segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Um formigueiro global
Leandro Narloch
As formigas argentinas se espalham por todos os continentes e, cooperando entre si, marcham para dominar o planeta
Embora
pequeninas, as formigas da espécie Linepithema
humile, conhecidas como formigas argentinas, destroem plantações, atacam
borboletas e besouros e reduzem a quantidade de pólen das flores de árvores
frutíferas ao passear sobre suas pétalas. Na semana passada, cientistas fizeram
uma descoberta notável sobre essa espécie. Seus imensos contingentes espalhados
em regiões da Europa, dos Estados Unidos e do Japão (veja o quadro) formam na verdade uma única imensa
colônia. Segundo o estudo, realizado pela Universidade de Tóquio, essa
supercolônia seria a maior já registrada entre todos os tipos de insetos. A
invasão das formigas argentinas começou no século XIX, quando grupos delas
cruzaram os ocea-nos como clandestinas a bordo de navios mercantes. Mesmo um punhado
de formigas operárias, acompanhadas da rainha, é capaz de dar início a
sociedades com milhões de formigueiros.
Os
cientistas japoneses chegaram à conclusão sobre o parentesco entre as formigas
dos três continentes ao descobrir a semelhança entre o cheiro que elas exalam.
Por meio do cheiro, as formigas identificam suas colegas da mesma colônia e
detectam as intrusas, que são atacadas e eliminadas. Na América do Sul, as
formigas argentinas de colônias diferentes costumam competir entre si e atacar
umas às outras. A pesquisa japonesa descobriu que, nas três regiões
pesquisadas, as formigas de colônias diferentes, mesmo as situa-das a milhares
de quilômetros de distância, não se identificam como inimigas. Isso significa
que pertencem não apenas à mesma espécie – mas à mesma colônia.
O
estudo teve início quando se juntaram espécimes das três regiões numa pequena
arena e eles se mostraram amigáveis, esfregando as antenas. Os cientistas
acreditam que a origem dessa camaradagem está no fato de as formigas das regiões
pesquisadas terem origem num grupo muito pequeno de insetos e, portanto, serem
geneticamente parecidas, o que não acontece com os espécimes que vivem na
América do Sul. "A enorme extensão dessa população de formigas só encontra
paralelo na sociedade dos seres humanos", escreveram os pesquisadores no
jornal científicoInsectes Sociaux, no qual o estudo foi publicado. Como
as colônias de formigas argentinas fora da América do Sul não competem entre
si, elas formam um superexército que ataca e chega a causar a extinção de
outras espécies de formigas, como já aconteceu na Califórnia, no Havaí, na
África do Sul e até mesmo na longínqua Ilha de Páscoa. As formigas vivem em
todos os continentes, à exceção da Antártica. Em algumas regiões tropicais elas
são tão numerosas que, se todos os animais locais fossem pesados em balança,
responderiam por um quarto do peso total obtido. A descoberta da grande colônia
mundial de formigas argentinas adiciona um curioso capítulo ao perfil desses
fascinantes insetos.
Alex Wild Photography
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