segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Horta Escolar como Instrumento de Promoção do Meio Ambiente e da Qualidade de Vida

Por: Teresinha Victorino

O homem busca viver num lugar onde a vida moderna e o conforto se harmonizem com a conservação e a preservação da biodiversidade. Ou seja, buscamos a sustentabilidade planetária, e essa busca pela manutenção das relações dinâmicas entre as espécies é um dos grandes desafios que o ser humano precisa enfrentar. As “interações e processos fazem os organismos, as populações e os ecossistemas preservarem sua estrutura e funcionarem em conjunto”, (LEWINSOHN, 2001). O ser humano tem em comum com os outros seres vivos o fato de dividir o mesmo planeta, mas o crescimento populacional e o declínio dos recursos naturais estão colocando a Terra sob grande tensão, (COX e MOORE, 2009). A devastação ambiental é uma grave ameaça aos sistemas de suporte à vida.
Os ecossistemas, fornecedores de inúmeros benefícios, os quais são responsáveis pela viabilidade da vida de todos os seres e sistemas, seriam afetados. Eles, além de regularem o clima e os ciclos das águas e das doenças, oferecem serviços de provisão de água, alimentos, combustíveis e recursos genéticos, bem como serviços de suporte na formação dos solos e dos ciclos de nutrientes vitais à produção de alimentos, além de “serviços culturais, como referências para valores espirituais e religiosos, estéticos e educacionais, lazer e turismo”. O bem-estar e a felicidade humana seriam afetados por esses problemas, a relação entre a saúde e meio ambiente é muito estreita. A saúde humana se relaciona com a saúde dos ecossistemas, há uma relação entre os serviços dos ecossistemas e o bem-estar humano, (FREITAS e PORTO, 2006).
A Educação e o conhecimento são importantes no desenvolvimento de responsabilidades e na promoção de mudanças na relação homem/natureza, (MATTOS, 2006). Devemos pensar na nossa interação com a natureza de forma consciente, reflexiva e integrada. Nesse sentido, o meio ambiente e a qualidade de vida relacionam com a saúde e à cidadania.
O desconhecimento da Natureza gera ações predatórias cujas conseqüências muitas vezes podem ser irreversíveis, estudos sobre paisagens incluem a interrelação entre a Sociedade e a Natureza, (GUIMARÃES, 1998). Daí a importância da Educação Ambiental estar presente na vida do ser humano desde muito cedo. E, reconhecendo essa importância a Constituição Federal de 1988 dá à sociedade brasileira o direito fundamental à educação ambiental nos termos dos artigos 205 e 225. No inciso VI do artigo 225 o documento direciona ao Poder Público a tarefa de criar condições para a coletividade cumprir o seu dever de defender e proteger o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e as futuras gerações, por meio da educação ambiental. No ano de 1999, o país instituiu através da Lei 9795, a Política Nacional de Educação Ambiental - PNEA que diz que a EA é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. Em 14 de maio de 1991, o MEC instituiu a Portaria 678, que dispõe sobre a inserção da Educação Ambiental nos sistemas de ensino em todas as instâncias, níveis e modalidades, contemplando-a como tema/conteúdo instrucional. Essa portaria adverte que o nível de aprofundamento e a exploração da Educação Ambiental devem permear todo o currículo, buscando atender às demandas do cotidiano numa visão ampla da educação e sem a criação de matérias e disciplinas específicas, (PEDRINI, 2008).
A interdisciplinaridade por ser um facilitador na absorção de temas geradores de diálogos e embates, é importantíssima quando se trata de Educação Ambiental ao permitir maior abertura na visão e no entendimento dos alunos e professores daquilo que lhes são diferentes. As diferentes disciplinas ao se juntarem num mesmo objetivo, quebram antigos paradigmas e criam outros capazes de facilitar a percepção quando promovem linguagens partilhadas, mostram pluralidades dos saberes e criam possibilidades de trocas de experiências quando realizadas essas parcerias. A importância da boa relação e reciprocidade entre as diferentes áreas do saber além de romper com a fragmentação e a desarticulação do processo de construção do conhecimento, colabora na mudança de paradigma em busca de uma educação voltada para bem-estar da cidadania e equilíbrio ambiental, (SIQUEIRA, et al., 2005) ou seja, a sustentabilidade.
A vida moderna está pautada na conquista de uma boa colocação no mercado de trabalho e na conquista de bens materiais. O modelo capitalista da sociedade contemporânea agravou a desigualdade social, colocou em risco a relação do ser humano com a natureza e fez surgir diversos problemas sociais e educacionais que afetam a todos. Ao serem atingidas pela visão de que a conquista material é sinônimo de bem-estar e sucesso, as crianças podem se tornar adultos egocêntricos, preconceituosos e com valores éticos distorcidos, além muitos problemas de saúde acrescidos pelo afastamento da natureza e por ingestão de alimentos não balanceados e de rápido preparo.
É da terra que o homem tira o seu sustento e, o aprendizado de mexer a terra e prepará-la para o cultivo faz com que a relação homem-natureza ressurja. Muitos seres humanos acreditam que está relação está perdida e que o solo onde o seu alimento é retirado, não é nada além de terra, e para essa relação não há mais tempo na vida moderna. As crianças e adolescentes das cidades urbanizadas, fora da escola estão em frente a vídeo games, computadores e televisores, evitando o contato com o meio ambiente, (FRICK, 2008). A violência urbana está levando as crianças a terem menos contato com a natureza, esse distanciamento implica tanto na saúde das gerações futuras como da própria Terra. Com medo do perigo, os pais as protegem mantendo-as em casa, aumentam os seus atrativos oferecendo computador, videogame e televisão e assim as crianças se motivam a passar mais tempo dentro dela. Essa perda de contato com a natureza provoca problemas de comportamento e a criança fica mais propensa à depressão, ansiedade e problemas da falta de atenção. Nesse sentido, as atividades ao ar livre depois das aulas ou nos finais de semana podem reduzir os sintomas de déficit de atenção e as salas de aula ao ar livre assim como outras experiências com a natureza também apresentam um melhor desempenho nas disciplinas estudos sociais, ciências, artes, linguagem e matemática, (PERMA, 2011).
O controle sobre sua qualidade de vida dependerá de como você promoverá sua saúde. A adoção de hábitos saudáveis é fundamental para o bom desenvolvimento físico, psíquico e social das crianças, portanto deve ser estimulada desde cedo porque é durante os primeiros anos de vida que se formam os hábitos. Tanto a prática de atividades físicas como da alimentação saudável e colorida devem estar presentes na vida da criança, elas assumem um papel de educação para a saúde e para o meio ambiente. Nesse sentido, a horta escolar pode ser um laboratório vivo para diferentes atividades didáticas facilitando assim o aprendizado de novas práticas, (IRALA, et al., 2001).
Nos últimos anos, enfermidades resultantes de alimentação excessiva ou inadequada como diabetes, hipertensão arterial e obesidade têm surgido com mais freqüência entre crianças. Desta maneira, como eixo gerador de dinâmicas, educação ambiental e alimentação saudável e sustentável, a horta escolar proporciona o resgate ao cultivo da terra, promove reflexões sobre a importância do consumo de alimentos saudáveis e sem agrotóxicos e a interação entre professor, aluno, funcionário e comunidade. Em encontro promovido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC) no ano de 2007 sobre hortas escolares os resultados mostraram que crianças que têm contato com elas melhoraram seu desempenho escolar e baixaram os índices de anemia e de obesidade, e também foi observada uma mudança na postura do professor ao reconhecê-la como um espaço pedagógico importante para o aprendizado, (CARDOSO, 2007).
É necessário que os professores resgatem este contato, permitindo este relacionamento, é desta forma que as hortas nas escolas possuem um papel importantíssimo, o apoio da família também é fundamental. As atividades de educação ambiental usando a horta escolar promovem a discussão sobre a importância de uma alimentação saudável e equilibrada e consequentemente a saúde humana. Atividades ligadas ao solo, como revolver a terra, retirar mato, plantar, podar, regar são ótimos exercícios físicos e representam uma maneira saudável e criativa de aprender. A alimentação desempenha um papel primordial durante todo o ciclo de vida dos seres vivos, já que a saúde do homem está ligada a uma alimentação saudável e rica em vegetais e frutas. A horta escolar proporciona a aquisição de bons hábitos alimentares e estimula o consumo de hortaliças e frutas, (SEPLAN BAHIA, 2008).
Ao se integrar no dia a dia da escola, a introdução da horta escolar objetiva integrar diferentes fontes e recursos de aprendizagem, pois se torna fonte de observação e pesquisa ao gerar uma reflexão diária por parte dos professores e alunos envolvidos, (NEVES, 2006). A Educação ambiental com a horta escolar visa proporcionar possibilidades para o desenvolvimento de ações pedagógicas ao permitir práticas em equipe explorando a multiplicidade das formas de aprender. A montagem da horta escolar é rica em temas e possibilita abrangência de várias disciplinas. É também, uma atividade que envolve os alunos, já que trabalhar a terra aumenta a disposição e a energia do corpo, ao proporcionar prazer, aliviar o estresse da sala de aula e deixar todos mais calmos. É ótima para crianças indisciplinadas porque gera momentos de liberdades e por esse motivo elas tornam-se muito participativas nessa atividade, (BARROS).
Segundo Freire (1996) uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é proporcionar condições em suas relações uns com os outros de assumir-se como ser social e histórico, como um ser pensante, comunicante, transformador e criador. Para o autor “a educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmacaramento”.
“Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos... curiosidade para nos defender de ‘irracionalismos’ decorrentes do ou produzidos por certo excesso de ‘racionalidade’ de nosso tempo altamente tecnologizado.”, (FREIRE, 1996).
A Educação Ambiental com a horta escolar prevê a realização de atividades que vão desde a escolha do local para a sua, passando pela preparação do solo, semeadura, plantio até a colheita, todos são recursos pedagógicos que auxiliam no processo de ensino-aprendizagem, já que as atividades em questão não estão aprisionadas em apenas uma disciplina específica, o olhar disciplinar dificulta a idéia de natureza como sistema integrado. Com essas atividades de montagem da horta, busca-se a construção do conhecimento transdisciplinar e o despertar para criticidade dos alunos.
Temas ambientais como lixo e seus problemas, as questões relacionadas à água, ao solo e ao desmatamento surgem no desenvolvimento das atividades, entretanto o tema “alimentação” terá maior destaque, principalmente na época da colheita quando pretenderemos trabalhar questões como segurança alimentar, educação alimentar e desnutrição. Essas atividades proporcionam um grande leque de temas ambientais, sociais e éticos e têm como objetivo principal colaborar para a formação de alunos críticos ao promover uma aprendizagem mais aprofundada e contextualizada com um todo e não o repasse de um conhecimento fragmentado.
A sociedade atual se encontra num profundo processo de transformação, (COUTO, 2011) e a educação tem papel fundamental na formação do cidadão ideal para o novo modelo da sociedade. Um cidadão que não apenas reproduza conhecimentos prontos mas que seja capaz de questionar e raciocinar, tendo a oportunidade de crescer socialmente, tendo melhores oportunidades e principalmente direito a fazer suas escolhas, (NECO, et al.).
As atividades de educação ambiental com horta escolar têm como objetivo:
·         Resgatar a relação ser humano/natureza;
·         Valorizar o trabalho e a cultura rural;
·         Compreender a importância do solo, da água e dos nutrientes;
·       Identificar técnicas de manuseio do solo e manuseio sadio dos vegetais;
·         Conhecer técnicas de cultura orgânica;
·         Promover a analise e a reflexão sobre os desperdícios alimentares;
·      Conhecer pela degustação os diferentes alimentos cultivados bem como nomeá-los corretamente;
·         Identificar diferentes processos de semeadura, adubação e colheita;
·    Compreender a importância de uma alimentação equilibrada para a saúde;
·         Cooperar em projetos coletivos;

Os materiais necessários para o desenvolvimento de atividades da educação ambiental pela horta escolar são:
·         Terra
·         Adubos
·         Sementes
·         Mudas
·         Ferramentas para horticultura
·         Restos de alimentos
·         Latas grandes (tipo de tinta)
·         Placas de cerâmicas grandes;
·         Papel pardo grande
·         Caneta hidrocor
·         Cola
·         Papel cartão

Referências Bibliográficas:
BARROS, J. Horta: uma atividade interdisciplinar. Equipe Brasil Escola . Acessado em 03.07.2011

 

BRASIL . Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA . Lei 9795 de 1999 .

                                                               

CARDOSO, L . Horta escolar muda hábitos e melhora aprendizado . Porta MEC de 17 de maio . Acessado em 18.07.2011


COUTO, R. M. de S. Fragmentação do conhecimento ou interdisciplinaridade: ainda um dilema contemporâneo? . In: Revistafaac . v. 1 . n. 1, p. 11 – 19 . Bauru, 2011.

COX, C. B.; MOORE, P. D. Biogeografia: Uma abordagem ecológica e evolucionária . Rio de Janeiro : LTC, 2009

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa . São Paulo, SP : Paz e Terra, 1996

FREITAS, C. M.; PORTO, M. F. Saúde, Ambiente e Sustentabilidade . Rio de Janeiro : Editora Fiocruz, 2006

FRICK, P. R. Horta na Escola: Proposta da Atividade Pedagógica de Complementação Curricular . 2008 . Acessado em 22. 06.2011

IRALA, C. H.; FERNANDEZ, P. M. RECINE, E. Manual para Escolas: A Escola promovendo hábitos alimentares saudáveis. Universidade de Brasília . Faculdade de Ciências da Saúde . Departamento de Nutrição . Brasília, 2001

LEWINSOHN, T. M. A evolução do conceito de biodiversidade . Biodiversidade : Valor econômico e social . Reportagens . 2001 . Acesso em 12.03.2010

MATTOS, S. Educação Ambiental: Instrumento de Resgate da Saúde e da Cidadania . Publit . Rio de Janeiro .2006

NECO, H. H. de L.; VIEIRA, M. A. M; STEIBACH, A. E. FARIAS, M. de S. B. de; COSTA, J. C. de C. Conhecimento e Capacitação Docente: Uma Perspectiva Interdisciplinar . In: Encontro de Iniciação à Docência . Universidade Federal da Paraíba
  
NEVES, M. I. S. C. Projeto Horta na Escola . Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes . Secretaria Municipal de Educação . 2006 . Acessado em 22.06.2011

PÁDUA, J. A. Um sobro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista, 1786-1888 . Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004

PEDRINI, A. G. ; SILVEIRA, D. L. da; DE PAULA, J. C.; VASCONCELLOS,H. S. R.; CASTRO, R. S. Educação Ambiental: Reflexões e Práticas Contemporâneas . Vozes. Petrópolis . 2008

PERMA . Transtorno da falta de contato com a natureza .maio de 2011 . acessado em 18.08.2011

SIQUEIRA, H. S. G.; PEREIRA, M. A. A Interdisciplinaridade como superação da fragmentação . In: Uma nova perspectiva sob a ótica da interdisciplinaridade . Caderno de Pesquisa n. 68 . Setembro de 1995 . Programa de pós-graduação em Educação da UFSM

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