Por: Teresinha Victorino, 2010
“O homem está constantemente agindo sobre o meio a fim de satisfazer suas necessidades e desejos. Cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente frente às ações sobre o meio.”
(BEZERRA e GONÇALVES, 2007)
A visão de Meio Ambiente para diversos autores é muito distinta. Portanto, vários são os conceitos existentes. Optamos neste trabalho, usar a definição dada por Reigota, (1998), na qual o Meio Ambiente é “um lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído.”
O ser humano tem em comum com os outros seres vivos o fato de dividir o mesmo planeta. Entretanto o crescimento populacional e o declínio dos recursos naturais estão colocando a Terra sob grande tensão, (COX e MOORE, 2009).
A relação ser humano/natureza não tem sido muito harmoniosa, principalmente a partir da metade do século XIX até os dias atuais. A problemática ambiental é um dos grandes desafios que os seres humanos precisam enfrentar para se manterem vivos, assim como todas as outras espécies viventes na Terra.
O conhecimento técnico-científico adquirido nos últimos séculos pelo ser humano não foi capaz de suprimir a miséria em que se encontra grande parcela da população da Terra e muito menos o processo de devastação ambiental, esse sem precedentes na história, (GONÇALVES, 2002).
A devastação ambiental é uma grave ameaça aos sistemas de suporte à vida. Os ecossistemas, fornecedores de inúmeros benefícios, os quais são responsáveis pela viabilidade da vida de todos os seres e sistemas, seriam afetados. Eles, além de regularem o clima e os ciclos das águas e das doenças, oferecem serviços de provisão de água, alimentos, combustíveis e recursos genéticos, bem como serviços de suporte na formação dos solos e dos ciclos de nutrientes vitais à produção de alimentos, além de “serviços culturais, como referências para valores espirituais e religiosos, estéticos e educacionais, lazer e turismo”. O bem-estar e a felicidade humanos seriam afetados por esses problemas, pois a relação entre a saúde e meio ambiente é muito estreita. A saúde humana está relacionada com a saúde dos ecossistemas, existe uma relação entre os serviços de ecossistemas e bem-estar humano, (FREITAS e PORTO, 2006).
Para Loureiro (2002), a degradação ambiental resulta da interação complexa de fatores da economia, da política, tecnológicos e culturais. E, a base dessa degradação está no capitalismo como modelo de sociedade. Modelo esse, que afeta grande parte da população humana ao reforçar os mecanismos de desintegração social e ambiental ao acelerar a apropriação de “bens ambientais pelos interesses privados”, (CARVALHO, 2002).
Levando-se em consideração que para a manutenção das relações dinâmicas entre as espécies de vida no planeta é necessário que haja o equilíbrio biológico, a conservação da biodiversidade é fundamental na busca pela qualidade de vida humana. Reconhecendo essa importância, o Brasil em sua Constituição Federal, artigo 225 é claro ao dizer que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações.”
Segundo Gomes (2002), existem visões diferentes e opostas do significado e da interpretação das questões ambientais. Uma delas é a ecocêntrica, onde o mundo natural tem valor em si mesmo, ou seja, ele precisa ser preservado para proteger a “natureza selvagem”, intocada. A outra visão é atropocêntrica, esta reafirma a primazia do ser humano sobre o mundo natural, na qual ele usa e se beneficia da natureza em benefício próprio. A terceira visão é de uma sociedade sustentável, que aponta para a necessidade de conservar os recursos naturais e o seu uso racional e criterioso em busca da qualidade de vida.
Os efeitos da pobreza estão relacionados com determinados tipos de pressão ambiental. Os altos padrões de consumo e produção por parte da minoria da população, são responsáveis pela deterioração ininterrupta do meio ambiente, esta minoria não consegue distinguir entre o que é necessário e o que é desejo. Os mais graves problemas ambientais hoje enfrentados são de ordem econômica mundial, caracterizada pela crescente produção e consumo, esgotando e contaminando os recursos naturais e promovendo cada vez mais a distância entre ricos e os pobres, (PORTILHO, 2005). A desigualdade social é um dos piores males que a sociedade moderna criou e ela mesma sofre. O modelo de desenvolvimento econômico, social e tecnológicos e suas pressões sobre o meio ambiente alteram a qualidade e geram exposições ambientais que resultam em efeitos sobre a saúde humana, (FREITAS e PORTO, 2006).
A grande diferença entre os seres humanos e os outros seres animais da Terra é o fato dele ter consciência e religiosidade, entretanto as atividades dos animais são movidas apenas pelas necessidades, enquanto a dos seres humanos vão além disso.
Para Freitas e Porto (2006), a saúde possui além da dimensão biomédica, dimensões éticas, sociais e culturais. Fatores sociais e ambientais como emprego, condições de vida e trabalho, má distribuição de renda, qualidade e sustentabilidade do ambiente, afetam a saúde ou o bem-estar coletivo e pessoal. Para os autores, a saúde vem sendo objeto de negociação e conflito dentro da sociedade de acordo com os valores e interesses relacionados com as estruturas de poder e distribuição de recursos.
A sustentabilidade deve ser adquirida através de estilos de vida que possibilitem a compatibilização entre a proteção ambiental e o bem-estar dos seres vivos. Para Gonçalves (2002), “a ética, sobretudo, nos faz um chamamento ao sentido de responsabilidade de nossos atos.”
Segundo a UNESCO, o desenvolvimento sustentável, aqui chamado de sustentabilidade, é o objetivo mais decisivo da relação "homem-natureza". E, todo processo educativo deveria ser reformulado para alcançá-la, (SAUVÈ, 1997).
Sauvè (1997) identifica seis concepções paradigmáticas sobre o ambiente, cujas diferenças, podem ser observadas nas abordagens pedagógicas. O Ambiente como natureza, ele como recurso, como problema, como um lugar para se viver, como biosfera, como projeto comunitário, ver quadro 1 . Para a autora cada uma dessas seis concepções está no centro da representação social e, o foco pode ser enriquecido por uma outra concepção ou pela combinação dos elementos característicos de duas ou mais. Essas seis concepções são complementares entre si e “podem ser combinadas em diversos caminhos”.
Características de Meio Ambiente, conforme Sauvè, (1997).
Meio Ambiente - Características
Como natureza - a natureza como catedral, ou como um útero, pura e original.
Como recurso - herança biofísica coletiva.
Como problema - ênfase na poluição, deterioração e ameaças.
Como lugar pra viver - a natureza com os seus componentes sociais, histológicos e tecnolológicos.
Como biosfera - espaço nave terra, “Gaia”, a interdependência dos seres vivos com os inanimados.
Como projeto comunitário - a natureza com foco na análise crítica, na participação política da comunidade.
No Brasil, Reigota (1991) é um dos autores emblemáticos por ter criado uma tipologia em que as visões de Meio Ambiente são categorizadas em três tipos, Naturalista, Antropocêntrica e Globalizante, (PEDRINI, 2008)
Segundo, Soares (2005), a visão de Reigota estabelece o conceito de ambiente como uma representação social, uma visão que evolui no tempo e que “depende do grupo social em que é utilizada. São essas representações, bem como as suas modificações ao longo do tempo que importam: são nelas que se busca intervir quando se trabalha o tema ambiente”, como pode ser verificado no quadro 2.
Tipologia de Meio Ambiente, segundo Reigota, (1991).
Tipologia - Descrição do Meio Ambiente
Naturalista - Meio como sinônimo de natureza intocada, caracterizando-se tipicamente pelos aspectos naturais.
Antropocêntrica - Meio como fonte dos recursos naturais para a sobrevivência do ser humano.
Globalizante - Relações recíproca entre natureza e sociedade.
Bezerra e Gonçalves (2007) citam Reigota, ao afirmarem que “é necessário conhecer as concepções das pessoas envolvidas sobre meio ambiente, pois, só assim será possível realizar atividades de educação ambiental”. E citam também, que de acordo com Sauvè, “diferentes abordagens e estratégias pedagógicas estão relacionadas às representações que os indivíduos ou grupos sociais têm de ambiente e aos objetivos e características que atribuem ao trabalho em EA.”
Já Pinheiro (2004), cita o conceito do autor Silveira, como sendo o “meio-ambiente um sistema aberto composto por outros ambientes e momentos em que o homem esteja exercendo suas atividades. A intensidade, a forma, o tipo de atividade e o perfil do praticante, são condicionantes que determinarão o nível de influências mútuas nessas interações e o reflexo na qualidade ambiental.”
“Não é possível a transformação das relações humanas na natureza, sem a mais radical transformação social.”
(LOUREIRO, 2007).
Eunice Trein, (2007) aponta para a necessidade da reflexão sobre as transformações sociais, visto estas não serem apenas possível, mas também necessárias à construção de uma nova independência entre a natureza e o trabalho humano. Para a autora, os humanos se relacionam com a natureza e com os outros humanos a fim de garantir sua sobrevivência, entretanto, suas relações “não se dão apenas pela produção de bens materiais, mas também pela construção de projetos societários que implicam a criação de regras de convivência e tudo que delas decorre”.
Pedrosa, (2007) cita que em um dos manuais da UNESCO há uma referência paradigmática sobre a Educação Ambiental em que diz que ela é “uma nova forma de encarar o papel do ser humano no mundo”
Partindo do princípio que o mundo é um só, os problemas sociais, políticos, econômicos e de preservação da natureza não se limitam a fronteiras. A sociedade atual exige “solidariedade e cooperação” também sem fronteiras. Somente o discurso ambientalista e de boa-fé para a salvação do planeta das classes dominantes não é suficiente para levar os seres humanos ao “paraíso”, (LOUREIRO 2003).
O ser humano é dotado de consciência, o que o diferencia dos outros seres vivos, e de diferenças ideológicas que o diferencia entre si, daí a importância dos diálogos entre os diversos atores de uma sociedade. Para mudar uma sociedade é preciso primeiro corrigir o nosso modo de pensar. O “enfoque que damos ao meio ambiente não deve ser materialista, mas sim humanos”, frase de Renè Dubos citada por Ikeda (2005).
O desejo de transformar a sociedade atual numa sociedade sustentável, harmoniosa com a natureza e com os seus semelhantes, só pode acontecer através de parcerias, consensos e muitos diálogos realistas acerca dos padrões de valores hoje tidos como fundamentais.
“A civilização material desperdiça nossa herança de combustível fóssil e sacrifica as gerações na busca arrogante da prosperidade. Devemos deter essa tendência o mais rápido possível”.
(DAISAKU IKEDA, 2005)
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