quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Descoberta Biológica do Brasil

Por Edson Struminski, Eng. Florestal,
Dr. em Meio Ambiente e Desenvolvimento – Brasil
 Litrografia de Loeillot (1840-1876)

A descoberta de um novo mundo habitado por povos e por uma natureza então desconhecidos foi o fato mais extraordinário e decisivo da história moderna ocidental. Este fato desencadeou uma vasta elaboração de discursos e visões sobre esta nova natureza descoberta.
A carta de Pero Vaz de Caminha, cronista da descoberta portuguesa do Brasil, ao rei D. Manuel costuma ser considerada o primeiro documento literário sobre o Brasil. Caminha era um letrado, de formação humanista, assim ele se mostra muito mais interessado em descrever os povos indígenas e seus costumes que a natureza, o ambiente e os recursos do mundo que via, algo que eventualmente até teria até mais interesse para a Coroa portuguesa. Mesmo assim é no documento de Caminha que aparecem os primeiros registros de aves, peixes, repteis e também uma descrição, no mínimo acertada da nova terra. “Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa” (1).
Do levantamento que Cândido de Mello Leitão, que resgatei, elaborado em 1937 sobre a história da biologia no Brasil (2), podemos constatar que esta ciência estava em estágio embrionário nos anos 500. Assim, o que tivemos no Brasil, por certo tempo, foram cronistas, mais ou menos espantados com a natureza brasileira, mas que se limitaram a descrever animais e plantas vistos de passagem pelo país. É o caso de Caminha e também de Américo Vespúcio, Francisco Pigafetta (cronista da viagem de Fernão de Magalhães), do espanhol Cabeza de Vaca e de Ulrich Schmidel e Hans Staden, alemães que chegaram a viver alguns anos no Brasil.
Mas existem exceções.  Mello Leitão considera o jesuíta José de Anchieta o fundador da história natural do Brasil. É de 1560 uma epístola de Anchieta que descreve, ainda com uma certa dose de fantasia, a flora e a fauna brasileira. Mas ele segue um método, o método quinhentista, que classifica a fauna em “aquáticos, terrestres e aéreos”. Anchieta refere-se, desta forma, a 25 animais, que vão de grandes mamíferos a invertebrados, incluindo, ainda, sete espécies de serpentes, a respeito das quais descreve sintomas de envenenamento e tratamentos, além de diversos mamíferos que eram usados, então, para alimentação pelos indígenas.
Na parte botânica da sua epístola, também segundo o molde quinhentista, Anchieta descreve “plantas alimentícias” entre as quais raízes e frutos ainda hoje utilizados no Brasil como a mandioca ou o caju e medicinais, incluindo aí seu uso pelos indígenas. Anchieta realiza assim, com sua descrição de plantas e animais, juntamente com seu uso humano, um primórdio do que hoje entenderíamos por etnofauna e etnobotânica.
Mello Leitão prossegue descrevendo a “História da Província de Santa Cruz”, do português Pero de Magalhães Gandavo, que ele considera inferior ao trabalho de Anchieta, mas que ainda assim acrescenta novidades em um capítulo sobre avifauna, onde descreve animais vistosos como gaviões e papagaios.
Do franciscano francês André Thevet, tem-se novamente o relato, sem método, dos viajantes da época. Os franceses tiveram uma curta aventura colonialista no Brasil e Thevet vem falar das “singularidades” desta França Antartica, entretanto é um apanhado inferior ao de Anchieta, muito embora sempre apareçam descrições de novas espécies. Do mesmo modo é o trabalho de Jean de Lery, que afirmou viver com os Tupinambás por quase um ano e foi rival de Thevet, a quem contestou em seus escritos. Ele descreve “animais, caça, grandes lagartos e outros seres monstruosos da América” e aves “boas de comer” e outras de plumagens belas, tão apreciadas na Europa na época, mas segundo Mello Leitão, seu trabalho é inferior aos de seus antecessores. Lery demonstra conhecer umas vinte plantas, entre as quais o fumo e o pau-brasil (Caesalpinia echinata), esta última a árvore que seria o primeiro “produto de exportação”, na verdade contrabando, da nova nação.
Novamente é a partir de outro jesuíta, Fernão Cardim, que entre 1583 e 93 esteve no Brasil que surge a produção de um documento de valor sobre a biologia brasileira em “Do clima e Terra do Brasil”. Neste documento surge uma lista mais completa de mamíferos e uma descrição mais completa dos animais, que a dos antecessores. Da mesma forma, a descrição botânica de Cardim é mais completa, com dez capítulos onde aparecem árvores que dão fruto, outras medicinais, as que dão óleo ou madeira, as ervas comestíveis e medicinais, além de canas (bambusáceas) e as espécies de mangue.
Com Gabriel Soares de Souza surge uma interessante novidade. Vindo ao Brasil em 1567 para tornar-se senhor de engenho, Soares de Souza fixa-se na região nordeste do país, ao contrário dos cronistas anteriores, que escreveram sobre a natureza do sul e sudeste brasileiro. Escreve um “Tratado descritivo do Brasil”, com cinqüenta e nove capítulos para animais e quarenta e um para plantas. Embora seu livro misture, segundo Mello Leitão, observações judiciosas com lendas e confusões, ainda assim considera seu livro como mais um dos marcos confiáveis sobre o estudo biológico no Brasil.
Warren Dean (3), considera que os esboços e relatos produzidos no século XVI no Brasil eram esforços amadores e que o interesse da Metrópole pela vegetação e pela vida animal da colônia era limitado. Segundo ele, os colonizadores preferiram ignorar as espécies nativas e efetuar transferências bióticas já conhecidas por eles para o Brasil a partir de regiões semi-tropicais européias, ou de regiões tropicais de suas colônias asiáticas ou africanas. Este fato é real e mesmo hoje, a base da agropecuária brasileira é feita a partir destas espécies introduzidas. Mas a análise de Dean não é totalmente correta.
Certamente o intento português de conquistar e transformar o novo território se evidenciaria no pragmatismo das relações dos colonizadores com o novo ambiente. Em um primeiro momento, o desprezo ou escravização da população nativa e destruição dos ecossistemas naturais seria realizado para viabilizar a implantação da monocultura do açúcar.
Mas para sermos justos com os portugueses, da leitura de Mello Leitão percebe-se que entre os europeus, foram na verdade, os letrados deste país, religiosos ou leigos, que produziram os conhecimentos mais interessantes, do ponto de vista biológico, da natureza do Brasil nos anos 500. Eles utilizaram as ferramentas de produção de conhecimento, que incluía a classificação de animais e plantas, compatíveis com o status científico europeu da época. Possivelmente estes cronistas descreveram inclusive as primeiras espécies extintas no Brasil por conta da exploração predatória dos colonizadores.
De qualquer modo, o conhecimento biológico levantado por portugueses teve destino diferente daquele produzido por outros europeus que estiveram no Brasil, o que mostra, de fato, um descaso com o trabalho destes primeiros cronistas. Enquanto alemães e franceses publicavam, sem maiores dificuldades, seus relatos de viagens e observações, portugueses tinham seus originais desprezados ou roubados. Anchieta só foi publicado em 1799, Gabriel Soares de Souza em 1825 e Fernão Cardim teve seus escritos tomados pelo corsário Francis Cook que o aprisionou em uma viagem a Portugal e vendeu seus escritos, que foram publicados por Samuel Purchas, na Inglaterra, em 1625.

PEREIRA, P. R. Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1999.
MELLO LEITÃO, C. A biologia no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1937.
DEAN, W. A ferro e a fogo, a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

Fonte: http://www.historiaambiental.org/index.php?option=com_content&view=article&id=216:a-descoberta-biologica-do-brasil-&catid=86:artigos&Itemid=278                                                                                                            

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Vida nos oceanos pode enfrentar extinção sem precedentes, diz estudo

A pesquisa observou, por exemplo, que alguns poluentes permanecem nos oceanos por estarem presos a pequenas partículas de plástico que foram parar no leito do oceano.
Com isso, há um aumento também do poluentes que são consumidos por peixes que vivem no fundo do mar.
Partículas de plástico são responsáveis também por transportar algas de parte a parte, contribuindo para a proliferação de algas tóxicas, o que também é provocado pelo influxo para os oceanos de nutrientes e poluentes provenientes de áreas agrícolas.


Richard Black
BBC News

Um novo estudo indica que os ecossistemas marinhos enfrentam perigos ainda maiores do que os estimados até agora pelos cientistas e que correm o risco de entrar em uma fase de extinção de espécies sem precedentes na história da humanidade.
O levantamento foi feito realizado por especialistas que integram o Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos (IPSO, na sigla em inglês), uma entidade formada por cientistas e outros especialistas no assunto.
Eles concluíram que fatores como a pesca excessiva, a poluição e as mudanças climáticas estão agindo em conjunto de uma forma que não havia sido antecipada.
A pesquisa reuniu especialistas de diferentes disciplinas, incluindo ambientalistas com especialização em recifes de corais, toxicologistas e cientistas especializados em pesca.
‘‘As conclusões são chocantes. Estamos vendo mudanças que estão acontecendo mais rápido do que estávamos esperando e de formas que não esperávamos que fossem acontecer por centenas de anos’’, disse Alex Rogers, diretor científico do IPSO e professor da Universidade de Oxford. 

Plástico
Entre as mudanças que estão ocorrendo antes do esperado estão o derretimento da camada de gelo no Ártico, na Groenlândia e na Antártida, o aumento do nível dos oceanos e liberação de metano no leito do mar.
O estudo observou também que existem efeitos em cadeia provocados pela ação de diferentes poluentes.
A pesquisa observou, por exemplo, que alguns poluentes permanecem nos oceanos por estarem presos a pequenas partículas de plástico que foram parar no leito do oceano.
Com isso, há um aumento também do poluentes que são consumidos por peixes que vivem no fundo do mar.
Partículas de plástico são responsáveis também por transportar algas de parte a parte, contribuindo para a proliferação de algas tóxicas, o que também é provocado pelo influxo para os oceanos de nutrientes e poluentes provenientes de áreas agrícolas.
O estudo descreveu ainda como a acidificação do oceano, o aquecimento global e a poluição estando agindo de forma conjunta para aumentar as ameaças aos recifes de corais, tanto que 75% dos corais mundiais correm o risco de sofrer um severo declínio. 

Ciclos
A vida na Terra já enfrentou cinco ”ciclos de extinção em massa” causados por eventos como o impacto de asteróides e muitos cientistas que o impacto de diferentes ações exercidas pelo homem poderá contribuir para um sexto ciclo.
”Ainda contamos com boa parte da biodiversidade mundial, mas o ritmo atual da extinção é muito mais alto (do que no passado) e o que estamos enfrentando é, certamente, um evento de extinção global significativa”, afirma o professor Alex Rogers.
O relatório observa ainda que eventos anteriores de extinção em massa tiveram ligação com tendências que estão ocorrendo atualmente, como distúrbios no ciclo de carbono, acidificação e baixa concentração de oxigênio na água.
Os níveis de CO2 que estão sendo absorvidos pelos oceanos já são bem mais altos que aqueles registrados durante a grande extinção de espécies marinhas que ocorreu há 55 milhões de anos, afirma a pesquisa.
Entre as medidas que o estudo aconselha sejam tomadas imediatamente estão o fim da pesca predatória, especialmente em alto mar, onde, atualmente há pouca regulamentação; mapear e depois reduzir a quantidade de poluentes, como plásticos, fertilizantes agrícolas e detritos humanos; e reduzir de forma acentuada os gases do efeito estufa.
As conclusões do relatório serão apresentadas na sede da ONU, em Nova York, nesta semana, durante um encontro de representantes governamentais sobre reformas na maneira de gerenciar os oceanos.

Fonte: 
http://www.globalgarbage.org/praia/2011/06/23/vida-nos-oceanos-pode-enfrentar-extincao-sem-precedentes-diz-estudo/

domingo, 19 de junho de 2011

Literatura: O Naturalismo

Por Marina Cabral
Equipe Brasil Escola

O Realismo e o Naturalismo apresentam semelhanças e diferenças entre si. O Realismo retrata o homem interagindo com seu meio social, enquanto o Naturalismo mostra o homem como produto de forças “naturais”, desenvolve temas voltados para a análise do comportamento patológico do homem, de suas taras sexuais, de seu lado animalesco. Os naturalistas acreditavam que o indivíduo é mero produto da hereditariedade e seu comportamento é fruto do meio em que vive e sobre o qual age.
A perspectiva evolucionista de Charles Darwin inspirava os naturalistas, esses acreditavam ser a seleção natural que impulsionava a transformação das espécies.
Assim, predomina nesse tipo de romance o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõe a personalidade humana. Ao lado de Darwin, Hippolyte Taine e Auguste Comte influenciaram de modo definitivo a estética naturalista.

Os autores naturalistas criavam narradores oniscientes, impassíveis para dar apoio à teoria na qual acreditavam. Exploravam temas como o homossexualismo, o incesto, o desequilíbrio que leva à loucura, criando personagens que eram dominados por seus instintos e desejos, pois viam no comportamento do ser humano traços de sua natureza animal. No Brasil, a prosa naturalista foi influenciada por Eça de Queirós com as obras
O crime do padre Amaro e O primo Basílio, publicadas na década de 1870. Aluísio de Azevedo com a obra O mulato, publicada em 1881, marcou o início do Naturalismo brasileiro, a obra O cortiço, também de sua autoria, marcou essa tendência. Em O cortiço a face completa do Naturalismo pode ser vista, nessa obra o indivíduo é envolvido pelo meio, o cenário é promíscuo e insalubre e retrata o cruzamento das raças, a explosão da sexualidade, a violência e a exploração do homem. Além de Aluízio de Azevedo e Eça de Queirós, existem outros escritores que se destacaram como Júlio Ribeiro com o romance A carne (1888); Adolfo Caminha com A normalista (1893) e O bom-crioulo; Raul Pompéia com O Ateneu (1888).

Fonte:
http://www.brasilescola.com/literatura/o-naturalismo.htm

Castro Alves - O poeta dos escravos

Castro Alves - Lirismo X Objetividade

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola
Antônio de Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847 na fazenda Cabaceiras, interior da Bahia. Concluídos os estudos secundários no Ginásio Baiano, onde começou a escrever seus primeiros versos, ingressou-se, em 1.862, na Faculdade de Direito do Recife, onde despertou tamanha notoriedade por seu dom poético.
Sua obra compreende: Espumas Flutuantes, A revolução de Minas (teatro), A cachoeira de Paulo Afonso, Os Escravos.
Esse mártir da Literatura pertenceu à chamada Terceira Geração do Romantismo. Sua obra poética subdivide-se em duas vertentes: a lírico-amorosa, na qual ele ainda conserva resquícios do subjetivismo cultuado pelos poetas da segunda geração.
Contudo, a figura da mulher já não é mais idealizada, intocável, e sim vista por um plano mais realista, resultante de um amor materializado.
Pode-se dizer que Castro Alves traz em seu labor poético, uma característica individualista que o difere de seus antecessores: Seria algo que talvez prenunciasse e se convertesse em um pré-parnasianismo, que iria emergir posteriormente na voz de Olavo Bilac.
Tal característica era representada por uma intensa sensualidade que remontava os moldes do Classicismo e por um espírito norteador baseado em traços da Mitologia Greco-Latina.
Dando ênfase à outra vertente, chamada de “poesia social”, trazia um “falso subjetivismo”, ou seja, sua característica marcante pautava-se pela denúncia e insatisfação frente ao cenário político da época, mais precisamente da época da escravidão brasileira.
Através dessa temática, ele conseguiu despertar um espírito crítico diante das consciências que notadamente anseavam pelo desejo da libertação da escravatura.
É importante ressaltar que Castro Alves foi muito influenciado por Vítor Hugo, o escritor francês autor de “Os Miseráveis”, cuja temática de sua obra representou a metáfora do pássaro Condor, uma ave que habita as montanhas do Andes, de hábitos solitários, capaz de enxergar longas distâncias, simbolizando o caminho da justiça e da liberdade.

Vejamos sua magnífica obra, a lírico-amorosa e a social:

Marieta
Como o gênio da noite, que desata
o véu de rendas sobre a espada nua,
ela solta os cabelos... bate a lua
nas alvas dobras de um lençol de prata.

O seio virginal que a mão recata,
embalde o prende a mão... cresce, flutua...
Sonha a moça ao relento... Além na rua
preludia um violão na serenata.

Furtivos passos morrem no lajedo...
Resvala a escada do balcão discreta...
matam lábios os beijos em segredo...

Afoga-me os suspiros, Marieta!
Oh surpresa! Oh! Palor! Oh! Pranto! Oh! Medo!
Ai! Noites de Romeu e Julieta!...

Por meio da mesma, percebemos a figura feminina denotando um amor mais real, despertando a sensualidade e a concretização do contato físico. Diferente das donzelas virginais e inacessíveis representadas pela segunda geração, a mulher se entrega aos encantos de seu admirador, levando-nos a crer que o encontro amoroso foi realmente consumado.

Vozes d'África
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...

Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
— Infinito: galé! ...
Por abutre — me deste o sol candente,
E a terra de Suez — foi a corrente
Que me ligaste ao pé...

O cavalo estafado do Beduíno
Sob a vergasta tomba ressupino
E morre no areal.
Minha garupa sangra, a dor poreja,
Quando o chicote do simoun dardeja
O teu braço eternal.
Minhas irmãs são belas, são ditosas...
Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas
Dos haréns do Sultão.
Ou no dorso dos brancos elefantes

Embala-se coberta de brilhantes
Nas plagas do Hindustão.

Por tenda tem os cimos do Himalaia...
Ganges amoroso beija a praia
Coberta de corais ...
A brisa de Misora o céu inflama;
E ela dorme nos templos do Deus Brama,
— Pagodes colossais...
[...]

Pode-se dizer que esse é quase um poema épico pela sua extensão, no qual notamos um lirismo pungente e o traço principal que o caracteriza - o verdadeiro repúdio à situação social na época da escravidão, como é explicitado por meio dos seguintes versos:

Minhas irmãs são belas, são ditosas...
Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas
Dos haréns do Sultão.
Ou no dorso dos brancos elefantes

Ao ressaltar o termo “hárens do Sultão”, Castro Alves denuncia a condição submissa das escravas perante ao seu Senhor, visto que as mesmas eram “usadas”sem a mínima consideração por parte de quem as considerava como mero objeto de prazer. 
Fonte: 
http://www.brasilescola.com/literatura/castro-alvespoeta-dos-escravos.htm

Quilombo dos Palmares

Zumbi foi um dos mais bravos líderes da comunidade quilombola dos Palmares.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola
Durante todo o período em que a escravidão foi vigente, os cativos empreenderam formas diversas de escaparem daquela ordem marcada pela repressão e o controle. Dentre as várias manifestações de resistência, os quilombos, também conhecidos como mocambos, funcionavam como comunidades de negros fugidos que conseguiam escapar do controle de seus proprietários.
Sendo local de refúgio, os escravos escolhiam localidades de difícil acesso que impedissem uma possível recaptura. Além disso, os quilombos também eram estrategicamente próximos de algumas estradas onde poderiam realizar pequenos assaltos que garantissem a sua sobrevivência. Não sendo abrigo apenas de escravos, os quilombos também abrigavam índios e fugitivos da justiça.
Um dos quilombos mais conhecidos da história brasileira foi Palmares, instalado na serra da Barriga, atual região de Alagoas. Com o passar do tempo, Palmares se transformou em uma espécie de confederação, que abrigava os vários quilombos que existiam naquela localidade. Seu crescimento ocorreu principalmente entre as décadas de 1630 e 1650, quando a invasão dos holandeses prejudicou o controle sobre a população escrava.
A prosperidade e a capacidade de organização desse imenso quilombo representaram uma séria ameaça para a ordem escravocrata vigente. Não por acaso, vários governos que controlaram a região organizaram expedições que tinham por objetivo estabelecer a destruição definitiva de Palmares. Contudo, os quilombolas resistiram de maneira eficaz e, ao longo de oitenta anos, conseguiram derrotar aproximadamente trinta expedições militares organizadas com este mesmo objetivo.
Mediante a resistência daquela população quilombola e não mais suportando a exaustão das derrotas, o governador de Pernambuco, Aires Sousa e Castro, e Ganga Zumba, importante líder palmarino, assinaram o chamado “acordo de 1678” ou “acordo de Recife”. Por esse tratado, o governo pernambucano reconhecia a liberdade de todos os negros nascidos em Palmares e concedia a utilização dos terrenos localizados na região norte de Alagoas.
Alguns membros do Quilombo não aceitaram o termo estabelecido por Ganga Zumba, que acabou sendo envenenado por seus opositores quilombolas. A partir de então, o controle de Palmares passou para as mãos de Zumbi, que não aceitava negociar com as autoridades e preferia sustentar a situação de conflito. Com essa opção, estava traçado o caminho que culminaria na destruição deste grande quilombo.
Em 1694, sob a liderança do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, as forças oficiais começaram a impor a desarticulação de Palmares. Inicialmente, mesmo ocorrendo a destruição quase definitiva, Zumbi e alguns resistentes fugiram, se organizaram e continuaram lutando. No ano seguinte, Zumbi foi morto e degolado pelos bandeirantes, que enviaram a sua cabeça até Recife como símbolo maior da vitória contra os quilombolas palmarinos.
Atualmente, as lideranças do movimento negro brasileiro reverenciam a ação heroica dos palmarinos e prestigiam Zumbi como um símbolo de resistência. No dia 20 de novembro, mesma data em que Zumbi foi morto, é comemorado o Dia da Consciência Negra. Certamente, Palmares demonstra que a hegemonia da ordem escravocrata foi colocada em dúvida por aqueles indivíduos que negaram se subordinar ao status quo da época.
Fonte:
http://www.brasilescola.com/historiab/quilombo-dos-palmares.htm

Papel Moeda no Brasil

Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

Para compreendermos o surgimento do papel moeda no Brasil, devemos primeiramente levar em conta o próprio desenvolvimento da economia deste país. Ao longo dos séculos, especialmente no período colonial, observamos que as transações comerciais foram praticadas através do escambo (troca de mercadorias) e o uso de moedas de metal cunhadas com ouro e prata.
Até o século XVIII, não possuindo atividades tão complexas, a economia brasileira conseguiu manter suas atividades comerciais pelo uso dessas modalidades. Contudo, no século seguinte, começava a ficar latente a insustentabilidade de uma economia possuidora de um baixo montante de moedas em circulação. De acordo com algumas estimativas, a riqueza circulante em moeda girava em torno da cifra de dez milhões de réis.

Com a chegada da Família Real ao Brasil e a consequente abertura dos portos, a necessidade de se modernizar e agilizar nosso sistema monetário se tornou ainda mais urgente. Por isso, D. João VI ordenou a criação do Banco do Brasil, que passaria a desenvolver a emissão de papel-moeda em quantidade proporcional ao lastro oferecido pela quantidade do ouro presente nos cofres públicos. Dessa forma, a quantidade de dinheiro no mercado seria sustentada pelas reservas controladas pelo governo.

Em 1820, a saída de D. João VI estabeleceu uma séria crise na economia brasileira. Além de voltar a Portugal com sua família, o rei extraiu arbitrariamente as reservas disponíveis no país. Com isso, o papel-moeda brasileiro se desvalorizou e, logo em seguida, um grave processo inflacionário atravancou o desenvolvimento da economia nacional. Não por acaso, a questão do desenvolvimento instigou a realização de várias revoltas no Primeiro Reinado e no Período Regencial.

Ao longo do Segundo Reinado, o desenvolvimento da economia cafeeira, do setor de transportes e a tímida industrialização deram indícios de recuperação econômica. Contudo, os vários empréstimos buscados no exterior e a manutenção de uma economia agroexportadora forçaram um sistemático processo de desvalorização da moeda brasileira. Paralelamente, devemos ainda salientar que a monetarização da economia exigiu que o processo de fabricação do papel moeda fosse devidamente aprimorado.

Inicialmente, o papel-moeda era fabricado no molde de “cartas”, que eram preenchidas com o próprio punho. Por conta de seu difícil manuseio e a possibilidade de falsificação, as moedas foram se modificando até que pudessem ser utilizadas em escala cada vez mais ampla. Graças à modernização dos métodos de impressão, o papel-moeda brasileiro foi paulatinamente enriquecido com uma maior gama de detalhes aliados a um material mais leve e resistente.

Somente em 1942, já em plena vigência do governo republicano, foi que a moeda brasileira foi dos “réis” para o “cruzeiro”. No século XX, ao longo de idas e vindas dos nossos instáveis índices econômicos, o papel moeda brasileiro foi modificado na intenção de se reestruturar o mercado interno. Em 1967, mediante a grave desvalorização do cruzeiro, o governo realizou sua substituição pelo cruzeiro novo. Três anos mais tarde, o cruzeiro voltou a ser adotado.

Em 1986, em mais um tentativa de contenção da exponencial desvalorização da moeda brasileira, o governo instituiu a criação do “cruzado”. Mais uma vez, não suportando os galopantes índices inflacionários, o governo criou o “cruzado novo”, com uma valorização de 1000%. Somente em 1994, através de um ousado plano de valorização monetário, foi que o governo teve capacidade de promover um quadro econômico relativamente estável com o “real”, moeda que ainda vigora em nosso sistema financeiro.

Fonte: 
http://www.brasilescola.com/historiab/papel-moeda-no-brasil.htm

30 anos da lei ambiental, que fazer para cumpri-la?

Washington Novaes
O Estado de S.Paulo 17 de junho de 2011
 
Dia 31 de agosto completará 30 anos a Política Nacional do Meio Ambiente, consolidada na Lei 6.938. Que balanço se pode fazer dessas três décadas?

A lei surgiu no momento em que o mundo se preocupava com os primeiros relatórios sobre o buraco na camada de ozônio, sobre a intensificação de mudanças climáticas em consequência de ações humanas, com as altas taxas de perdas de florestas. O temor das consequências do buraco na camada de ozônio, até sobre a saúde humana (câncer de pele, principalmente), levaria a um dos raríssimos acordos globais na área dita ambiental: o Protocolo de Montreal, de 1987, que determinou a cessação do uso de gases CFC, principalmente em sistemas de refrigeração. Clima e biodiversidade (em perda acelerada) constituiriam os objetos centrais da conferência mundial Rio-92, que aprovaria uma convenção para cada área, além da Agenda 21 global e de uma declaração sobre florestas.
A lei era surpreendente e ambiciosa para um tempo de regime militar, em que a palavra de ordem central e excludente de outras preocupações era o crescimento a qualquer preço do produto interno bruto - a ponto de, numa entrevista coletiva no início da década de 70, quando perguntado pelo autor destas linhas sobre o que o governo pretendia fazer diante das notícias do forte aumento do desmatamento no Centro-Oeste e no Noroeste com o asfaltamento da BR-364, o então todo-poderoso ministro Delfim Netto haver respondido: "Nada. Você está querendo inverter a ordem natural das coisas. Primeiro vem o faroeste, só depois é que chega o xerife; você está querendo que o xerife chegue primeiro". Só agora, 40 anos depois, em depoimento no livro O que os Economistas Pensam da Sustentabilidade, de Ricardo Arnt, o ex-ministro admite que jamais pensou que viesse um dia a preocupar-se com o consumo excessivo de recursos naturais, além da capacidade de reposição do planeta. Mas a lei já dizia que um de seus objetivos era "compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com a preservação do meio ambiente e do equilíbrio ecológico".
Também pretendia a lei racionalizar o uso do solo, do subsolo, da água e do ar, impor ao poluidor e ao predador a obrigação de recuperar e/ou indenizar pelos danos causados, da mesma forma que impunha ao usuário a obrigatoriedade de "contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos". Pretendia ainda levar "as atividades empresariais públicas ou privadas" a serem exercidas em "consonância com as diretrizes da política".
Talvez o maior êxito dessas três décadas seja a construção de uma consciência social nessa área - embora frequentemente ela não se traduza em avanços práticos. Ainda há poucos dias foi divulgada pesquisa de várias instituições segundo a qual 95% das pessoas ouvidas não concordam com modificações no Código Florestal que permitam plantações e pecuária em áreas de preservação permanente, como encostas, topos de morros e margens de rios. E querem que cientistas sejam ouvidos, além de não concordarem (79%) com anistia a desmatadores.
A questão central não resolvida pela lei está na carência de recursos para implantação de políticas e fiscalização eficiente. Já se tem comentado aqui que o Ministério do Meio Ambiente tem pouco mais de 0,5% do Orçamento federal e que também nos Estados e municípios os recursos são escassos. Não é por acaso, assim, que já tenham sido desmatados uns 20% do bioma amazônico, mais de 93% da Mata Atlântica, mais de 50% do Cerrado e da Caatinga. E que esse desmatamento, aliado a queimadas, seja a causa principal das emissões de gases que contribuem para mudanças climáticas.
Um balanço mostrará também que a área dos recursos hídricos continua muito preocupante, com todas as bacias, da Bahia ao Sul, em "situação crítica", além de a Agência Nacional de Águas prever que mais de metade dos municípios brasileiros terá problemas graves em prazo curto. Uma das razões está no escasso cumprimento do dispositivo que manda criar comitês de gestão das bacias e pagamento por todos os usos da água - com os recursos aplicados nas próprias bacias. Entre os poucos comitês que funcionam, a maioria fica no Estado de São Paulo. Mas o próprio governo federal contribui para a pouca efetividade da lei quando não acata a decisão de um comitê como o da Bacia do Rio São Francisco, que por 44 votos a 2 se manifestou contra o projeto de transposição de águas. O governo levou o tema para o Conselho Nacional de Recursos Hídricos e ali o aprovou, com a maioria de votos que tem, sozinho. Para a preocupação na área da água contribui também o inadmissível déficit no saneamento, com metade dos brasileiros sem dispor de rede coletora de esgotos e menos de 30% do que é coletado ter algum tratamento - por isso o despejo de esgotos in natura é a principal causa da poluição dos recursos hídricos e da veiculação de doenças transmitidas pela água. Sem falar no desperdício, por vazamentos, de mais de 40% da água que passa pelas redes de distribuição.
Outra obrigatoriedade criada pela lei e não cumprida é a que manda cobrar do poluidor os custos por ele gerados. Quem se lembra disso na área da poluição do ar e nos custos que gera para o sistema de saúde, ou na implantação dos sistemas viários urbanos e de rodovias? Ou na área do lixo?
Talvez importantes avanços possam vir a ser feitos quando se levar à prática a exigência de uma resolução (1/86) do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que manda "contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização do projeto, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto". Iniciativas como a transposição de águas do Rio São Francisco ou a Hidrelétrica de Belo Monte resistiriam a uma análise dessa natureza? Ou o plano de usinas nucleares?
Cabe à sociedade exigir, neste 30.º aniversário, que a lei seja integralmente cumprida.

sábado, 18 de junho de 2011

Desmatamento na Amazônia Legal cresceu 72% em maio, aponta Imazon

Comparação é em relação ao mesmo mês do ano passado.
Estado do Pará foi líder na devastação da floresta, diz instituto.

Eduardo Carvalho
Do Globo Natureza, em São Paulo


Levantamento divulgado nesta sexta-feira (17) pela organização ambiental brasileira Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) aponta que a Amazônia Legal perdeu 165 km² de florestas devido ao desmatamento em maio, número que é 72% superior ao registrado no mesmo mês de 2010, quando a floresta perdeu 96 km² por corte raso (destruição total da mata).
Gerados a partir de imagens de satélite, os dados apresentam ainda um crescimento de 24% no desmatamento entre agosto de 2010 e maio de 2011, no comparativo com agosto de 2009 e maio de 2010. De acordo com o Imazon, desapareceu da Amazônia, nos últimos dez meses, uma área superior ao tamanho do município do Rio de Janeiro.
Devido à cobertura de nuvens, que atrapalha os satélites, o instituto monitorou 47% da área florestal na Amazônia Legal em maio. A região central e norte do Pará, e os estados do Amapá e Roraima estiveram mais de 80% encobertos.
O índice está próximo aos 27% de crescimento na devastação registrados pelo sistema de detecção de desmatamentos em tempo real (Deter) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), utilizado pelo governo federal como fonte oficial para combater os crimes ambientais no bioma.
Segundo Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon, o acumulado de 24% é preocupante e poderá aumentar se não houver um controle. "Mas ainda não significa que a derrubada da vegetação vai voltar a níveis estratosféricos. Até 2004, existia um desmatamento anual de 24 mil km². Entretanto, o governo deve ficar em alerta porque os índices que apenas caíam anualmente, agora, voltaram a subir", disse Veríssimo.

Evolução
De acordo com o levantamento do Imazon, na avaliação dos últimos 10 meses o estado de Mato Grosso foi o que mais registrou desmatamento (saltou de 288 km² para 558 km², alta de 94%).
O Pará registrou decréscimo de 33% na devastação da floresta, mas ainda derrubou uma área equivalente a 19 vezes o tamanho da ilha de Fernando de Noronha (PE).
Segundo o pesquisador, em Rondônia, por exemplo, tem ocorrido derrubada da floresta por influência de obras federais como a construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira.
“Os municípios com grave situação de devastação da floresta no Pará também tem relação com a construção dos canteiros de obra da usina de Belo Monte, no rio Xingu. O município de Altamira, segundo o Imazon, foi responsável por desmatar 22 km² em maio deste ano”, afirmou Veríssimo.
De acordo com o pesquisador, o que tem acontecido também é uma derrubada da vegetação devido à especulação em volta do novo Código Florestal, que modifica as regras na legislação ambiental e rural do país. “É uma incerteza que tem gerado o desmatamento especulativo e não produtivo. Muita gente tem feito isso para garantir terra”, afirmou.
 
Municípios que mais desmataram a Amazônia Legal em maio de 2011 (Fonte: Imazon)
Altamira (PA)
22,2 km²
Porto Velho (RO)
13,4 km2²
Apuí (AM)
12,5 km²
Novo Progresso (PA)
11,6km²

Fonte: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2011/06/desmatamento-na-amazonia-legal-cresce-72-em-maio-aponta-imazon.html

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Hotspots de Biodiversidade

Os lugares de grande riqueza biológica e mais ameaçados da Terra, os chamados hotspots de biodiversidade, são áreas com alto grau de endemismo abrigando muitas espécies que não são encontradas em nenhum outro lugar. A Conservation International (CI) identifica 34 hotspot por todo o mundo onde 75 por cento dos mamíferos, aves e anfíbios mais ameaçados do planeta, sobrevivem dentro de um habitat cobrindo apenas 2.3 porcento da face da Terra.
Dos seis biomas brasileiros, a Mata Atlântica e o Cerrado fazem parte destes hotspots. Com mais de 20.000 plantas (8.000 endêmicas) e 2.300 animais (725 endêmicas), a Mata Atlântica é considerado um dos primeiros 5 hotspots de biodiversidade no mundo.
A densidade de biodiversidade neste bioma é particularmente impressionante. O biomapa da Universidade de Bonn de 1999 indica a ocorrência de mais que 5.000 plantas vasculares em uma área de 10.000 km2 das florestas tropicais no  Sudeste do Brasil. Segundo a UNEP - WCMC, mais que 450 espécies de plantas lenhosas podem ser encontrados em só um hectare de Mata Atlântica nas chamadas Reservas do Sudeste. 

Fonte : http://www.brazadv.com.br/brasil/hotspots.htm

Cerrado e Mata Atlântica em perigo


Da Mata Atlântica, que vem sendo destruída desde o descobrimento do Brasil, sobraram apenas 8% da cobertura original. Do cerrado, que começou a ser ocupado bem mais tarde, permanecem 22%.
Nos últimos anos, a situação ficou um pouco melhor na mata atlântica, em termos de pressão antrópica. No cerrado, entretanto, o risco continua alto. Os dois ecossistemas brasileiros são os únicos presentes em uma lista de 34 ambientes mundiais ameaçados de extinção, divulgada no dia 2 de fevereiro de 2005, pela CI (Conservação Internacional).
Desde 1999, a instituição não-governamental trabalha com o conceito de hotspots, termo concebido pelo ecólogo inglês Norman Myers, em 1988. Segundo ele, para uma área qualquer do mundo ser enquadrada nessa classificação ela precisa ter perdido 75% no mínimo de cobertura vegetal e contar com pelo menos 1.500 espécies de plantas endêmicas. Na lista de Myers, publicada em forma de livro, os dois biomas brasileiros também estavam presentes.
“Os hotspots foram revistos nos últimos anos e o cerrado permanece na lista. Não tem como ser retirado”, disse o pesquisador Mario Barroso, gerente da Conservação Intermacional para o bioma cerrado. “Apesar de todos os esforços, as pressões continuam grandes. A ocupação é alta e o comprometimento dos recursos aquáticos também.”
As áreas geográficas mais ameaçadas, segundo a análise da CI, estão no sul do Maranhão e do Piauí e no oeste da Bahia. “Não apenas a soja, mas a agricultura mecanizada como um todo, algodão e milho também estão devastando o cerrado”, afirma Barroso.
Para o pesquisador, a solução é a proibição por completo da atividade agrícola na região. “Se fosse cumprido o código florestal, que prevê os 20% mínimos de área destinada para a reserva legal, seria perfeitamente possível conciliar preservação com produção”, explica. Em termos de áreas protegidas, o cerrado tem hoje apenas 6% de sua área. “Na prática isso é menor. Alguns parques estão sendo ocupados”, diz Barroso.
A lista divulgada – um livro com o detalhamento da fauna e flora de cada uma das regiões será lançado ainda no primeiro semestre no Brasil – tem nove hotspots novos em relação à primeira, de 1999. A maioria dele está na Ásia e na África.
Nas Américas, a única zona que surge como novidade, segundo o estudo que reuniu mais de 400 especialistas e demorou quatro anos para ficar pronto, é a Floresta de Pinho-Encino de Sierra Madre, entre o México e os Estados Unidos.

 Fonte: http://www.riosvivos.org.br/Noticia/Cerrado+e+Mata+Atlantica+em+perigo/5966

Surf pelas florestas desperta consciência ambiental

Por onde passa, o Circuito Brasileiro de Surf Pro vem mobilizando a população para a importância da educação ambiental. Nas cinco etapas do circuito, os três níveis de governo (Federal, estadual e municipal) vêm aproveitando a oportunidade para despertar a sociedade para a importância das florestas brasileiras e a necessidade de separar corretamente o lixo doméstico.
Na etapa de Porto de Galinhas (PE), mais de duas mil mudas nativas de mangue foram plantadas por estudantes, surfistas e participantes no Pontal do Maracaípe, um manguezal que faz parte praia de Porto de Galinhas. O local escolhido para o plantio teve o aval do Ibama de Pernambuco. A cada nota 8 tirada por um surfista, eram disponibilizadas cinco mudas para o plantio. A cada nota 10, outras 50 mudas eram doadas.
Em Pernambuco, começou na quarta-feira (8) e terminou no domingo (12). O evento é oficial da Associação Brasileira de Surf Profissional. A próxima etapa será em Búzios (RJ), entre os dias 13 e 17 de julho na Praia de Geribá. Em seguida Ubatuba, Florianópolis e Rio de Janeiro.
Evento mais importante da modalidade, o Brasil Surf Pro reúne os principais surfistas profissionais do Brasil, tanto no masculino quanto no feminino. Este ano, o circuito recebeu a denominação de Surf pelas Florestas, devido ao Ano Internacional das Florestas, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Em uma das ações de educação ambiental realizada no local, o Centro Escola Mangue ensinou aos estudantes a diferença entre os vários tipos de bioma existentes no mundo. Os alunos ouviram também palestras sobre a questão do desmatamento e a importância da correta separação dos resíduos sólidos. A proposta dos organizadores do evento é que depois da passagem do circuito seja deixado no local um legado para a comunidade. Nesta etapa, além da recomposição de áreas degradadas pelo desmatamento, a formação na disciplina de educação ambiental para parte dos professores da rede pública de ensino do município.
Foram também exibidas sessões de cinema, onde foram mostrados filmes do Circuito Tela Verde e do Edital de Curtas, do MMA, além de outros filmes de temática ambiental.
O circuito é patrocinado pela Petrobras, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente. Conta também com o apoio dos projetos Tubarões e Centro Escola Mangue.

Fonte: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=ascom.noticiaMMA&codigo=6766

Dia de alerta contra a devastação da Caatinga

Por: Carine Correa

A Caatinga, que abriga 27 milhões de pessoas e abrange cerca de 11% do território nacional, está em ritmo acelerado de devastação. Números apresentados nesta quinta-feira (28/04) em audiência pública na Câmara dos Deputados revelam que 2,8 mil Km2 do bioma são transformados em lenha anualmente no segundo mais ameaçado do País. O total equivale a 40% da matriz energética da região, uma das mais sujas do Brasil.
O encontro, que fez parte do Dia Nacional da Caatinga, serviu de alerta para a necessidade de se buscar urgentemente modelos de sustentabilidade socioambiental e econômica para a região. O Ministério do Meio Ambiente anunciou que vem avançando, em convênio com os estados do Nordeste, onde está a maior área de Caatinga, no sentido de criar e implementar pelo menos 40 novas Unidades de Conservação, na tentativa de conter o avanço da desertificação.
"Os cenários de mudança climática indicam que a Caatinga vai se tornar mais árida do que já é, então os desafios para toda a população que vive nesta área serão ainda maiores. A necessidade de se definir estratégias mais sustentáveis para a ocupação e exploração econômica da região é urgente", afirmou o secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA, Bráulio Dias.
Para o deputado Sarney Filho (PV-MA), coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, "nenhuma política de desenvolvimento para a Caatinga produzirá resultados duradouros se não incorporar, de forma efetiva, a preocupação com o uso sustentável dos seus recursos naturais".
Ele defendeu "o envolvimento social e econômico da região" como condição para a solução dos problemas ambientais do bioma. O parlamentar lembrou o compromisso firmado pelo Brasil na Convenção sobre Biodiversidade, em Nagoya, no Japão, afirmando que se o desmate da área continuar ocorrendo no ritmo atual, "nem em um século será possível alcançar a meta de proteger pelo menos 10% do bioma".
Parlamentares e sociedade civil, que lotaram a comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, em Brasília, pediram mais agilidade do Congresso na aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 115/95, que transforma tanto a Caatinga como o Cerrado em patrimônios nacionais, garantindo maior proteção aos dois biomas.

Biodiversidade - A Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, ocupa cerca de 850 mil Km2 nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais. De acordo com estudos da Conservação Internacional (CI) foram registradas na região, até agora, 932 espécies de plantas, 187 de abelhas, 240 de peixes, 167 de répteis e anfíbios, 510 tipos diferentes de aves e 148 de mamíferos. Como 47% da área ainda foram investigados e 80% permanecem ainda subamostrada, o número total da biodiversidade da região deve ser maior. Apesar de sua importância ambiental e social, o bioma tem sido relegado no que diz respeito a políticas públicas que garantam sua conservação e proteção.
As áreas originais remanescentes se encontram muito fragmentadas, o que dificulta a  reconstituição natural do bioma. Do total de unidades de conservação (UCs) na Caatinga, apenas 1% é área de proteção integral. Dos 13 principais tipos de vegetação reconhecidos no bioma, quatro ainda não estão representados em nenhum tipo de UC.

Alternativas -  Para Francisco Campello, diretor de Combate à Desertificação do MMA, o desafio da  inclusão social, da sustentabilidade e do desenvolvimento ecossocioeconômico no campo é reunir biodiversidade, biomassa e biotecnologias. Ele defende também que o reflorestamento para a produção de carvão vegetal deve ser feito dentro do conceito de florestas econômicas plantadas.
"Temos que ter a ótica do uso adequado, e não do não uso, uma vez que a lenha é muito utilizada pela população do Nordeste. Trata-se do semiárido mais populoso do mundo e a lenha representa 40% da matriz energética da região, sendo consumida por moradores e pelo parque industrial", afirmou Campello.

Proteção -  Bráulio Dias disse também que o MMA está trabalhando para criar um mosaico de conservação no Boqueirão da Onça, localizado no norte da Bahia, e nas dunas do Rio São Francisco.
Também está sendo negociado com os governos do Ceará e Pernambuco a criação de novas áreas nestes estados, e os bancos do Nordeste e Caixa Econômica Federal lançaram um fundo para estimular empreendimentos alternativos e sustentáveis na Caatinga. "Além das ações governamentais, também é fundamental o manejo adequado da vegetação", disse.
Outras boas notícias relacionadas à conservação no bioma são a criação do Monumento Natural do São Francisco - que conta com 27 mil hectares em uma região que abrange terras de Alagoas, Bahia e Sergipe - e a ampliação do Parque Nacional da Serra das Confusões, no Piauí. O MMA também realizou um estudo que indica 40 novas áreas em que devem ser criadas novas UCs, o que abrange cerca de 4 mil km2.
A audiência foi promovida pelo Núcleo Bioma Caatinga do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara. 

Fonte: 
http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=ascom.noticiaMMA&idEstrutura=8&codigo=6646

O desafio de preservar e recuperar a Caatinga

Por: Celso Calheiros

Petrolina (PE) - Embora a Caatinga seja um bioma pouco estudado,a pressão sobre a sua cobertura vegetal é real. Dados do Ministério do Meio Ambiente monstram que o ritmo da devastação é crescente. Como preservar essa mata que é a cara do Brasil? O Centro de Referência para Recuperação de áreas Degradadas (Crad) da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina , sertão de Pernambuco, está em busca de uma resposta científica a essa pergunta.
O plano do coordenador do centro, José Alves de Siqueira, revela as etapas que sua equipe busca cumprir. “Precisamos conhecer as plantas (saber como a Caatinga é formada), resgatar essas espécies (coletar sementes, guardá-las e produzir mudas) e descobrir como recuperar o bioma”, explica. O nível do conhecimento a ser adquirido é totalmente diferente do que existe acumulado hoje sobre a Mata Atlântica – já bastante estudado pela academia.
São várias as frentes de trabalho no Centro. Há, por exemplo, uma coleção de espécies vivas no Crad da Univasf e no laboratório de sementes (LAS). São 3 milhões de sementes mantidas em uma câmara fria a 7°C. A baixa temperatura reduz o metabolismo delas e assim, as mantém por mais tempo, explica o professor Marcos Meiado, especialista responsável pelo LAS. As cerca de 150 espécies da coleção são todas comuns às áreas onde ocorrem as obras da transposição do rio São Francisco.
A escolha das espécies nas áreas degradadas pela obra de transposição é parte de um dos principais projetos do Crad da Univasf. O centro é responsável pelo projeto básico ambiental (PBA) exigido pelo Ibama para a licença de instalação. São áreas desmatadas, devastadas pela obra que ao final terá mais de 650 quilômetros, somados os dois canais cimentados, aquedutos, túneis, estações de bombeamento e reservatórios nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
No LAS, a mesma espécie de semente é guardada em sacos plásticos, em bombonas plásticas e em envelopes de papel. A cada três meses, algumas amostras são testadas para se verificar qual o melhor meio para mantê-las por mais tempo. Antes de serem armazenadas, as sementes são identificadas e são anotados os dados do local de coleta georreferenciado e suas características físicas, como peso, teor de umidade, tipo, coloração.
As sementes também servem para novos estudos sobre germinação, qual a melhor forma de induzir a brota e que espécies precisam de outros agentes: como o clima, insetos, aves, animais ou mesmo uma ação antrópica. Algumas descobertas são feitas. Por exemplo, Fabricio Santos da Silva, um dos professores do LAS, conta que eles ainda não conseguiram tirar da dormência a semente da umburana de cambão, árvore tradicional do semiárido, procurada por abelhas para instalar suas colmeias e conhecida pelo uso (hoje proibido) de santeiros e escultores de carrancas. “Com a umburana, nós conseguimos sua reprodução através de mudas”, conta Francisco.
Depois das sementes, começa a atenção às mudas da Caatinga. O coordenador do Crad, José Alves conta, por exemplo, que teve de procurar tubetes mais adequados para produção de mudas de algumas espécies que desenvolvem raízes profundas (pela necessidade de procurarem água).
O coordenador adjunto do centro, Eliezer Santurbano Gervásio, dedica-se à produção de mudas e também teve de inovar para melhor aproveitar os recursos. O substrato clássico na produção de muda é o pó de pinus, vendido comercialmente na região Sudeste. Eliezer, no entanto, teve uma ideia econômica e resolveu testar o pó da casca verde do coco. “Se mostrou um substrato muito bom, que gera como subprodutos a fibra longa e a fibra curta do coco – úteis para cobrir o solo e reduzir a perda de umidade”, explica. Em seus experimentos com as mudas, Eliezer também desenvolveu um novo sistema de irrigação que torna o viveiro, com cerca de 100 mil mudas, mais eficiente.
Depois do centro instalado, sementes coletadas e estudadas, produção de mudas em atividade, é necessário o trabalho de campo para a recuperação das áreas degradadas. A professora Fabiana Basso trata dos modelos a serem colocados em prática, como a distância que deve ser mantida entre as mudas, quais as mudas adequadas para cada região e qual o comportamento das áreas que estão tendo sua mata de volta. “Fazemos medições todos os meses e estamos desenvolvendo os modelos”.

Conhecendo a Caatinga
“Há muito a se conhecer sobre a Caatinga”, comenta Renato Garcia, professor na equipe do Crad. Com formação no Paraná, Renato compara o conhecimento adquirido com a Mata Atlântica e com a Caatinga. “Na Mata Atlântica já se sabe quase tudo: quais são as primeiras espécies, como são dispersadas determinadas sementes e vários outros detalhes. Na Caatinga, temos que começar do zero”.
A tecnologia ajuda nessa missão. O centro possui um Laboratório de Geoprocessamento que é constantemente alimentado com novos dados. Os mapas produzidos pelo laboratório podem indicar o tipo de solo, proximidade de fontes de água, nível de precipitação histórico, incidência de sol, altitude dentre outros dados. Essas informações são cruzadas com os hábitos catalogados das espécies mais comuns e em que áreas elas foram coletadas. Com essa combinação de informações, eles são capazes de mapear os locais com melhores chances de ser encontrar determinada espécie. Ou quais são as mais indicadas para recompor uma mata num ponto definido. “Se um prefeito ligar dizendo que quer replantar uma área, por exemplo, posso enviar as mudas adequadas para a região dele”, explica José Alves.
Devido à extensa atividade em campo, José Alves tratou de incumbir aos alunos e professores, a missão de coletar plantas para o herbário instalado. Mais de 9 mil espécies já estão devidamente catalogadas — muitas em duplicata, para a rotina comum aos herbários ativos, que é a constante troca de informações com instituições similares. “Queremos nosso herbário como uma referência das plantas existente nos biomas encontrados na bacia do rio São Francisco”, resume José Alves.
Como indicador de sua atividade, o herbário possui duas espécies que estão em fase de descrição e podem se tornar as duas primeiras contribuições para a ciência. Uma é da família das samambaias e outra uma araliácea. “Os tucanos adoram os frutos dessa espécie”, comenta José Alves.
O centro também possui uma xiloteca, que são amostras de árvores retiradas da natureza por causa da obra de transposição do rio São Francisco. Os exemplares são guardados com diferentes cortes e é possível se obter informações morfológicas, os desenhos do interior do tronco e a formação da casca. A sala da xiloteca é próxima a entrada do Crad. Ao receber estudantes em dia de educação ambiental, José Alves gosta de apresentá-los à coleção com uma pergunta: “Quem já viu mil anos de uma vez só?”.

Fonte:  
http://www.oeco.com.br/reportagens/25084-o-desafio-de-preservar-e-recuperar-a-caatinga