terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Um mal desnecessário - Myrian Stanchi


UM MAL DESNECESSÁRIO

O homem se engrandece ao falar de sua casa de praia, do seu carro, do seu haras, da sua mansão. 
Se divertem caçando os patos, com as touradas e nos rodeios. 
Mostram seus troféus com orgulho.
Colocam seus filhos para aprenderem lutas marciais e tantos outros esportes violentos por acharem que estão fazendo um bem. 
Mas em momento algum na minha vida, vi ou ouvi um pai, um amigo ou um irmão de quem quer que seja, falar com orgulho ou admiração de um ser que tenha abraçado uma árvore, que tenha replantado um campo que tenha socorrido um animal ou que não tenha nunca poluído rios e mares.
Gestos perfeitos diante da mãe natureza, mas insignificantes aos olhos do homem. 
O mundo tem sua cadeia alimentar. Começa com uma minúscula partícula até nós, devoradores, ferozes, humanos. Percebo que nesta cadeia alimentar, só nós não respeitamos a natureza.
Percebam: o jacaré comeu o braço do seu treinador, que um gorila matou um visitante que jogava comida pra ele na jaula, que o leão quase matou a fotografa que o filmava e tantas outras noticias do mesmo tipo. 
Mas sejamos honestos pelo menos com nós mesmos, vocês já ouviram falar de um grupo de elefantes que devastou uma mata por onde passava? Já ouviram falar de leões que exterminaram outras raças animas? Já ouviram falar de peixes que contaminaram rios ou mares? Ou até mesmo de aves que sobrevoando os céus, poluíram de tal forma que ficou impossível voar? 
Estamos sempre fazendo o mal em nome do bem. Com nossa imensa inteligência, estamos destruindo com requinte de crueldade, todo este universo, chamado Terra. 
O homem branco se queixa dos seus próprios irmãos, o negro se queixa do branco e o índio se queixa dos dois. Na verdade um não dá a mínima para o outro. Vivem numa eterna luta. Lutam por uma terra que não são suas, por mares que não lhes foram dados e por direitos que não os têm.
Infelizmente, nós humanos, não temos nada de bom para oferecer ao Planeta Terra. Tudo que temos foi tomado da natureza. Fomos convidados para fazermos parte deste planeta e veja o que fizemos e continuamos fazendo com ele?
A mãe natureza está desenhando para nós o tempo todo que somos indesejáveis. Não correspondemos a expectativa depositada em nós.
Quando aqui chegamos, já existia as árvores, os rios, os mares, os bichos e o céu. Nem meus pais, avós ou tatatataravós fizeram nada disso. Então pergunto a você visitante mal educado: O que você criou na natureza?Que direito tem você de maltratá-la e exterminá-la? 
Acredito que encare a natureza como um ente (querido), o qual você bate, espanca e até mata; achando-se ainda certo e se dizendo INOCENTE.
A mãe natureza já nos deu chance demais, agora ela tá falando em alto e bom tom que nós somos um Mal desnecessário para este planeta.
A natureza ainda apesar de ser pisada literalmente por nós; ainda nos dá frutos de suas árvores, nos dá peixes de seus rios e mares e nos dá seus filhos animais para saciarmos nossa fome e nossa sede de poder.
Estou aqui, pedindo aos governantes, um pouco de piedade. Que parem de castigar quem vos alimenta.
Quando enfim a mão do criador, cair empiedosamente sobre nós será tarde demais.
Mas Deus é tão misericordioso com nós que prefere que a própria natureza retome o que é seu, deixando assim, quem sabe, a certeza para nós de que apenas fomos convidados e que na verdade somos um mal desnecessário em qualquer sistema solar.

Myrian Stanchi

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Um formigueiro global

Leandro Narloch
As formigas argentinas se espalham por todos os continentes e, cooperando entre si, marcham para dominar o planeta


Embora pequeninas, as formigas da espécie Linepithema humile, conhecidas como formigas argentinas, destroem plantações, atacam borboletas e besouros e reduzem a quantidade de pólen das flores de árvores frutíferas ao passear sobre suas pétalas. Na semana passada, cientistas fizeram uma descoberta notável sobre essa espécie. Seus imensos contingentes espalhados em regiões da Europa, dos Estados Unidos e do Japão (veja o quadro) formam na verdade uma única imensa colônia. Segundo o estudo, realizado pela Universidade de Tóquio, essa supercolônia seria a maior já registrada entre todos os tipos de insetos. A invasão das formigas argentinas começou no século XIX, quando grupos delas cruzaram os ocea-nos como clandestinas a bordo de navios mercantes. Mesmo um punhado de formigas operárias, acompanhadas da rainha, é capaz de dar início a sociedades com milhões de formigueiros.
Os cientistas japoneses chegaram à conclusão sobre o parentesco entre as formigas dos três continentes ao descobrir a semelhança entre o cheiro que elas exalam. Por meio do cheiro, as formigas identificam suas colegas da mesma colônia e detectam as intrusas, que são atacadas e eliminadas. Na América do Sul, as formigas argentinas de colônias diferentes costumam competir entre si e atacar umas às outras. A pesquisa japonesa descobriu que, nas três regiões pesquisadas, as formigas de colônias diferentes, mesmo as situa-das a milhares de quilômetros de distância, não se identificam como inimigas. Isso significa que pertencem não apenas à mesma espécie – mas à mesma colônia.
O estudo teve início quando se juntaram espécimes das três regiões numa pequena arena e eles se mostraram amigáveis, esfregando as antenas. Os cientistas acreditam que a origem dessa camaradagem está no fato de as formigas das regiões pesquisadas terem origem num grupo muito pequeno de insetos e, portanto, serem geneticamente parecidas, o que não acontece com os espécimes que vivem na América do Sul. "A enorme extensão dessa população de formigas só encontra paralelo na sociedade dos seres humanos", escreveram os pesquisadores no jornal científicoInsectes Sociaux, no qual o estudo foi publicado. Como as colônias de formigas argentinas fora da América do Sul não competem entre si, elas formam um superexército que ataca e chega a causar a extinção de outras espécies de formigas, como já aconteceu na Califórnia, no Havaí, na África do Sul e até mesmo na longínqua Ilha de Páscoa. As formigas vivem em todos os continentes, à exceção da Antártica. Em algumas regiões tropicais elas são tão numerosas que, se todos os animais locais fossem pesados em balança, responderiam por um quarto do peso total obtido. A descoberta da grande colônia mundial de formigas argentinas adiciona um curioso capítulo ao perfil desses fascinantes insetos.
Alex Wild Photography

Mata Atlântica perdeu 312 km² de 2008 a 2010, diz Inpe

São Paulo (2011)
A Mata Atlântica perdeu 31.195 hectares com desflorestamento entre 2008 e 2010, de acordo com dados divulgados hoje pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pela Fundação SOS Mata Atlântica. A área desmatada soma 311,95 quilômetros quadrados, o equivalente quase ao tamanho de Belo Horizonte (330 quilômetros quadrados). Segundo o levantamento, esse resultado apresenta uma diminuição de 55% na taxa média anual de desmatamento, comparado com o período anterior analisado, de 2005 a 2008.
De acordo com Márcia Hirota, diretora de gestão do conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica e coordenadora do levantamento, a diminuição no ritmo do desmate pode ser explicado pelo avanço da legislação, com a lei L1.428, homologada em 2008, que define o conceito e a incidência de Mata Atlântica e regulamenta sua exploração. "A queda também pode ser atribuída ao trabalho dos órgãos de fiscalização e pela maior consciência da população", disse ela.
O Estado que mais sofreu com o desmatamento da Mata Atlântica foi Minas Gerais, que perdeu 12.467 hectares no período de 2008 a 2010, o equivalente a 39,9% do total. Em seguida estão a Bahia, com 7.725 hectares, Santa Catarina, com 3.701 hectares, e o Paraná, com 3.248 hectares.
Na avaliação de Márcia Hirota, a ação das motosserras nos Estados de Minas Gerais e Bahia pode ser explicada pela derrubada da mata para a produção de carvão, seguida pelo plantio de eucalipto. Além disso, a região afetada pelo desmatamento nesses Estados fica no limite com outros biomas, como o cerrado e a caatinga, o que flexibiliza a aplicação da lei de exploração.
No ranking dos municípios com maior índice de desmatamento estão Ponto dos Volantes, Jequitinhonha e Pedra Azul, todos em Minas Gerais. Em seguida aparece Andaraí, na Bahia. A cidade paulista com maior incidência de desmatamento foi Bertioga, na Baixada Santista, por conta da expansão imobiliária da Riviera de São Lourenço, segundo explicou Mário Mantovani, diretor de políticas públicas da SOS Mata Atlântica. 
Ele destacou a perda de 800 hectares de mangue no município de Ipojuca, em Pernambuco, em razão das obras do Porto de Suape, que fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O levantamento sobre a Mata Atlântica foi feito a partir da comparação de imagens de satélites do INPE e pelo trabalho de campo dos pesquisadores, que avaliam as causas do desmatamento no local. A pesquisa não detecta o chamado "desmatamento formiga" (áreas menores que três hectares). "Isso nos leva a crer que a pesquisa subestima o desmatamento", disse Márcia.
O levantamento foi feito em 16 dos 17 Estados que possuem Mata Atlântica no Brasil. Eles estão situados na faixa leste do País, do Ceará ao Rio Grande do Sul. A pesquisa não fez o mapeamento no Piauí porque faltam critérios técnicos para definir a incidência dos biomas na região. Hoje, no Brasil, restam apenas 11,62% da cobertura original de Mata Atlântica.

Fonte: Agência Estado

Valores da conservação

Por Fábio de Castro
Agência FAPESP

A atribuição de valor aos serviços ecológicos é um fator importante para incentivar a preservação da natureza e da biodiversidade. Mas não é suficiente: as dimensões econômicas por si só não garantem a conservação se não forem agregadas a fatores não-econômicos que envolvem valores históricos, culturais e até mesmo estéticos.
A conclusão é de uma análise sobre a valoração econômica e os instrumentos para a conservação e uso sustentável da biodiversidade coordenada por Luciano Verdade, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP).
Verdade, que é membro da coordenação do Programa Biota-FAPESP, apresentou os resultados do estudo durante a conferência internacional Getting Post 2010 – Biodiversity Targets Right, realizada em dezembro pelo Programa Biota-FAPESP, pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
O professor coordena o Projeto Temático Mudanças socioambientais no Estado de São Paulo e perspectivas para a conservação, financiado pela FAPESP.
A reflexão sobre valoração econômica e conservação da biodiversidade foi feita a partir de uma análise das mudanças socioambientais ocorridas na região de Angatuba (SP), município situado a cerca de 210 quilômetros a oeste da capital paulista.
“A análise das mudanças ao longo do tempo mostrou que a configuração que encontramos hoje na região estudada tem uma base mais histórica que propriamente geográfica biológica. As transformações econômicas no decorrer do processo histórico foram o motor das mudanças nos processos ecológicos e agrícolas. Ao mesmo tempo, o estudo indica que a atividade econômica – às vezes vista como uma panaceia para combater a perda da biodiversidade – pode ser também a causa dessa perda”, disse Verdade.
A localidade de Angatuba foi elevada à categoria de município no ano de 1885. Entre 1889 e 1929, a população rural era predominante na área onde foi realizado o estudo. Havia pelo menos 30 famílias instaladas na zona rural.
“Era uma região com concentração de poder político, de onde saíram senadores e governadores naquela época. Na área de educação, havia ali um esforço maior que em outras cidades do mesmo porte. Em função desse desenvolvimento, houve um grande desmatamento, com a introdução de culturas de café, feijão, milho e frutas. Havia uma pressão de caça significativa e intensa extração de madeira. Naquele período, a população escrava foi substituída por imigrantes”, disse Verdade.
Com a crise financeira de 1929, a cultura de café foi subitamente abandonada, acarretando a recuperação da vegetação nativa. A depressão econômica causou um êxodo rural – os descendentes de escravos não permaneceram na região –, perda do poder político e retração dos esforços educacionais.
“Entre 1930 e 1975, houve um considerável processo de revegetação nativa – área de transição entre Cerrado e floresta semidecídua – e uma diminuição sensível da pressão de caça”, disse.
Entre 1975 e 2005, a população rural da área estudada passou por outra retração: restaram apenas cerca de dez famílias. “Mas o desmatamento da vegetação nativa voltou a aumentar, com o avanço dos pastos e da pecuária. Algumas árvores permaneceram no meio dos pastos, modificando a composição da paisagem. A pressão de caça voltou a ser significativa”, disse o pesquisador.
Em 2005, com a chegada da silvicultura, a população diminuiu ainda mais. Restaram duas ou três famílias. A legislação ambiental garantiu a implementação de áreas de preservação permanente (APP) e da reserva legal (RL).
“Graças a isso, está ocorrendo um novo processo de revegetação nativa e a pressão de caça voltou a diminuir. O esforço educacional do começo do século 20 também retornou, na forma de um esforço científico, com o nosso Projeto Temático e outras ações de pesquisa. Hoje, encontramos uma paisagem ainda mais modificada pelo advento da silvicultura, com eucaliptos no meio dos campos, por exemplo”, afirmou.
O caso de Angatuba, segundo Verdade, ilustra os processos que ocorreram de maneira geral em todo o Estado de São Paulo. “As mudanças ocorridas no estado se devem a transformações econômicas ao longo do processo histórico – e não tanto a transformações biológicas. As atividades econômicas vêm movendo os processos ecológicos e agrícolas”, disse. 

Perspectivas econômicas
A biologia da conservação passou por diferentes momentos desde sua origem na década de 1970, a partir da obra do biólogo norte-americano Michael Soulé, que hoje atua na Universidade da Califórnia em Santa Cruz, Estados Unidos. No início, a preocupação estava voltada principalmente para as populações pequenas, submetidas ao risco de extinção.
“A partir disso, houve o desenvolvimento de outras disciplinas ligadas á conservação biológica, incluindo a Ecologia da Paisagem e a medicina da Conservação. Em um dado momento, passou-se também a pensar nas dimensões econômicas ligadas aos processos de conservação de biodiversidade. Nesse sentido, Robert Costanza, da Portland State University, dos Estados Unidos, destaca que o “investimento na conservação sempre implica em custos”, disse Verdade.
Outra corrente, liderada pelo australiano Graeme Caughley (1937-1994), prega que são os processos demográficos de declínio populacional, envolvendo taxas de natalidade e de mortalidade, que empurram as populações para as extinções. A extinção, portanto, não seria apenas um problema de populações pequenas.
“Nessa perspectiva, há poucas alternativas em termos de conservação. Em um primeiro momento, podemos tentar aumentar o número de indivíduos de uma espécie que sofreu declínio populacional indevido. Nesse sentido, pode-se considerar a conservação como uma prática de manejo de espécies ameaçadas”, explicou.
Outras práticas possíveis são o controle de populações que tenham crescido indevidamente, ou o manejo para se alcançar o máximo rendimento sustentável de populações com valor econômico para caça, pesca ou coleta.
“Mas a motivação econômica para o manejo ocorre especialmente em duas categorias de populações: as ‘pragas’ e as espécies com valor econômico. As espécies consideradas ‘pragas’, são algumas dezenas. As de valor econômico – assim como as espécies ameaçadas – são contadas às centenas. A maior parte das espécies – alguns milhões delas – não se encaixam, no entanto, em nenhuma dessas categorias”, disse o professor da Esalq.
Quando se trata de controle na perspectiva da dimensão econômica, o objetivo é promover a extinção da espécie em questão. “Mas raramente temos sucesso com isso. Estudos mostram, por exemplo, que fêmeas de coiotes de populações sob alta pressão de caça ovulam mais que fêmeas de populações não caçadas. Exceto em relação a alguns grandes mamíferos, predominam exemplos de fracasso no manejo visando ao controle. Nunca vamos extinguir as baratas, por exemplo”, afirmou.
Quanto à exploração econômica das espécies, Verdade conta que os fatores culturais têm um papel que nem sempre é levado em conta. “No Brasil, por exemplo, somos muito conservadores em relação à pesca e muito liberais em relação à pesca. Na caça não se pode nada, com algumas exceções. E na pesca, pode-se tudo, com algumas exceções”, disse.
A visão da sociedade em relação à caça/pesca esportiva, segundo o cientista, é muito mais negativa que em relação à caça/pesca comercial. Mas a caça esportiva traria consigo um componente cultural, não econômico: o caçador quer perpetuar o animal para poder caçar sempre.
“O aspecto cultural assegura que o objetivo da atividade em si seja não econômico, o que permite sua perpetuação. A lógica econômica da caça comercial, por outro lado, tem como objetivo a exaustão de uma espécie e, em seguida, a busca de outra espécie até sua exaustão e assim sucessivamente. No entanto, ela é mais tolerada que a caça esportiva”, disse o membro da coordenação do Biota-FAPESP. 

Desenvolvimento de mão dupla
A agricultura tem um impacto muito maior do que a caça na alteração do ambiente. A atividade agrícola traz benefícios inegáveis, de acordo com ele, permitindo o acúmulo de alimento. Mas traz também problemas ambientais.
“Justamente por ter permitido o adensamento populacional urbano, a atividade agrícola tem um custo ambiental altíssimo, gerando poluição e doenças. A agricultura gera riqueza e podemos dizer que ela viabilizou a civilização. Até mesmo as guerras só passaram a existir graças a ela, porque os exércitos só podiam se locomover se tivessem comida acumulada. Antes da agricultura só havia guerrilha”, disse Verdade.
Fenômeno ligado à economia, o desenvolvimento, de modo geral, traz consigo dois custos ambientais significativos: o aumento do consumo de energia e a destruição do habitat de certas espécies. Essa destruição do habitat teria extinguindo mais espécies que a própria caça.
“O processo de desenvolvimento leva a uma situação peculiar: quando a vontade individual se sobrepõe à vontade coletiva, normalmente se opta pelo benefício individual, o que leva ao colapso do sistema. Se não houver certa regulamentação, não se pode pensar na manutenção da funcionalidade do sistema. Para a coletividade brasileira, por exemplo, seria mais interessante manter um Código Florestal mais conservador. Mas, para setores individuais, o benefício vem com a relativização do código”, afirmou.
Nesse contexto a solução pode estar na valoração da economia dos serviços de ecossistemas – como a água e os polinizadores, por exemplo. “Mas esse processo de valoração tem limitações e requer avanços tecnológicos. As regulações exigem fiscalização. E os preços de mercado são flutuantes, o que dificulta a tarefa”, disse Verdade.
Para o cientista, o estudo do caso de Angatuba, colocado em perspectiva histórica da biologia da conservação, sugere que a atribuição de valor econômico não basta para preservar os recursos naturais. Segundo ele, há valores econômicos envolvidos – valores históricos, culturais e estéticos – que não podem ser negligenciados.
“O mercado varia, os preços caem e as crises acontecem. Há possibilidade de agregar valores à conservação da biodiversidade, de forma que o processo evolutivo seja mantido da melhor maneira possível. Nesse aspecto, as dimensões econômicas podem ser interessantes. Mas, se não agregarem valores não-econômicos, serão incapazes de garantir por si só a conservação da biodiversidade”, disse. 

Mata Atlântica terá 320 pontos estudados em 2012.

A partir desse mês, a Mata Atlântica fluminense vai passar por um raio X. Durante todo o ano, cinco equipes formadas por cinco especialistas da Secretaria Estadual do Ambiente farão o inventário da biodiversidade de 320 pontos da floresta em todo o Estado. Segundo a superintendente de Biodiversidade e Florestas da secretaria, Alba Simon, o objetivo é determinar a situação real da Mata Atlântica para que possam ser implantadas políticas públicas mais efetivas de conservação da floresta.
“Vamos fazer a coleta do solo, da vegetação, a contagem de carbono no local e perguntar às comunidades próximas a esses pontos qual o uso pessoal e econômico que elas fazem dos recursos naturais da floresta, se usam a madeira para combustível, se usam ervas para a saúde. A conclusão do inventário nos dirá em que situação se encontra a Mata Atlântica”, disse Alba, ao explicar a pesquisa, que terá apoio de especialistas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
O material coletado do solo será enviado à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para análise e o da vegetação, para o Jardim Botânico. De acordo com Alba, os estudos mais atuais indicam que a Mata Atlântica tem hoje entre 21% e 27% de cobertura florestal. No entanto, são estudos feitos com base em imagens de satélite, o que dificulta estabelecer com precisão o estado da floresta.
“Nunca pisamos no solo para ver o que são esses 27%, se são um bando de jaqueiras, por exemplo. Queremos crer que não, pois são fragmentos florestais, mesmo assim, precisamos saber o que estamos preservando nas unidades de conservação”, disse ela.
A pesquisa dará prioridade às áreas de unidades de conservação e lugares onde estão programados licenciamentos para empreendimentos de grande porte. A superintendente de Biodiversidade e Florestas da Secretaria de Ambiente lembrou que existem no estado do Rio empreendimentos com grande impacto ambiental previsto para os próximos anos e disse que, com o estudo, será possível haver mais rigor no licenciamento.
“Na Bacia de São João, por exemplo, há vários projetos de grande impacto e, por isso, vamos correr e conhecer primeiro, antes de licenciar. Se o inventário tivesse sido feito antes do Comperj [Complexo Petroquímico da Petrobras], não haveria toda essa gritaria agora”, disse ela, ressaltando os impactos socioeconômicos e ambientais em Itaboraí com a implantação do Comperj, contestada por ambientalistas e moradores da região.
“Este é o marco zero de uma política séria para a conservação da biodiversidade no estado do Rio de Janeiro”, completou Alba Simon.
O estudo do Rio será o segundo inventário feito no país – o primeiro foi em Santa Catarina. A ideia é que os 15 estados que compõem a Mata Atlântica mapeiem suas florestas para criar um inventário nacional, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente. O projeto custará cerca de R$ 5 milhões, com recursos do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano e do Fundo da Mata Atlântica. A meta do ministério é realizar o inventário a cada cinco anos.
A pesquisadora disse que espera com o inventário revelar um retrato fiel e cruel da Mata Atlântica, com base nos resultados de Santa Catarina. “A mata está muito rala, fragmentada, sem continuidade. O resultado foi muito ruim com relação à quantidade, qualidade, biodiversidade. Encontram mais espécies em extinção do que previam”, destacou.
Se os resultados do inventário do Rio forem similares aos de Santa Catarina, Alba defende que se tripliquem os investimentos em conservação, restauração e reflorestamento. “A biodiversidade é a espinha dorsal dos outros serviços. Sem serviço ambiental não temos nada mais”.
No dia 27 de maio de 2012, data comemorativa da Mata Atlântica, será divulgada uma prévia do censo da floresta. (Fonte: Flávia Villela/ Agência Brasil)

 Fonte:

Área de Mata Atlântica existente no Rio de Janeiro será mapeada em 2012

Em janeiro, o governo do Rio de Janeiro deve iniciar o censo da Mata Atlântica, que vai verificar a quantidade e a qualidade das florestas existentes no estado, além de contribuir para formulação de políticas públicas voltadas à preservação ambiental.
O levantamento, que deve durar oito meses, analisará regiões de mata nativa ou reflorestadas do Rio, mapeará as espécies predominantes, os problemas existentes nas áreas preservadas e também vai reunir informações para o Inventário Florestal Nacional, organizado pelo Ministério do Meio Ambiente e que reunirá dados dos biomas do país. O investimento estimado é de R$ 5 milhões.
De acordo com Alba Simon, superintendente de Biodiversidade e Florestas da Secretaria Estadual do Ambiente (SEA), serão colhidas amostras de 320 pontos do estado para análise do solo e das espécies de plantas existentes.
Também será realizado um inventário de carbono, ou seja, será possível estimar quanto está armazenado de CO2 no solo onde estão as árvores. “De todo o território do estado, 27% é de cobertura florestal. Agora, vamos colocar uma lupa e realizar um retrato real, talvez cruel, da biodiversidade”, afirma Alba.
Pressão econômica – A superintendente cita que as florestas têm sofrido uma forte pressão devido ao desenvolvimento econômico do estado e que há necessidade de criar maneiras de evitar o avanço de licenças de instalação de novos empreendimentos industriais sobre áreas de preservação.
“Estamos licenciando muitos empreendimentos de alto impacto. Isso significa mais pressão sobre os fragmentos florestais. Precisamos saber a situação da vegetação em áreas, por exemplo, que estão próximas à construção de novos portos ou de complexos petroquímicos”, explica.
De acordo com estudo divulgado em setembro pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), entre 2011 e 2013 o estado vai receber investimentos privados que somarão R$ 181,4 bilhões. O montante dividido por cada quilômetro quadrado do estado (43,7 mil km², segundo o IBGE) equivale a R$ 4 milhões.
Combate a crimes ambientais – De acordo com Alba, as unidades de conservação e parques também serão monitorados. Para isso, imagens de satélite serão analisadas nos próximos seis meses para detectar possíveis infrações.
“Queremos verificar se existe a necessidade de criação de novas áreas de preservação ou mesmo se será preciso modificar as categorias de conservação já existentes”, disse.
Também será realizado um questionário com famílias que moram dentro dessas regiões ou nas proximidades e que utilizam os recursos naturais. “Queremos saber a percepção dessas pessoas em relação à água e à floresta. Elas responderão como as espécies nativas contribuem na renda familiar”, disse Telmo Borges, coordenador do inventário florestal no estado. (Fonte: Eduardo Carvalho/ Globo Natureza)

Formigas em combate tomam decisões democraticamente

Não é raro achar elogios à sociedade das formigas nos textos de ideólogos humanos que simpatizam com o autoritarismo. Esses sujeitos não poderiam estar mais enganados, diz Mark Moffett.
“De fato, as formigas mostram devoção inquestionável à sua sociedade, mas isso é muito diferente da devoção a um líder político ou a uma hierarquia”, explica o pesquisador americano.
“Não existe ninguém controlando as vidas delas”, diz Moffett. Nos combates, não há “oficiais” dando ordens. Cada formiga que encontra um inimigo deixa um rastro de feromônios (odores especiais que funcionam como sinalizadores químicos).
Votando com o cheiro – O aroma recruta outras “soldadas” para a pancadaria, as quais também liberam seus próprios feromônios.
Quanto mais formigas reforçarem o rastro, mais forte será o sinal de alarme enviado para o formigueiro.
Da mesma forma, assim como entre os britânicos, a rainha reina, mas não governa, lembra Moffett. Ela é apenas a reprodutora oficial (as operárias, de todos os tipos, costumam ser estéreis).
Moffett diz que andou por todos os países da América do Sul (além dos demais continentes) em busca dos insetos. Ele não tem uma formiga brasileira favorita.
“Seria impossível escolher uma só. A melhor coisa no Brasil é a diversidade de formigas, que é maior do que em qualquer outro lugar do mundo”, diz.
A próxima parada do pesquisador, na semana que vem, é a Etiópia. “Vou escalar árvores nos últimos fragmentos de floresta que restam por lá, localizados em torno de igrejas”, conta. (Fonte: Reinaldo José Lopes/ Folha.com)

Vice Prefeito se reúne com moradores da Ilha do Governador para falar sobre a Vila Olímpica do bairro

Na última quinta-feira do ano o Vice Prefeito e também Secretário Municipal de Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz se reuniu com moradores da Ilha do Governador para falar sobre o projeto da Vila Olímpica dentro da APARU do Jequiá. 
Um grupo de moradores contrário a construção da vila olímpica dentro da área protegida compareceu com camisetas e faixa para o debate a respeito do projeto e de sua localização. O grupo fez questão de afirmar que não é contra sua construção e sim quanto a sua localização, segundo eles, existem outras áreas do bairro que precisam de maiores atenções do que aquela em que está no projeto além dessa está localizada dentro de uma área de proteção muito sensível aos impactos que serão apresentados.
O Vice Prefeito apresentou modificações no projeto original orçado em R$ 19.153.656,61, que pretendia inicialmente ocupar uma área de 26.817m², sendo 17.547m² de área construída, no novo projeto apresentado a comunidade ocupa uma área menos, foi modificado para diminuir o “impacto” e pretende ocupar uma área de 17mil m², desses 3.500 m² de área construída dentro da APARU do Jequiá.
Em nenhum momento o secretário Muniz cogitou a mudança de local, muito pelo contrário, segundo ele "será ali porque foi ali que foi escolhido e pronto", no entanto as modificações foram adequadas à localização e ainda será utilizado material especial, árvores de mangues serão plantadas e o Rio Jequiá será tratado pela RioÁguas.
Foi sugerida a criação de um Grupo de Trabalho para estudar o projeto, seus impactos e possíveis modificações no projeto apresentado. Os nomes dos integrantes irão representar o grupo contrário será apresentado ao sub prefeito Victor Accioly para que este monte o GT.
Independentemente da posição da prefeitura o grupo contrário à Vila Olímpica na APARU vai continuar agindo recolhendo assinatura e via Ministério Público e quem tiver interesse em se juntar ao grupo e conhecer as opiniões e ajudar, entre no grupo criado no Facebook "Diga não à Vila Olímpica na APARU do Jequiá".

domingo, 1 de janeiro de 2012

Afogamento no mar é pior que em água doce, dizem especialistas


A chegada do verão e o aumento de calor elevam o número de casos de afogamento no Brasil, especialmente no litoral. Segundo especialistas, esse risco é ainda maior quando o banhista está no oceano, já que uma quantidade menor de água salgada pode causar o mesmo estrago que um volume maior aspirado em rios e lagos.
O afogamento ocorre quando o organismo transporta muita água doce ou do mar para os órgãos usados na respiração: traqueia, brônquios e, principalmente, pulmões. Em casos menos graves, pode acontecer o “quase afogamento”: a pessoa também recebe uma grande quantidade de líquido estranho ao corpo, mas não chega a perder a consciência.
Quando a água se deposita dentro dos pulmões, a troca de gases que o órgão faz para garantir a chegada de oxigênio às células fica prejudicada. “Os pulmões têm uma área de 80 metros quadrados para a respiração. Quando alguém se afoga, uma parte significativa desse espaço é comprometida”, explica o pneumologista Lúcio Souza dos Santos, que atende na emergência do hospital paulista A.C. Camargo.
A gravidade do afogamento depende de quanto tempo o indivíduo passou com água em excesso nos pulmões. Mas o volume de líquido também é importante, e costuma ser maior quando a vítima está no mar. “A água salgada tem muito sódio, que entra nos alvéolos pulmonares e atrai uma grande quantidade do líquido que fica entre as células [material intersticial]”, diz o especialista.

Mergulhos perigosos – Os médicos recomendam que as pessoas saibam a profundidade do lugar onde estão entrando para nadar. “É preciso entrar aos poucos na água quando não se conhece o local, e jamais mergulhar de cabeça”, aponta Santos. “Se você bebeu ou tomou algum remédio ou substância que prejudique sua consciência, também deve ficar longe da água”, completa.
Evitar nadar em águas muito profundas em rios e mares é outra indicação importante. “É sempre bom ficar em um lugar em que você possa ficar de pé e não precise ficar nadando para não afundar”, afirma o pneumologista.
Já o ortopedista Alexandre Fogaça, do Hospital das Clínicas de São Paulo, lembra que brincadeiras perto de piscinas são tão perigosas quanto a imprudência ao mergulhar. “Fora o risco de afogamento, se um acidente acontecer a pessoa pode bater as costas no fundo da piscina e ficar paraplégica”, diz. Segundo ele, os mergulhos representam a quarta principal causa de lesão na medula.

O que fazer – O primeiro passo ao notar que alguém está se afogando é tentar manter a calma e buscar ajuda. “Se você estiver no mar, tente avisar alguém”, sugere Santos. “E apenas tente salvar a vítima de dentro da água se você aguentar o peso dela. Caso contrário, podem ser duas pessoas se afogando”, alerta.
Ao retirar o acidentado da água, é preciso prestar atenção nos sinais vitais. “Se o indivíduo estiver roxo, é preciso fazer massagem cardíaca”, destaca. “Para casos em que você consiga sentir o pulso dele no pescoço ou na virilha, é possível tentar tirar a água acumulada nos pulmões.”
Para remover o excesso de água, a vítima deve ser deitada com a barriga para baixo e a cabeça de lado. “Nessa posição, quem estiver ajudando pode comprimir as costas, começando perto do quadril e subindo até o tórax”, diz o pneumologista. O procedimento deve ser repetido até que a pessoa tussa e libere a água retida no organismo. 

(Fonte: Mário Barra/ G1)