quarta-feira, 21 de abril de 2010

Biodiversidade Brasileira

Por:  Teresinha Victorino, 2010

“Na costa leste da América do sul, estendia-se outrora uma imensa floresta ou, mais precisamente um complexo de tipos de florestas ... interiorizava-se a cerca de cem quilômetros da costa no norte e alargava-se mais de quinhentos quilômetros no sul ... cobria cerca de 1 milhão de quilômetros quadrados. Esse complexo tem sido chamado de Mata Atlântica brasileira, associado a outra muito maior, a Floresta Amazônica, mas distinto dela. Em conjunto, as duas florestas formavam uma zona biogeográfica diferente e mais rica em espécies que as outras florestas tropicais do planeta ... A Mata Atlântica era em si mesma de uma diversidade extraordinária, levando-se em conta seu tamanho relativamente modesto. E continha um número impressionante de espécies endêmicas ... ainda que partilhasse com a Floresta Amazônica a mesma geomassa continental e estivesse, durante longos períodos geológicos, em contato parcial com ela.”
(WARRE DEAN, 1996)
 
O Brasil, com dimensões continentais é um dos países considerados como megadiversos, devido à riqueza da sua diversidade macro e microbiológica, (BENTES e GAMA, 2003), também considerado um dos principais fornecedores de flora e fauna para o mercado mundial, (FERREIRA et al. 2008). Estima-se que em seu território exista 10% de todas as espécies existentes no planeta, (FERREIRA et. al. 2008) e que cerca de 45% de seu produto interno bruto seja derivado da utilização desses recursos, (BENTES e GAMA, 2003).
O país possui uma das mais ricas floras do planeta, com mais de 56 mil espécies, que correspondem há quase 19% de toda flora mundial, (GIULIETT et al. 2005). Em relação à fauna, o Brasil guarda em seus biomas 524 espécies de mamíferos, 131 deles endêmicos; 517 anfíbios, sendo 294 endêmicos; 1622 espécies de aves, 191 delas endêmicas; 468 répteis, 178 endêmicos, “aproximadamente 3.000 espécies de peixes de água doce e uma estimativa de 10 a 15 milhões de insetos”, (BENTES e GAMA, 2003).
O Brasil é possuidor da maior área verde do planeta, a Floresta Amazônica e, em seu território podem ser encontrados dois Hotspots importantes, a Mata Atlântica e o Cerrado.
A megadiversidade da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica brasileira, essa última, considerada um dos três mais importantes Hotspots e um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta, (FONSECA et al., 1999) eleva o país a uma situação privilegiada em relação aos outros, (ABREU, 2006).
O bioma Mata Atlântica que se estendeu do Rio Grande do Norte e Ceará até o Rio Grande do Sul, ocupava aproximadamente 1.200.000 km. Foi a primeira região do país a ser colonizada, hoje é o centro-industrial do Brasil e duas das três maiores cidades da América do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro localizam-se em sua porção central.
O bioma que compreende a região costeira do Brasil com clima equatorial ao norte e quente temperado sempre úmido ao sul tem temperaturas médias elevadas durante o ano todo e não apenas no verão, (MARTINS et. al).
A Mata Atlântica, o segundo maior bloco florestal do país, em sua área, hoje urbanizada, abriga 70% da população brasileira e é responsável por 80% do produto interno bruto. Seriamente ameaçada, já perdeu mais de 70% de sua cobertura vegetal, ainda assim, guarda em suas matas 1361 espécies de mamíferos, anfíbios, répteis e aves, sendo 42 delas endêmicas. Possui 20 mil espécies de plantas, oito mil endêmicas, (MESQUITA, et al. 2006).
O Bioma Mata Atlântica, foi reconhecido pela UNESCO como Reserva da Biosfera da Rede Mundial sendo a primeira unidade declarada no país. É a maior reserva da biosfera em área florestada do planeta, com cerca de 35 milhões de hectares, abrangendo áreas de 15 dos 17 estados brasileiros onde ocorre, estende-se desde o Ceará até o Rio Grande do Sul, “avançando mar afora englobando diversas ilhas oceânicas como Fernando de Noronha, Abrolhos e Trindade e adentrando no interior de vários estados costeiros, bem como em Minas Gerais e Mato Grosso do Sul”, (RBMT).
A Mata Atlântica é vista como um mosaico diversificado de ecossistemas, com estruturas e composições florísticas diferenciadas devido às diferenças de solo, relevo e características climáticas existentes na área de sua ocorrência no país, (IBAMA).
No bioma, diversos ecossistemas tropicais são encontrados, como os ecossistemas florestais e os ecossistemas associados de Mata Atlântica, (IBAMA), como:

• A totalidade da Floresta Ombrófila Densa, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte;
• As Florestas Estacionais Deciduais e Semi¬deciduais do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo;
• Florestas Estacionais Semideciduais de Mato Grosso do Sul (vales dos rios da margem direita do rio Paraná), Minas Gerais (vales dos rios Paranaíba, Grande e afluentes), Minas Gerais e Bahia (vales dos rios Paraíba do Sul, Jequitinhonha, rios intermediários e afluentes) e de regiões litorâneas limitadas do Nordeste, contíguas às florestas ombrófilas;
• Totalidade da Floresta Ombrófila Mista e os encraves de Araucária nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais;
• Formações florísticas associadas (man¬guezais, vegetação de restingas e das ilhas litorâneas);
• Encraves de Cerrados, campos e campos de altitude compreendidos no interior das áreas acima;
• Matas de topo de morro e de encostas do Nordeste (brejos e chás), particularmente as do Estado do Ceará, com ênfase nas da Serra de Ibiapaba e de Baturité, e nas da Chapada do Araripe;
• Formações vegetacionais nativas da Ilha de Fernando de Noronha.

Sua maior devastação foi observada nas áreas planas da região costeira, hoje, o bioma encontra-se reduzido e fragmentado com remanescentes florestais localizados geralmente em áreas de difícil acesso. A preservação desses remanescentes garante a contenção de encostas, serve de abrigo para várias populações tradicionais, incluindo nações indígenas, comunidades caiçaras e quilombolas, além de nele estar localizados mananciais hídricos essenciais para abastecimento de cerca de 70% da população brasileira, (IBAMA).

Com mais de sete mil km de extensão litorânea, o país detém pouco conhecimento sobre os seus ecossistemas marinhos e costeiros, principalmente no tocante aos seus padrões de biodiversidade e sua utilização pelas comunidades locais. Os ecossistemas marinhos situados até 12 milhas da costa, como os recifes de corais, que abrigam grande biodiversidade, precisam ser mais conhecidos e priorizados, de forma a integrar uma proposta nacional mais abrangente para a conservação da biodiversidade marinha. Os recifes de coral são ecossistemas extremamente ricos em recursos naturais e de “grande importância ecológica, econômica e social para o país, atua como repositórios de recursos pesqueiros, além de contribuírem para a proteção da orla marítima, e para o desenvolvimento da economia regional, através do turismo e de vários recursos utilizados pelas comunidades costeiras”, (FONSECA, RYLANDS e PINTO, 1999).
O tema biodiversidade está constantemente na mídia brasileira, mesmo assim, grande parte dos brasileiros não compreende as funções ecológicas de seus componentes, e muito menos conhece o seu valor intrínseco, é fundamental difundir o conceito e o valor da biodiversidade para a população e o país, como detentor de uma das mais ricas biodiversidades do planeta, tem a responsabilidade de criar condições necessárias para promover o desenvolvimento em consonância com a conservação e a exploração sustentável dos seus recursos biológicos, (ABREU, 2006).
A riqueza biológica dos ecossistemas brasileiros está extremamente ameaçada por conta do modelo de desenvolvimento da sociedade contemporânea, uma sociedade pautada nos valores de mercado, de consumo, nos quais, valores como ética, solidariedade, respeito à vida e a natureza estão relegados ao segundo plano.
As grandes ameaças que os biomas do Brasil sofrem estão relacionadas aos fatores como a erosão, a biopirataria, a introdução de espécies exóticas, a perda e fragmentação dos habitats, as mudanças climáticas, a expansão das fronteiras agrícolas e a exploração madeireira. Além disso, a vasta extensão do território brasileiro compromete a eficiência dos programas de conservação ambiental.
É importante que se tenha conhecimento da biodiversidade para conservá-la de forma integral. A falta de conhecimento pode agravar a degradação em áreas prioritárias nos diversos biomas brasileiros.
A introdução de espécies exóticas, considerada uma das mais graves ameaças à biodiversidade, e apontada como a principal causadora de extinção de centenas de espécies da fauna e da flora, (FONSECA et al., 1999) pode ser minimizada quando se tem conhecimento do perigo que essa ação pode gerar aos ecossistemas.
Fonseca et al. (1999), aponta a importância de se catalogar e utilizar como “instrumento adicional para orientar estratégias de conservação e uso sustentável da biodiversidade, o rico conhecimento que as populações tradicionais têm dos recursos biológicos do país, além de ser pouco valorizado nos programas de ensino formais.
Segundo Lewinsohn (2004) o país pertence a uma “minoria que se distingue pelo seu nível de desenvolvimento de pesquisa científica”, dentre os países ricos em biodiversidade. O Brasil conta com “um sistema acadêmico e de instituições de pesquisa bastante extenso e consolidado”, entretanto não tem capacidade autônoma para o conhecimento de sua biodiversidade. Mesmo existindo limitações fundamentais para este conhecimento, o país tem condições de superar parte delas e promover um avanço considerável na “extensão, organização e uso de informação sobre sua biodiversidade”. Para ele, a principal ciência para se conhecer a biodiversidade é a taxonomia, a “ciência que cuida da classificação e identificação dos seres vivos”, e, um dos elementos essenciais para conhecimento de biodiversidade é a descrição de novas espécies.
 
“Delícia é o termo insuficiente para exprimir as emoções sentidas por um naturalista que, pela primeira vez se viu a sós com a natureza no seio de uma floresta brasileira. A elegância da relva, a novidade dos parasitos, a beleza das flores, o verde luzidio das ramagens, e, acima de tudo, a exuberância da vegetação em geral, foram para mim motivos de uma contemplação maravilhada”.
(CHARLES DARWIN em 29 de fevereiro de 1932, quando chegou à Bahia)

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