravelmente a pressão sobre a 10.ª Divisão de Montanha, que liderava a ofensiva. E a segunda foi a captura em combate da 148.ª Divisão de Infantaria alemã e dos remanescentes das Divisões Itália em Monte Rosa, ajudando assim a apressar o fim da guerra na Itália, que se deu poucos dias depois.
Comparadas aos outros combatentes, foram baixas as perdas brasileiras. As maiores baixas foram sofridas pelos russos, que perderam cerca de 20 milhões de cidadãos e 5 milhões de combatentes mortos. A FEB teve 443 mortos, cerca de 1500 feridos e aproximadamente 8 mil doentes, a maioria vítima de hipotermia, onde a temperatura chegou a 20° C negativos nas montanhas dos Apeninos durante o inverno. Os torpedeamentos no mar mataram cerca de 900 pessoas.  

Brasileiros sofrem segregação racial e preconceito durante e depois da II Guerra
A única tropa brasileira racialmente integrada que combateu nos campos da Itália e em outros front foi a 1.ª Divisão de Infantaria da FEB, que lutou com divisões de infantaria das mais diversas nacionalidades, entre elas a norte-americana, inglesa e francesa. Entre os americanos destacava-se a política oficial de segregação em que brancos e negros jamais lutavam juntos. Para os negros havia uma unidade específica (a 92.ª Divisão de Infantaria) e uma outra para os descendentes de japoneses (o 442.º Regimental Combat Team). Nessas formações, os cargos de oficial superior eram predominantemente ocupados por brancos, às outras etnias integravam “o grosso” do efetivo da tropa.
No Brasil, a FEB recorreu de ordens para excluir todos os soldados que não fossem brancos dos desfiles e demonstrações públicas ou, no caso de isso não ser possível, colocá-los no interior das fileiras, onde pouco seriam vistos. Houve também a total exclusão dos negros na formação de guardas de honra, principalmente em eventos destinados à recepção de autoridades estrangeiras. Enfim, a “integração” da FEB sofria o mesmo racismo presente na então sociedade brasileira da época.
Os combatentes da FEB que conquistaram numerosas glórias militares demonstraram coragem, espírito de sacrifício, derrotaram a lama, o frio, mas não o preconceito e a inveja ao voltarem para a casa.  Ao retornarem ao país, os pracinhas brasileiros foram recepcionados com muita euforia e prestígio, mas isso durou muito pouco tempo, sendo logo substituído por muito sofrimento com a readaptação à realidade da vida civil. Traumas psicológicos de todo tipo e a rotina da luta pela sobrevivência no mercado de trabalho dificultaram o retorno de milhares de brasileiros que estiveram nos campos de batalha à vida normal. O Exército brasileiro fez de tudo para marginalizar e desconsiderar quem esteve na linha de frente.
Ao governo varguista que era simpatizante do nazismo não interessa nem o embarque, nem o sucesso da FEB e fez o possível para erradicar suas memórias, justamente devido ao papel que seus membros exerceram na luta contra o nazi-fascismo, desprezando, esquecendo e inutilizando toda a experiência militar adquirida na luta contra o Eixo, indo de encontro ao conselho americano de que a FEB fosse vista com um exemplo de renovação e modernização de nosso Exército.
Em 1947 surgiram as primeiras leis de amparo aos ex-combatentes, entretanto na ânsia de se livrarem da FEB, os pracinhas foram rapidamente desmobilizados antes mesmo de serem submetido a exames médicos fundamentais para  a obtenção de pensões e auxílios no caso de doenças ou ferimentos adquiridos no front. Para provar incapacidade decorrente do serviço na linha de frente e, receber as pensões, os pracinhas tiveram de se submeter a todo tipo de vexames e sacrifícios, os quais seriam dispensáveis se sua desmobilização tivesse ocorrido de forma racional e planejada.
Finalmente na década de 60, foi criada a Lei da Praia que daria direito aos auxílios, pensões e promoções para aqueles que tivessem sido enviados à "zona de guerra", como os que lutaram na Itália.  Mas acontece que, em todo o litoral do Brasil, vias navegáveis e cidades economicamente importantes se encontravam dentro dessa "zona de guerra". Dessa forma, o sujeito que estava de sentinela num fox hole (abrigo individual) nos Montes Apeninos, suportando temperaturas subárticas e todos os riscos de morte e invalidez, estava na "zona de guerra" tanto quanto o bancário ou o PM que havia sido transferido para uma cidade litorânea do Brasil. Ou seja, se essa lei auxiliou de fato os ex-combatentes, beneficiou também um enorme conjunto de servidores públicos, civis e militares que, ainda hoje, gozam de polpudas pensões, que fazem deles autênticos "marajás" entre os aposentados do serviço público.

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