Por: Teresinha Victorino
A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos em diversidade das Américas. Ele possui um conjunto de ecossistemas diversificados entre eles o manguezal, “que forma uma estreita faixa de florestas banhadas pelos estuários dos rios que se encontram com o mar (Walter, 1970)”[1]. Característico de regiões tropicais e subtropicais, o manguezal está associado às margens de baías, enseadas, barras, desembocaduras de rios, lagunas e reentrâncias costeiras, é considerado um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho e, assim, sujeito ao regime das marés, que proporciona ao solo por ser uma área de baixa energia, águas calmas que possibilitam estabilização de sedimentos e desova de peixes.
“A alta atividade hidrológica da região, seja de rios ou maré, gera uma riqueza de matéria orgânica que dá início a uma intricada teia trófica[2] complexa e diversificada. Portanto, longe de se tratar de um ambiente pobre, o ecossistema manguezal é um ambiente diverso em espécies, que incluem desde microorganismos associados às raízes das espécies arbóreas, invertebrados marinhos, peixes e aves que utilizam o manguezal como ninhal”[3]. Sua riqueza biológica faz com que essas áreas sejam os grandes "berçários" naturais, tanto para as espécies características desses ambientes, como para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras durante, pelo menos, uma fase do ciclo de sua vida. “Embora, os manguezais sejam comuns no Sudeste Asiático, onde supostamente se originaram, eles existem no mundo todo – os estuários da costa brasileira são pródigos.” O Brasil tem uma das maiores extensões de manguezais do mundo: desde o Cabo Orange no Amapá até o município de Laguna em Santa Catarina. Comparado a outras florestas, os manguezais não são muito ricos em espécies, mas, destacam-se pela grande variedade das populações que vivem neles. Os manguezais são considerados ecossistemas-chave e um dos mais produtivos ambientes naturais do Brasil devido a uma grande variedade de recursos naturais e serviços ambientais que dão suporte a atividades econômicas além de assegurar a integridade ambiental em áreas costeiras tropicais.
As áreas de manguezais, juntamente com os bancos de sargaços e os recifes de corais, figuram entre os ecossistemas mais produtivos no mundo. Pesquisas apontam o manguezal como indispensável ao fluxo de energia e nutrientes nas costas tropicais.
Pela natureza de seus componentes, são encontrados nos manguezais representantes de todos os elos da cadeia alimentar. Por esta razão, pode-se explicar a enorme importância econômica dos manguezais na pesca e aqüicultura costeira e para a silvicultura. Além disso, o manguezal é rico em espécies de interesse econômico, tais como camarões, caranguejos, ostras e diversas espécies de peixes.
Os bosques de mangues são descritos como sendo a transição clássica entre os ecossistemas terrestre e marinho. As ligações entre os ecossistemas são efetuadas por meio de vários cursos de água, pelos quais passa a maioria dos materiais transportáveis entre as biotas associadas. Portanto, o manguezal é freqüentemente caracterizado como um ecossistema aberto, que exerce inúmeras influências sobre os ecossistemas adjacentes.
Os manguezais exercem ainda outras funções, consideradas como benefícios ou serviços gratuitos à comunidade, tais como: proteção das áreas de terra firme contra tempestades e ações erosivas das marés; retenção de poluentes; retenção de sedimentos finos carreados pelas águas, favorecendo a manutenção dos canais de navegação; manutenção e conservação de estoques pesqueiros do estuário, garantindo a piscosidade na região; recreação e lazer (pesca esportiva, turismo ecológico, etc).
A proteção e a conservação dos manguezais são de fundamental importância para a preservação de sua estrutura vegetal, animal e ecológica e para a produção pesqueira, pois de todos os ecossistemas, o manguezal é um dos mais produtivos e também o mais vulnerável aos efeitos do desenvolvimento econômico e do crescimento desordenado das populações humanas.
No artigo Ecossistema Manguezal como compatibilizar a conservação e apropriação pelo capital apresenta uma matéria da revista National Geographic de 01 de fevereiro de 2002, que chama atenção para a importância da preservação das vegetações de manguezais. Segundo ela a "perda das florestas de mangue poderá ser catastrófica em aspectos que só agora estão sendo percebidos. Há mais de 25 anos Jin Eang Ong, professor aposentado de estudos marinhos em Pengang (Malásia), vem observando uma contribuição menos óbvia dos manguezais. Que papel essas florestas poderiam ter em uma mudança climática? Ong e seus colegas estudam o orçamento de carbono dos mangues – o balancete que compara todas as entradas e saídas de carbono no sistema de manguezal. E constataram que essas florestas são eficientíssimas consumidoras de carbono. Absorvem dióxido de carbono e tiram o carbono de circulação, e assim reduzem a quantidade do gás causador do efeito estufa.
“O fim de um beija-flor não é o fim do mundo. Mas é, pensando bem, um dos mais anunciadores disto. Certa forma de beleza viva se extingue. Mas é toda a floresta, todo o meio físico multissecular que se vai com ela, e, o resultado final, já sabemos qual seja. Questão de esperar ou de impedir?”
(Carlos Drummond de Andrade, retirado do livro Manguezal do Jequiá - Fauna & Flora de José Luiz de Castro Ferreira.)
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