Darcy Ribeiro (1922) mineiro de Montes Claros, formado Antropologia em São Paulo (1946), dedicou seus primeiros anos de vida profissional ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia. Neste período fundou o Museu do Índio e criou o Parque Indígena do Xingu. Escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa da causa indígena.
Nos anos seguintes (1955) dedicou-se à educação primária e superior. Criou a Universidade de Brasília e foi Ministro da Educação. Mais tarde foi Ministro-Chefe da Casa Civil e coordenava a implantação das reformas estruturais, quando sucedeu o golpe militar de 64, que o lançou no exílio.
Retornou ao Brasil em 1976, voltando a dedicar-se à educação e à política. Elegeu-se vice-governador do estado do Rio de Janeiro, foi secretário da Cultura e Coordenador do Programa de Educação, com o encargo de implantar 500 CIEPs que são grandes escolas de turno completo para 1000 crianças e adolescentes. Criou, então, a Biblioteca Pública Estadual, a Casa França-Brasil, a Casa Laura Alvin, o Centro Infantil de Cultura de Ipanema. E o Sambódromo, em que colocou 200 salas de aula para fazê-lo funcionar também como uma enorme escola primária.
Elegeu-se senador da República, função que exerceu defendendo vários projetos, entre eles, uma lei de trânsito para defender os pedestres contra a selvageria dos motoristas; uma lei dos transplantes que, invertendo as regras vigentes, torna possível usar órgãos dos mortos para salvar os vivos; uma lei contra o uso vicioso da cola de sapateiro que envenena e mata milhares de crianças. Combateu energicamente no Congresso para que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação fosse mais democrática e mais eficaz. Publicou pelo Senado a revista Carta, onde os principais problemas do Brasil e do mundo são analisados e discutidos. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.
Conta entre suas façanhas maiores haver contribuído para o tombamento de 98 quilômetros de belíssimas praias e encostas, além de mais de mil casas do Rio antigo. Colaborou na criação do Memorial da América Latina, edificado em São Paulo com projeto de Oscar Niemeyer.
No último ano de vida, Darcy Ribeiro dedicou-se a organizar a Fundação Darcy Ribeiro, com sede na antiga residência em Copacabana (no Rio de Janeiro).
Vítima de câncer, Darcy Ribeiro morreu aos 74 anos.
Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente
e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.
(DARCY RIBEIRO)
O Brasil cresceu visivelmente nos últimos 80 anos.
Cresceu mal, porém. Cresceu como um boi mantido, desde bezerro,
dentro de uma jaula de ferro.
Nossa jaula são as estruturas sociais medíocres,
inscritas nas leis, para compor um país da pobreza
na província mais bela da terra.
Sendo assim, no Brasil do futuro, a maioria da gente nascerá e
viverá nas ruas, em fome canina e ignorância figadal,
enquanto a minoria rica, com medo dos pobres,
se recolherá em confortáveis campos de concentração,
cercados de arame farpado e eletrificado.
Entretanto, é tão fácil nos livrarmos dessas teias,
e tão necessário, que dói em nós...
A nossa conivência culposa.
( DARCY RIBEIRO )
Nenhum comentário:
Postar um comentário