sábado, 31 de julho de 2010
Espadarte não está sob ameaça"
A decisão do Ministério da Pesca e da Aquicultura de abrir as águas brasileiras para que navios estrangeiros possam ajudar o país a atingir a cota do atum espadarte causou polêmica entre ambientalistas. ((o))eco entrou em contato com Fábio Hazin, presidente da Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (ICCAT) para saber sua opinião. Este é o órgão internacional que regulamenta a cota de pesca dos seus 48 países membros. Para Hazin, preocupações em relação à sustentabilidade da espécie não procedem, mas ele reconhece que a pesca do espadarte pode atingir outros peixes. (Thiago Camara)
Presidente da ICCAT, Fábio Hazin.
(crédito: acertodecontas.blog.br)
Como presidente da ICCAT, como o senhor avalia a decisão do governo brasileiro em conceder benefício para embarcações estrangeiras?
Fábio Hazin- Como Presidente da ICCAT não me cabe avaliar a posição do governo brasileiro, nem de nenhum dos 48 países membros da Comissão. Não tenho mandato para isso.
A necessidade do Brasil em atingir sua cota anual não prejudica a sustentabilidade da espécie do atum espadarte?
FH- De forma alguma. Tanto o estoque do espadarte do Atlântico Norte como do Atlântico Sul se encontram com as suas biomassas acima do nível necessário para assegurar o Rendimento Máximo Sustentável. Considerando-se que essas espécies já vêm sendo capturadas há mais de 50 anos, a boa condição dos seus estoques é um testemunho de que as medidas de ordenamento adotadas pela ICCAT tem sido adequadas para assegurar a sustentabilidade de sua exploração. Além de não se encontrarem sobrepescados, as capturas desses estoques vêm sendo, já há vários anos, estritamente controladas por meio de uma Captura Máxima Permitida, e de quotas individuais de captura para os diversos países. Desde que o Brasil não ultrapasse as suas quotas de captura, portanto, não haverá qualquer prejuízo para a sustentabilidade do estoque. O que certamente ocorrerá se o Brasil não for capaz de usufruir de suas cotas de captura, no entanto, é que outros países, mais cedo ou mais tarde, terminarão certamente por ocupar o espaço aberto pelo Brasil.
O processo de pesca do atum espadarte não prejudica outras espécies como tubarões e tartarugas marinhas?
FH- A pesca do espadarte captura, sim, outras espécies, como tartarugas e tubarões. A vantagem de se assegurar que essa pesca ocorra a partir do Brasil é que, diferentemente de outras frotas estrangeiras, o País poderá impor medidas de redução da captura dessa fauna acompanhante, como anzóis circulares, para reduzir a captura de tartarugas, estropo de náilon ao invés de aço, para reduzir a captura de tubarões, tori-lines, para reduzir a captura de aves, etc. Além disso, diferentemente da frota nacional, cuja fiscalização é altamente deficiente, todas as embarcações estrangeiras arrendadas em operação no País só podem sair do porto para o mar com a presença de um observador a bordo e monitoramento por satélite, além da obrigatoriedade do preenchimento dos mapas de bordo, com registro detalhado de todas as capturas, incluindo a fauna acompanhante, medidas que garantem um controle muito mais eficiente da atividade dessa frota do que no caso dos barcos nacionais.
Fonte:
Mar aberto para pescadores estrangeiros
Thiago Camara
26 Jul 2010
Rio de Janeiro - O Ministério da Pesca e Aquicultura publicou na semana passada um edital que abre portas para embarcações estrangeiras atuarem em águas brasileiras. Segundo a Instrução Normativa 10, de 12 de julho, navios de outras bandeiras serão arrendados e, com isenção fiscal, poderão ajudar o Brasil a atingir a cota anual de 4,720 mil toneladas de atum espadarte, uma vez que a indústria pesqueira brasileira não tem condições de assumir sozinha este compromisso internacional firmado com a Comissão Internacional para Conservação do Atum do Atlântico (ICCAT), em novembro de 2009.
Rio de Janeiro - O Ministério da Pesca e Aquicultura publicou na semana passada um edital que abre portas para embarcações estrangeiras atuarem em águas brasileiras. Segundo a Instrução Normativa 10, de 12 de julho, navios de outras bandeiras serão arrendados e, com isenção fiscal, poderão ajudar o Brasil a atingir a cota anual de 4,720 mil toneladas de atum espadarte, uma vez que a indústria pesqueira brasileira não tem condições de assumir sozinha este compromisso internacional firmado com a Comissão Internacional para Conservação do Atum do Atlântico (ICCAT), em novembro de 2009.
O Brasil possui cerca de 9 mil km de litoral banhado pelo Oceano Atlântico. Apesar desse número considerável, a pesca nas águas tupiniquins não é uma atividade representativa para economia nacional. São 834 mil empregos diretos, 2,5 milhões de indiretos e uma renda anual de 4 bilhões de reais. O Ministério da Pesca alega que com a atração de navios-pesqueiros pretende garantir o abastecimento do mercado interno.
A medida incomodou especialistas que veem na decisão do governo brasileiro apenas ganância pelos cerca de US$ 25 milhões anuais que o atum rende aos cofres nacionais. O espadarte mais conhecido como peixe-espada (Xiphias gladius) em outras partes do mundo é na verdade um parente próximo das espécies mais visadas de atum. Seu status de conservação não é inteiramente conhecido nas águas do Atlântico Sul, mas sabe-se que está ameaçado no hemisfério Norte.
Para Leandra Gonçalves, coordenadora da Campanha de Oceanos do Greenpeace Brasil, a presença de navios estrangeiros em nossas águas pode representar a morte de outras espécies além do atum. “Além de prejudicar a sustentabilidade do espadarte, prejudica as demais espécies-alvo, que são pescadas incidentalmente, nessa mesma arte de pesca de espinhel, como tartarugas-marinhas e albatrozes e petréis. A maioria dos barcos estrangeiros não respeita as medidas de mitigação, e agora com a autorização brasileira, estariam vindo aqui "desmatar" os mares brasileiros, sem a mínima preocupação com nossa biodiversidade marinha, explica ela.
Karim Bacha, da Secretaria de Planejamento e Ordenamento da Pesca, explica que o objetivo principal da ação do ministério é garantir ao Brasil poder de negociação internacional para aumentar a cota atual da pesca do espadarte. “Estamos preocupados em manter nossas cotas junto a ICCAT para num futuro também viabilizar o aumento desse percentual. Não há problema em relação a sustentabilidade. Fechamos o ano passado com um saldo positivo de 1, 200 mil toneladas e esse percentual deve se repetir neste ano apesar da presença das embarcações estrangeiras”, afirma.
Fonte:
http://www.oeco.com.br/reportagens/24212-mar-aberto-para-pescadores-estrangeiros
Ler acima a entrevista do presidente do ICCAT, Fábio Hazin
O atum espadarte atrairá principalmente as redes de países como Espanha, Japão e Coréia do Sul. E segundo Bacha não haverá perda de capital nacional com a chegada dos estrangeiros em nossas águas. “O arrendamento é importante para que venha pra cá a tecnologia estrangeira junto com esses navios. Mas eles serão controlados por empresas brasileiras, precisarão que 2/3 da tripulação seja nossa e obrigatoriamente escoarão a produção pelos portos brasileiros. Nós queremos mesmo é cumprir a cota do atum espadarte e aprender a pescar tubarões, albacoras, e dourados”.
Carne de peixe-espada é valorizada no mercado
“Modernização da frota”
Embarcações nacionais também poderão realizar a pesca e participar do arrendamento. As regras são as mesmas para as bandeiras internacionais. O governo não cobrará nenhuma taxa de operação e garantirá isenção de ICMS e subsídios diretos ao óleo diesel usado por essas embarcações - o litro do óleo pode custar R$1,65, estima o governo. É a oportunidade de lucrar em um negócio que beira os US$ 4 bilhões no mundo. Hoje o Brasil conta com apenas 4 mil barcos industriais em operação, que se dedicam apenas às águas costeiras. E o atum espadarte fica na Zona Econômica Exclusiva e em águas internacionais próximas, ou seja, 3,5 milhões de km2 do litoral.
Luis Parente Maia, professor da Labomar, Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará, não concorda com a medida adotada pelo Ministério da Pesca. Ele defende a capacitação dos pescadores antes de tudo. “Esse tipo de pesca é extremamente profissional. Precisamos preparar nossos pescadores artesanais porque o atum é supervalorizado”, explica Maia que defende uma exploração sustentável e fiscalizada pelo Brasil.
Para justificar o lançamento do edital o Ministério da Pesca se escora no Programa Nacional de Financiamento da Ampliação e Modernização da Frota Pesqueira Nacional – Profrota Pesqueira. Sua finalidade é viabilizar investimento e modernização através da concessão de crédito para melhorar a qualidade do pescado e consolidar a frota pesqueira oceânica brasileira. Um dos pontos centrais do programa é a formação de uma frota pesqueira oceânica composta por embarcações aptas a atuar na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e em águas internacionais. O próprio Karim Bacha, porém, explica que o programa ainda não terá contribuído para a captura do atum. “As embarcações do Profrota ainda não estão concluídas, mas em 4 anos já teremos pelo menos de oito a dez barcos construídos para esta finalidade”.
A ausência de proteção em nossas águas também é uma crítica de Leandra Gonçalves, do Greenpeace. “O governo brasileiro tem investido muito dinheiro no novo Ministério da Pesca, recém-criado, e pouco tem tido de retorno em produção e em termos econômicos. Por que será? Por que não temos peixe suficiente para serem pescados nesse nosso modo de produção. Não temos regulamentação, não temos fiscalização e tampouco temos priorizado a criação de reservas marinhas, que seriam importantes para fornecer espaço e tempo para a nossa biodiversidade se recuperar e se reproduzir”, avalia ela.
Frederico Brandini, pesquisador do Instituto Oceanográfico da USP, endossa o discurso de Leandra. “No Brasil ninguém pesca de forma sustentável. São empresários que não usam o mar de forma social”, lamenta.
http://www.oeco.com.br/reportagens/24212-mar-aberto-para-pescadores-estrangeiros
Oceanos mais quentes são ameaça
Mônica Montenegro*
29 Jul 2010
No dia em que novos estudos da agência de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA) mostravam que temperaturas recordes estão sendo atingidas nos mares ao redor do planeta, Edmo José Dias Campos, professor titular de oceanografia física do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo dava um alerta semelhante durante a 62º reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre em Natal (RN) esta semana. Em uma palestra sobre as ameaças das mudanças climáticas aos oceanos, ele mostrou que existem evidências de que as águas do Atlântico Sul estão mais quentes, o que aumenta a possibilidade de furacões no Brasil. Campos, que é um dos autores do capítulo sobre oceanos do próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climática (IPCC - WG1 – AR5), explica nesta entrevista que será possível prever e adaptar-se ao aumento do nível do mares. Leia os principais trechos.
Momentos da palestra de Campos na 62a SBPC
Por que a temperatura dos oceanos está aumentando?
Edmo Campos - A temperatura do oceano está aumentando porque existe um processo chamado efeito estufa, que é a retenção da radiação de onda longa que o planeta retransmite de volta ao espaço para manter o equilíbrio termodinâmico. Com o aumento da concentração de gases que produzem o efeito estufa, você passa a aprisionar uma maior quantidade de calor na atmosfera e esse calor eventualmente aquece a atmosfera e o próprio oceano. O excesso de calor na superfície do oceano vai ser transportado pela circulação, pelos movimentos das águas em direção ao fundo de outras regiões, de tal maneira que ao longo do tempo você tem um aumento da temperatura global do oceano. Aí entra inclusive uma observação, o oceano tem uma capacidade térmica maior do que o restante do sistema, isso faz com que essas mudanças sejam mais lentas, o que nos permite adaptar às mudanças. Então, apesar do oceano estar aumentando sua temperatura, essa mudança é lenta. E por ser lenta nos dá tempo de procurar meios de nos precavermos para as eventuais mudanças que vêm por aí.
Quais as principais consequências do aumento da temperatura dos oceanos sobre o clima global?
Campos - O aumento da temperatura dos oceanos pode resultar em vários efeitos, que podem ser medidos em termos dos impactos no resto do sistema climático. Um deles é o aumento do nível do mar. Se a temperatura do oceano aumenta, fatalmente haverá aumento do nível do mar, seja por expansão volumétrica ou por aumento de massa devido a degelo de camadas polares ou dos gelos continentais. Outro efeito também importante, mas que muitas vezes não é comentado é na interferência do pH. A água do mar é básica, aumentando a temperatura - resultante do aumento do CO2 na atmosfera – vai aumentar a acidez e isso implicará em uma interferência muito drástica no ecossistema. Para começar, uma possível redução na biodiversidade. Sem contar que com o aumento na acidez, você vai ter uma redução na capacidade oceânica de absorver o CO2. Isto levará a um aumento da temperatura e em maior acidificação. Portanto essa é uma das questões importantes do ponto de vista biogeoquímico. Além disso, o aumento na temperatura do oceano também interfere no padrão de circulação do oceano. Uma vez que se altera o padrão de circulação do oceano, vão ocorrer mudanças na forma como o oceano contribui para a redistribuição do calor e com alterações na temperatura local de algumas regiões. Algumas áreas ficarão mais frias do que são hoje e outras mais quentes. É bastante difícil de se prever, porque são processos não lineares complexos. Apesar de não serem previsíveis, sabemos que vai ocorrer. Quando, onde e como é difícil de se responder, mas que vão, vão.
Apesar dessa dificuldade de previsão, já é possível notar mudanças no padrão aqui no Atlântico Sul?
Campos - Exatamente. Um estudo realizado por pesquisadores da Alemanha e África do Sul mostra que está ocorrendo uma modificação no padrão de circulação atmosférica no Atlântico Sul devido ao aumento no importe de águas do Índico pro Atlântico Sul. Isto está alterando as propriedades físicas e dinâmicas do Atlântico Sul. Consequentemente, vai implicar em uma mudança no padrão oceano-atmosfera, com efeitos no clima regional. Ou seja, ainda estamos tentando entender como isso vai acontecer. Porém é quase um fato inegável que irá acontecer. Não sabemos a intensidade e quais as áreas que serão realmente atingidas, mas com certeza já podemos esperar por alguma coisa. Por isso é necessário estudar e monitorar para entender o que vai acontecer. E assim poder tomar medidas preventivas ou adaptativas, porque modificar o que está acontecendo a gente não tem capacidade.
É possível afirmar que com essas mudanças o Brasil estará na rota dos furacões?
Campos - Falando de forma muito simplista, caso se confirme que as águas do Atlântico Sul estão ficando mais quentes há um aumento na probabilidade de ocorrerem mais Catarinas. Com a temperatura maior, a ocorrência de um ciclone extra-tropical na região pode resultar numa intensificação e eventualmente num novo furacão. Com o aumento da temperatura pode-se esperar inclusive um aumento no numero de furacões e queiramos ou não, estamos no clube dos furacões, como o Catarina. E podemos ser mais ativos se confirmarmos o aumento na temperatura na região.
Se confirmadas todas essas evidências, a situação ficará ainda mais complicada, porque o senhor explicou que os oceanos demoram muito pra “desaquecer”.
Campos - Se pararmos todas as emissões de carbono hoje, o sistema já foi afetado, então ele vai continuar se alterando. O que podemos fazer é reduzir o aumento da temperatura, mas vai ter um aumento e todas as evidências parecem indicar que não há outra esperança. Agora, pode-se reduzir o cenário de mais feio pra menos feio. Então, face a esse fato inegável, temos que entender quais são essas mudanças, como elas vão realmente afetar os ecossistemas, o ambiente onde vivemos, para que se possa adaptar e aprender a viver com esse novo clima, essa nova realidade que vem aí.
E pra isso é necessário investir em pesquisas...
Campos - Você tocou num ponto muito importante. A observação meteorológica de eventos naturais no continente, apesar de caro, é mais simples porque vivemos no continente. Na minha área de pesquisa temos que pesquisar nos oceanos e em regiões profundas, inóspitas. Eu não diria que é tão difícil quanto, mas chega a ser um tanto complicado quanto explorar o espaço. Observar fenômenos que ocorrem a 4, 5 mil metros de profundidade não é uma tarefa simples nem barata. Isso implica recursos de grande monta, navios oceanográficos e o Brasil infelizmente tem se recusado a entender essa necessidade. Achamos que pelo fato de termos o inestimável apoio da Marinha nas nossas pesquisas estamos cobertos e não necessitamos de mais nada. É um engano. Precisamos de navios oceanográficos civis, instituições civis desenvolvendo pesquisas oceanográficas, monitoramento oceanográfico, independentemente do apoio da Marinha, que é e sempre será bem vindo, mas não pode ser o único. Temos que lutar para convencer nossos tomadores de decisão de que é imperativo entendermos o Atlântico Sul e para isso é imperativo que tenhamos recursos observacionais à altura daqueles, como por exemplo possui a África do Sul ou mesmo a Argentina. Estamos inclusive atrás da Argentina em termos de meios flutuantes para a realização de pesquisa oceanográfica.
Como ocorre a parceria com a Marinha
Campos – A Marinha tem ajudado com algumas embarcações. Aqui na região tropical do oceano ela tem nos dado um apoio muito importante com o navio Antares. Recentemente o Brasil adquiriu num consórcio entre MCT e M Defesa, o navio Cruzeiro do Sul, que será usado pela Marinha (hidrografia etc) e pela comunidade oceanográfica. Ao se adquirir um navio tem que se pensar em quem vai operar e obviamente a Marinha tem essa capacidade. O lado ruim disso é que a Marinha tem a uma política própria de uso de um meio flutuante. É muito difícil realizar um projeto de pesquisa com o mesmo grau de flexibilidade de um navio civil. Não dá para tomar decisões que não tenham sido programadas nos mínimos detalhes. A quantidade de pesquisadores que podem embarcar é sempre mais reduzida que num navio civil. Além disso o número de dias de navio disponíveis para pesquisa é reduzido. O Cruzeiro do Sul, por exemplo, tem cerca de apenas 80 dias por ano para pesquisas por instituições civis. No caso de um navio civil esses impedimentos ficam reduzidos, pode-se ter um número maior de pesquisadores e estudantes a bordo. Você pode programar pesquisas com maior grau de flexibilidade. Existem fenômenos que ocorrem no oceano que não são previsíveis mas são muito importantes de serem entendidos. Muitas vezes, durante um cruzeiro oceanográfico, você se depara com essas feições e gostaria de alterar seu planejamento para atender aquela oportunidade. Num navio da Marinha isso é muito difícil, mas em um navio civil seria algo simples, porque depende da decisão do investigador chefe. Este e outros aspectos fazem com que seja fundamental a existência não só de navios civis, mas de um programa brasileiro que buscasse identificar as linhas de ação prioritárias em termos de oceanografia para o país e até mesmo criação de algum tipo de organismo estatal que coordenasse os ações e estudos oceanográficos nos moldes, por exemplo, da agência oceanográfica atmosférica dos EUA (NOAA), responsável em organizar e coordenador pesquisas oceanográficas dos Estados Unidos.
*Mônica Montenegro é editora do programa Salão Verde, da Rádio Câmara, e está em Natal cobrindo a 62a Reunião da SBPC
Fonte:
Reserva Biológica do Tinguá - história e natureza, num cenário de riqueza e tristeza
Por Ricardo Portugal
Encravada na Serra do Mar, no Sudeste Brasileiro, a Reserva Biológica do Tinguá vem cumprindo papel fundamental ao longo de nossa história. Sua área territorial compreende 26 mil hectares de Mata Atlântica, fazendo limites com Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Petrópolis e Miguel Pereira. Ela é identificada como importante bacia produtora de água potável, desde os tempos do Império. Foi em 1880 que o imperador D. Pedro II inaugurou a rede de captação que levou, em poucas semanas, a água das nascentes de Rio d’Ouro, Xerém e Tinguá até a capital, o Rio de Janeiro, que padecia de uma enorme seca provocada pelo desmatamento da Floresta da Tijuca. O engenheiro Paulo de Frontin foi o responsável por essa façanha, realizada pelo braço escravo.
Anos após a queda da monarquia, em 1941, criou-se a primeira unidade de proteção ambiental que se tem notícia naquela região. O governo Getúlio Vargas decretou a Serra do Tinguá como “Floresta Protetora da União”, tendo em vista a proteção integral de seus recursos hídricos. Um total de 12 aquedutos e represas de captação dão a noção exata da grandeza e importância dela para o abastecimento, atualmente cobrindo a Baixada Fluminense e aproximadamente 60% da população do Rio, como bacia contribuinte do rio Guandu.
Em 1989, após expressiva mobilização social organizada e liderada por ambientalistas e moradores da região, com o apoio de universidades como a UFRRJ e a UERJ, além de sindicatos e entidades da sociedade civil da Baixada Fluminense, o governo José Sarney, através de um decreto federal datado de 23 de maio de 1989, transformou o Tinguá em Reserva Biológica, cujo objetivo é a proteção de amostra representativa da Mata Atlântica e demais recursos naturais nela contidos, com especial atenção para os recursos hídricos, além de proporcionar o desenvolvimento de pesquisas científicas e educação ambiental.
Tal proposta aprovada pelo governo acabou por tornar a Rebio-Tinguá a primeira e única Unidade de Conservação do país criada a partir da vontade e da pressão popular, expressa no movimento intitulado “Pró Reserva Biológica do Tinguá” ocorrido há 21 anos e que reuniu 10.000 assinaturas num abaixo-assinado encaminhado ao governo. Um feito inédito. Já naquele momento, o povo rechaçava a idéia de um “parque nacional” na região, proposta patrocinada por grupos econômicos interessados em transformar a floresta do Tinguá num polo ecoturístico.
Duas razões básicas justificaram a opção da populaçãoa pela Reserva Biológica: a primeira foi a questão dos recursos hídricos, representada pela presença, em seu interior e no entorno da UC (unidade de conservação) das represas e aquedutos da época do Império, e que até hoje funcionam em perfeitas condições. Por seu formidável potencial hídrico, a Rebio-Tinguá foi classificada, em 1993, como Patrimônio Natural da Humanidade, na categoria de Reserva da Biosfera, pelas Nações Unidas, via UNESCO. A outra justificativa não menos importante referia-se à presença de duas linhas de oleoduto e uma de gasoduto da Petrobras, que atravessam grande parte do subsolo da floresta, constituindo-se em grave risco de incêndio e poluição.
Na época, os defensores da Reserva Biológica asseguravam que não eram contrários à visitação pública naquela região, desde que fosse para fins de educação ambiental. Até hoje, pesquisadores, alunos de diversas escolas, grupos familiares e pessoas comuns têm podido visitar a Reserva, com expressa permissão das autoridades ambientais daquela UC, hoje subordinada ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão do governo federal que sucedeu o Ibama na gestão de parques e reservas do país.
Outros aspectos importantes também confirmaram e reforçaram a tese da necessidade de transformar o Tinguá em área de uso restrito. A descoberta do menor anfíbio do mundo, o sapo-pulga, feita no interior da Reserva pelo pesquisador Eugenio Izecksohn, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. A madeira tapinhoã, a bromélia e o mineral tinguaíto, endêmicos na região, também comprovam a exuberância e a riqueza de sua biodiversidade. Muitas espécies em Tinguá ainda não foram catalogadas pela Ciência, e outras já se encontram em processo de extinção, como a onça parda.
Já eram comuns, desde antes de sua criação, as práticas criminosas contra o meio ambiente dentro e no entorno da reserva. Caçadores, palmiteiros, ladrões de areia, pedreiras clandestinas, passarinheiros e carvoeiros sempre marcaram presença de forma nociva, tanto no processo de saque e predação dos recursos naturais como na destruição da flora e fauna locais, incluindo-se nesse rol algumas preciosas vidas humanas covardemente ceifadas. O maior exemplo nesse caso foi o ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro, assassinado covardemente por um caçador em 2005 próximo a um dos portões de acesso à Rebio-Tinguá. Seu Júlio, como era carinhosamente chamado na comunidade de Tinguá, era um militante ambientalista e aguerrido defensor da região, que não dava tréguas aos agressores da floresta, denunciando-os às autoridades policiais e ao Ministério Público. Pagou com a vida por seu idealismo e amor extremo à Rebio-Tinguá.
Decorridos 21 anos de sua criação, o inventário de perdas e o quadro de caos e abandono é o cenário dominante na unidade, no que tange à sua proteção e conservação. De lá pra cá, a falta de políticas públicas para o meio ambiente tem sido a tônica dos governos que se sucedem, demonstrando pouca ou quase nenhum interesse ou motivação pela questão ambiental. A exemplo das demais unidades de conservação do país, a Rebio-Tinguá sofre com a falta de recursos próprios, uma vez que não possui autonomia financeira e administrativa, estando dependente da verba mensal repassada pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos. A unidade dispõe de apenas 4 agentes para o trabalho de fiscalização e combate aos ilícitos ambientais, com viaturas circulando em estado precário. Há carências também de equipamentos de radiocomunicação, tornando ainda mais difícil e complicada a tarefa de proteger um patrimônio que é de toda a Humanidade.
Recentemente, em janeiro desse ano, uma luz acendeu-se na escuridão do descaso e da falta de compromisso governamental. O Ministério do Meio Ambiente nomeou o policial Josimárcio Campos de Azevedo como o novo chefe da Rebio-Tinguá. Coincidentemente, no mesmo momento em que rumores dão conta de que o governo pretende recategorizar a Reserva Biológica do Tinguá, para então transformá-la em parque nacional, visando atender àqueles mesmos interesses econômicos de 21 anos atrás, que levantaram-se de seus túmulos para voltar a assombrar a reserva e ameaçar sua riqueza biológica e hídrica.
Josimárcio, que já atuou como policial militar lotado no DPO de Tinguá, parece não ter se impressionado com o fato. Prova disso é que não vem dando trégua aos inimigos da natureza, efetuando prisões de caçadores, palmiteiros e passarinheiros que agiam impunemente na reserva e em seu entorno. Armas e armadilhas de caça, como trabucos e espingardas, vem sendo diariamente apreendidas, num trabalho digno de elogios e aplauso da população. Cumpre registrar também a ajuda que tem recebido do Batalhão da PM florestal e da delegacia de Polícia Federal em Nova Iguaçu, na pessoa do delegado Alexandre Saraiva, outro que vem se destacando no trabalho de proteção e guarda da floresta. Para breve, está prevista a instalação de um posto avançado da PF na Reserva, próximo à Xerém, em Duque de Caxias. Além do esforço na tarefa de patrulhamento, o novo chefe da UC tem se dedicado a reativação do Conselho Consultivo da Rebio-Tinguá, órgão criado por lei para assessorar e ajudar na gestão da UC. Entre suas tarefas, cabe ao conselho a implantação do Plano de Manejo, que vai viabilizar os recursos materiais e humanos para que a Reserva do Tinguá saia do papel.
Ambientalistas ligados ao Fórum Ecossocial da Baixada Fluminense vem atuando com insistência para anular as manobras de bastidores que vem sendo tramadas para recategorizar a reserva. O ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, vem sinalizando e trabalhando de forma mais ou menos ostensiva em favor da proposta pró-parque, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente.
Uma das formas que os defensores da reserva encontraram para combater a idéia foi o recolhimento de assinaturas em abaixo-assinado, da mesma forma que há 21 anos. Primeiramente, em papel, e mais recentemente na forma on line, onde se pode assinar digitalmente em http://www.petitiononline.com/tingua/petition.html
A Reserva Biológica do Tinguá, como expressão e símbolo de uma conquista popular, segue seu destino. A mesma polêmica que cercou sua criação agora está de volta, muito por culpa da gestão anterior da unidade, que não soube ou não quis dar respostas às imensas demandas sociais e ambientais acumuladas ao seu redor. Podemos, sem medo de errar, chamá-la de nossa Amazônia do Sudeste, o nosso pulmão verde da Baixada Fluminense.
Poucos são capazes de avaliar a real dimensão de sua importância no cenário de história, beleza natural e tristeza, reinantes naquele lugar.
Fonte:
segunda-feira, 26 de julho de 2010
MMA lança pela internet banco de informações sobre educação ambiental
Está disponível pela internet desde o dia 7 de julho o Coleciona: fichário do educador ambiental - um material a princípio eletrônico, especializado em informações sobre educação ambiental (EA). O fichário, que será enviado bimestralmente a quem se cadastrar, pode ser consultado gratuitamente no site do MMA (www.mma.gov.br) e pode ser baixado em formato pdf.
Iniciativa do Departamento de Educação Ambiental (DEA) do MMA, a idéia foi criar um material em formato de fácil impressão e arquivamento, para que instituições, órgãos, empresas, escolas e educadores interessados possam ter em mãos, ao fim de um ano, um rico banco de informações sobre a EA no País, para consulta pública.
Para acessar o fichário, é preciso entrar no site do MMA, clicar no link Educação Ambiental e, em seguida, sobre a figura do Coleciona: fichário do educador ambiental, que se encontra logo abaixo do texto de apresentação.
A cada dois meses, o DEA reunirá materiais enviados por educadores ambientais - com base em ações, experiências e projetos sobre educação ambiental - para compor as nove seções do Coleciona: textos para se pensar a EA, composta por artigos; SisNEA; espaços e estruturas educadoras; educomunicação; cooperação internacional em EA; agenda do educador ambiental; recomenda-se; documentos; e financiadores.
Os materiais podem ser enviados por quaisquer educadores ambientais que estiverem interessados em fazê-lo, no endereço eletrônico educambiental@mma.gov.br. Uma vez organizado o conteúdo, o material é repassado aos e-mails cadastrados, além de atualizado na página do MMA, para acesso livre.
Fonte: ASCOM - MMA
Um terço dos deputados do Sudeste é milionário
Um terço dos deputados estaduais da Região Sudeste se declarou milionário à Justiça Eleitoral.
Dos 264 parlamentares das Assembleias Legislativas de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo que neste ano vão mais uma vez disputar as eleições, 94 informaram que têm patrimônio superior a R$ 1 milhão.
O levantamento feito jornal O Estado de S. Paulo em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que a fortuna dos deputados integrantes do clube do milhão soma R$ 433,8 milhões.
Além de milionários, as Assembleias do Sudeste também abrigam parlamentares eficientes na gestão de seus bens pessoais. Ainda de acordo com os dados entregues ao TSE, 75 deputados estaduais conseguiram mais que dobrar seu patrimônio num intervalo de quatro anos. Outros 18 deputados haviam apresentado certidão de bens zerada no registro de suas candidaturas em 2006 e agora apareceram com valores que oscilam entre R$ 43 mil e R$ 1,3 milhão.
A Assembleia de Minas Gerais é a que tem o maior número de deputados milionários. Dos 77 que exercem mandato no Legislativo mineiro atualmente, 42 registraram patrimônio acima de R$ 1 milhão - 54,5% da bancada. São Paulo vem logo em seguida. A bancada dos milionários da Assembleia paulista conta com 35 integrantes. O número representa 37,2% do total de deputados. O Rio de Janeiro, com 14 de seus 70 parlamentares estaduais, e o Espírito Santo, com três dos seus 30 deputados, completam a lista de integrantes do clube do milhão.
Entre os partidos, o PSDB é o que aparece com o maior número de representantes milionários. Os tucanos têm 22 deputados estaduais no clube. Em seguida, vem o DEM, com 12 representantes. O PMDB comparece com 11 milionários e o PV com 8.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Vamos fazer e divulgar a Trilha do Ouro?
Amigo(a) amante da natureza e de caminhada:
Fiz um curso de extensão chamado “Princípios e técnicas de educação ambiental aplicados à atividade de caminhada em trilha e montanhismo em unidades de conservação” ministrado pelo Instituto de Biociências da USP em julho/2008 onde conheci diversas pessoas que também são apaixonadas por hiking e/ou trekking. A partir daí recebi proposta de uma operadora local para montar um grupo e fazer uma trilha interpretativa - Trilha do Ouro - travessia que vai da Serra da Bocaina - SP até a Serra do Mar - RJ -
Apresentei a proposta para o Marcos e Sylvio (Trilhas do Rio de Janeiro) pois acredito que seria uma oportunidade deles conhecerem o trajeto e depois montarem seu próprio pacote, porém, por motivos que não sei quais foram, eles declinaram.
Faço o convite à você para aproveitarmos juntos o feriado de 7 de setembro ou 12 de outubro e conhecermos estes belos locais (vejam as fotos na programação em anexo). Para isso, temos que montar um grupo de 10 à 21 trilheiros, sendo que para o grupo montado com 21 pessoas, a 21ª sairá de graça (que podemos sortear entre os participantes).
Somente o que não está incluso é o transporte até São José do Barreiro (SP) e a volta de Angra dos Reis.
Conto muito com sua ajuda na divulgação e sua participação nesta aventura saudável.
Qualquer dúvida é só me ligar para os telefones 2976-1384 (com.) ou 8876-4671 (cel.).
Abraços e até lá, Paulo Renato
Maioria dos campos de petróleo mais perigosos do mundo ameaçam animais
A Aliança Global para Combustíveis Renováveis (GRFA, na sigla em inglês), entidade que reúne produtores de combustível renovável de todo o mundo, divulgou uma lista com as dez regiões mais arriscadas para explorações petrolíferas. Entre os campos listados, está o de Tupi, no pré-sal brasileiro.
Em seu site, a GRFA faz previsões obscuras para a nova empreitada. “Gigantes do petróleo no Brasil querem explorar a região, mas cientistas e geólogos dizem que eles não sabem onde estão se metendo”, afirma.
Veja a seguir a lista completa da entidade com os dez campos de petróleo mais perigosos do mundo:
1 – Estados Unidos, Golfo do México
O vazamento da BP entrará para lista dos piores desastres petrolíferos dos Estados Unidos, com danos ambientais incalculáveis. Estima-se que, diariamente, pelo menos 60 mil barris de petróleo foram jorrados no mar durante mais de quatro meses. A maré negra criou áreas mortas, que devastaram a vida marinha de estados americanos.
2 – Austrália, Margaret River
A exploração de petróleo na região, que fica a 85 km da cidade de Margaret River, costa oeste australiana, foi aprovada este ano. Um acidente no local, considerado santuário potencial silvestre, constituiria um cataclisma ambiental – cerca de 90% da vida marinha australiana se concentra ali.
3 – Refúgio Nacional de Vida Silvestre do Ártico
As explorações acontecem na planície costeira da maior reserva silvestre americana, em uma região conhecida como “1002″. Encontram-se aí mais de 80 espécies de aves e 30 de mamíferos, incluindo ursos polares em risco de extinção. Segundo a GRFA, faltam planos e equipamentos adequados para responder a uma ruptura, como a do Golfo, no Oceano Ártico.
4 – Canadá, Terra Nova e Labrador
Localizado a 430 quilômetros da província de Sr. John’s, a petroleira Chevron perfura o mais profundo poço de petróleo em águas canadenses. A exploração a mais de 2500 quilômetros de profundidade começou em maio deste ano e é mundialmente considerada uma prática de riscos.
5 – Austrália, Mar do Timor
A costa norte da Austrália Ocidental é considerada uma auto-estrada “marinha” para golfinhos, baleias e tartarugas ameaçadas de extinção, e já foi cenário de um dos piores desastres petrolíferos do país. Em agosto de 2009, uma ruptura na plataforma Montara vazou petróleo por mais de três meses. O acidente afetou a fauna e a flora das ilhas indonésias do Timor.
6 – Mar do Norte, costa oeste das ilhas Shetland
Águas profundas e condições climáticas extremas demandam condições técnicas especiais, que poucas empresas dominam. Um vazamento iria infligir danos consideráveis em mamíferos, aves marinhas e em todo o ecossistema marinho. No começo do ano, o governo britânico concordou em oferecer milhões de libras de benefícios fiscais para as empresas petrolíferas que exploram águas ultra-profundas ao largo da costa oeste das Ilhas Shetland.
7 – Nigéria, Delta do Níger
De 1969 pra cá, as explorações de petróleo no Delta do Níger têm derramado tanto petróleo quanto o acidente do Exxon Valdez em 1989, nos EUA. Os acidentes recorrentes dizimam as populações de peixes, prejudicam terras agrícolas, e destroem os recursos naturais para sobrevivência de 60% da população.
8 – Rússia, Mar de Okhotsk
O mar de Okhotsk é explorado pelo petróleo e pelo gás, mas a agitação de suas águas dificulta as perfurações. Localizado ao norte do oceano Pacífico, o mar está sujeito a ventos fortes, intensas nevadas, icebergs e pouca visibilidade. Suas ondas variam entre um e três metros, mas podem chegar a 19 metros durante tempestades.
9 – Brasil, Bacia de Santos
Na costa sul do Rio de Janeiro, o campo Tupi está localizada abaixo de uma camada de sal que, em alguns pontos, tem até sete mil metros de espessura. As extrações do pré-sal devem atingir profundidades bem acima da média de outras perfurações em curso no Brasil, que ficam em torno dos cinco mil metros.
10 – Estados Unidos (Alasca), Chukchi e Beaufort Seas
Se algum acidente ocorrer na região, planos e ações de controle chegariam tardiamente. A área tem localização remota, sujeita a intensas nevascas e baixa visibilidades. Cientistas ainda estudam formas de controlar a propagação de petróleo em águas geladas.
Amianto
Jim Morris
Do Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo para a BBC*
Giannasi trabalha há 25 anos no combate ao amianto.
Uma brasileira de 52 anos conquistou uma reputação internacional por seu trabalho contra a indústria do amianto no Brasil.
Há 25 anos, Fernanda Giannasi vem tentando banir o produto no país, para evitar que mais pessoas morram em decorrência do seu uso.
Entre os produtores brasileiros de amianto, Giannasi virou até personanon-grata. "Eu não tenho nome. Sou apenas conhecida como 'aquela mulher'", brinca.
Fernanda Giannasi é inspetora do ministério do Trabalho. Ela afirma que o amianto branco – produzido em Goiás e vendido tanto no Brasil quanto no exterior – já matou centenas de pessoas e provocará mais mortes se não for proibido. Ela rejeita a ideia de que o produto possa ser usado com segurança, como defendem alguns produtores. "Isso é uma ficção", diz Fernanda.
*Dois tumores*
Por seu trabalho no Brasil, ela ganhou vários admiradores na comunidade internacional. Um médico de Goiás apelidou-a de "Erin Brockovich brasileira", em referência à americana que lutou contra indústrias que poluíam a água na Califórnia e virou personagem de um filme.
O palco do trabalho de Fernanda Giannasi são as cidades brasileiras, como Osasco, em São Paulo.
Eliezer João de Souza trabalhou em uma fábrica no local entre 1968 e 1981, cortando amianto. "A fábrica era cheia de pó por toda a parte. Era possível ver o pó nos raios de sol", conta Souza, hoje com 68 anos. Até 1977, os trabalhadores não tinham nenhum equipamento especial. Naquele ano, eles receberam máscaras de papel. "Em um momento, eles chamaram todos os trabalhadores e tiraram raio-X dos nossos pulmões, mas eles nunca nos mostraram os resultados."
Fernanda Giannasi tornou-se conhecida internacionalmente.
Em 2000, Eliezer Souza passou por uma cirurgia para remover dois tumores do seu pulmão. O trabalhador é um dos integrantes da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA). O grupo é um dos 70 que foram formados pelo mundo reunindo vítimas da substância. O amianto já foi amplamente usado em vários países, mas isso mudou ao longo dos últimos anos. No mundo todo, 52 países já proibiram ou restringiram o uso do amianto. A União Europeia proíbe qualquer variação do amianto. Nos Estados Unidos, apenas alguns freios são usados. Em países em desenvolvimento como China, Índia e Brasil, no entanto, a substância ainda é usada. O Brasil é o terceiro maior produtor e exportador de amianto, que é vendido para países como Colômbia e México. O país também é o quinto maior consumidor do produto. As 11 empresas que trabalham com o produto empregam mais de 3,5 mil pessoasdiretamente e movimentam R$ 2,5 bilhões por ano.
*Ativista*
Giannasi começou sua carreira nos anos 80 no Brasil, combatendo a indústria do amianto em São Paulo. Em 1991, após vasta experiência como inspetora, ela foi transferida para Osasco, cidade que concentra as maiores indústrias do setor. Em 1995, ela entrou em guerra contra uma empresa local, tentando impedir a demolição de uma das fábricas sem um manejo ambiental. O processo poderia liberar ainda mais partículas de amianto no ar. Desde o começo do governo Lula, em 2003, a produção de amianto cresceu no Brasil. Fernanda Giannasi levantou a voz para protestar contra a falta de regulação e acabou suspensa por 45 dias. Depois de ir à imprensa, ela conseguiu voltar ao cargo. Exausta da luta de quase três décadas, ela diz hoje que não acredita que conseguirá alcançar seu objetivo maior: uma proibição nacional do uso do amianto no Brasil.
** Colaborou Marcelo Soares.
Confira a Clique reportagem completa
do Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (em inglês).*
Amianto pode matar mais de 1 milhão no mundo até 2030
Canadá exporta amianto das suas minas, mas proíbe uso do produto. Especialistas em saúde pública alertam para um grande aumento no número de mortes nas próximas duas décadas devido ao uso do amianto pela indústria da construção civil, sobretudo nos países em desenvolvimento.
Uma investigação conjunta da BBC e do Consórcio de Jornalistas Investigativos revelou que mais de 1 milhão de pessoas podem morrer até 2030 devido a doenças ligadas à substância.
Com um consumo de amianto 50 vezes maior do que os Estados Unidos, o Brasil é o quinto maior consumidor do produto em uma lista liderada por China, Índia e Rússia.
O amianto é uma fibra natural presente em minas. Barato e resistente ao calor e ao fogo, é misturado ao cimento para construção de telhas e pisos. No entanto, a substância, cujo uso é proibido ou restrito em 52 países, solta fragmentos microscópicos no ar que podem provocar diversas doenças pulmonares quando inaladas, inclusive alguns tipos de câncer.
*Amianto branco*
A investigação conjunta do Consórcio de Jornalistas Investigativos e da BB Crevelou que a produção de amianto continua na ordem de dois milhões de toneladas.
A indústria do amianto movimenta bilhões de dólares, sobretudo com exportações para países em desenvolvimento, onde as leis de proteção e a fiscalização são mais brandas.
Apesar da proibição e restrição ao uso, uma variação da substância conhecida como amianto branco é produzida e exportada para diversos países.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), mesmo o amianto branco pode provocar câncer. Alguns cientistas temem que a disseminação do amianto branco possa prolongar uma epidemia de doenças relacionadas à substância. "Minha visão é de que os riscos são extremamente altos. Eles são tão altos quanto qualquer outra substância cancerígena que vimos, com exceção, talvez, do cigarro", afirma Vincent Cogliano, cientista da Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer da OMS.
Segundo a OMS, 125 milhões de pessoas convivem com amianto no trabalho. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 100 mil trabalhadores morram por ano devido a doenças relacionadas ao amianto. Nos Estados Unidos, a indústria da construção civil não usa mais nenhum tipo de amianto. No entanto, o número de mortes devido à substância está chegando ao ápice, devido ao longo período em que a doença ainda pode se manifestar. No México, mais de 2 mil empresas usam o amianto em diversos produtos, como freios, aquecedores, tetos, canos e cabos. Mais de 8 mil trabalhadores têm contato direto com a substância.
*Doença*
O Canadá é um dos maiores produtores mundiais de amianto branco e exporta o produto, mas proíbe seu uso no país. Na província de Quebec, Bernard Coulombe, que é proprietário de uma mina, afirma que o amianto branco exportado por ele é vendido "exclusivamente para consumidores finais que possuem os mesmos padrões de higiene industrial do Canadá". Ele afirma que sua indústria possui amparo legal para exportar o produto. Não muito longe dali, a pintora amadora Janice Tomkins luta contra mesotelioma, uma doença rara ligada ao amianto. Ela acredita ter contraído a doença há vários anos devido à exposição ao amianto azul e marrom, variações hoje proibidas internacionalmente. Ela luta para impedir que o governo do Quebec libere um financiamento de US$56 milhões para que a mina próxima a sua casa possa expandir a produção, de olho em mercados emergentes como a Índia.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Consciência Negra promove a produção de cartazes
A campanha Consciência Negra em Cartaz, criada pela secretaria de Estado da cultura de São Paulo convida toda população a participar na criação de cartazes sobre o tema, que serão expostos no site oficial.
A pergunta-tema “O que é Consciência Negra para você” serve de inspiração para a confecção livre do cartaz, que pode conter somente palavras ou palavras e imagens. Mostre para o Brasil sua visão sobre Consciência Negra. Os participantes também poderão criar uma frase sobre sua visão do tema, que ficará visível no site.
Visite o site da campanha www.consciencianegra.com.br para ler o regulamento e participar. Os 50 cartazes selecionados pela curadoria ficarão expostos na semana da Consciência Negra.
Acompanhe a “Consciência Negra em Cartaz” no Twitter pelo http://www.twitter.com/conscienciasp
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Terminal pesqueiro pode pôr em risco voos no Rio
Terminal pesqueiro pode pôr em risco voos no Rio - DIANA BRITOPrevisto para sair do papel ainda este mês, um projeto do Ministério da Pesca e Aquicultura para construção de um terminal pesqueiro pode pôr em risco a segurança dos voos no Rio.
Estudo feito pela Aeronáutica indica que o empreendimento será instalado na trajetória de pousos e decolagens dos aeroportos Santos Dumont e Tom Jobim (Galeão), o que pode gerar colisões com aves atraídas pelo pescado.
Dados do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) apontam que o terminal a ser instalado na praia da Ribeira, na Ilha do Governador, zona norte, ficará a 6 km do aeroporto internacional Tom Jobim e a cerca de 8,3 km do Santos Dumont, dentro da ASA (Área de Segurança Aeroportuária), que abrange um raio de 20 km.
Na região há, em média, 110 mil sobrevoos de aeronaves por ano, a 300 metros do solo. Especialistas consideram arriscado ter um ponto de atração de pássaros em um lugar onde os aviões passam a baixa altura.
ATENÇÃO
"Nós temos chamado a atenção para o risco que essa atividade pode oferecer à aviação. A gente pode, sim, ter uma probabilidade de incidentes", afirmou à Folha o coordenador de Meio Ambiente da Infraero no Rio, Fued Abrão.
O Ministério da Pesca diz que o terminal é seguro e que, dentre seus objetivos, está melhorar as condições de trabalho dos pescadores, oferecer infraestrutura para guardar e comercializar o pescado e acabar com os desembarques clandestinos de carregamentos de peixes. Para o órgão, instalar o empreendimento no ponto de aproximação de aeronaves não afetaria a segurança dos voos.
"O nosso sistema será fechado. O pescado vai chegar coberto com gelo, não terá processamento, os peixes vão ser mecanicamente separados, de forma que não haja exposição de pescado", disse o superintendente do ministério no Rio, Jayme Tavares.
Em 30 de outubro de 2009, a Aeronáutica emitiu um laudo desfavorável à construção. No documento, ao qual a Folha teve acesso, é dito que o terminal pode causar um "acidente aéreo de grandes proporções, semelhante ao ocorrido em Nova York [em janeiro de 2009], quando um avião teve que fazer um pouso forçado no rio Hudson". As duas turbinas da aeronave tinham restos de aves.
Assinado pelo brigadeiro Jorge Kersul Filho, presidente do CNPAA (Comitê Nacional de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) na ocasião, o parecer destaca ainda a resolução nº 4 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Ela diz que, dentro da área de segurança aeroportuária, não é permitida a implantação de atividade de natureza perigosa, entendida como "foco de atração de pássaros".
Em 28 de maio deste ano, no entanto, a Aeronáutica emitiu novo parecer, desta vez autorizando a implantação do terminal, "desde que sejam adotadas medidas permanentes que evitem que a atividade constitua foco de atração de aves". A responsabilidade fica a cargo do Ministério da Pesca.
"Para a Aeronáutica, não é a localização ideal. A preocupação maior é o Santos Dumont, que tem uma pista pequena e as aeronaves sobrevoam sem grandes desvios a área do terminal pesqueiro, que está alinhado com a pista. A pista do Galeão é maior", explicou o coordenador do Programa de Controle do Perigo Aviário Brasileiro do Cenipa, major Henrique Rubens de Oliveira.
O Ministério da Defesa se mostrou favorável ao projeto, que deve impedir a atração de pássaros. "O cumprimento dessa condição foi assegurado pelos responsáveis pelo projeto", destacou em nota.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Transporte Aéreo, Elton Fernandes, a criação de obstáculos na área de segurança limita a expansão dos aeroportos no futuro.
"O Galeão é o grande aeroporto do Rio e vai se expandir. Colocar um elemento de restrição, de risco, próximo a um equipamento tão importante da cidade é um ato impensado. Deve haver outras soluções para os pescadores que não seja ali", disse.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/766293-terminal-pesqueiro-pode-por-em-risco-voos-no-rio.shtml
terça-feira, 13 de julho de 2010
Experimento Socialista
Pra que trabalhar, se sempre tem um trouxa pra pagar tudo, como eu fui um desses trouxas!!!! Adrian Rogers, 1931.
Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que ele nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez, reprovado uma classe inteira.
Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e 'justo. '
O professor então disse, "Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas nas provas."
Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e portanto seriam 'justas. ' Isso quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém seria reprovado. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia um "A"...
Depois que a média das primeiras provas foram tiradas, todos receberam "B". Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.
Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. Como um resultado, a segunda média das provas foi "D".
Ninguém gostou.
Depois da terceira prova, a média geral foi um "F".
As notas não voltaram a patamares mais altos mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por 'justiça' dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram o ano...
Para sua total surpresa.
O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado porque ele foi baseado no menor esforço possível da parte de seus participantes. Preguiça e mágoas foi seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual o experimento tinha começado.
"Quando a recompensa é grande", ele disse, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós.
Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável."
"É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade.
Cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber.
O governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro alguém. Quando metade da população entende a idéiade que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação.
É impossível multiplicar riqueza dividindo-a."
Adrian Rogers, 1931
Hidropirataria na Amazônia, um delírio
Hidropirataria na Amazônia, um delírio
10 de julho de 2010 0h 00
Antonio Felix Domingues - O Estado de S.Paulo
Há anos o fantasma da hidropirataria ronda cabeças no Brasil. Embora seja contada como uma história quase policial, a hidropirataria é um delírio que, em vez de contribuir para maior valorização da água, acaba desviando a atenção de problemas reais, como a insuficiente cobertura da rede de água tratada para as populações amazônicas, o índice mais baixo do Brasil.
A história, tema recorrente na mídia, conta que grandes navios-tanque vêm até o Rio Amazonas, ora próximo a Manaus, ora na sua foz, para roubar água do território brasileiro e levá-la para países sedentos. À primeira vista, a hidropirataria nos revoltaria e teríamos, evidentemente, de tomar providências contra a atividade. Entretanto, essa história não encontra fundamento, posto que as leis da economia, de forma indistinta, regem os interesses de todas as atividades comerciais.
Em valores atuais, 1 m3, ou 1 tonelada de água, custa entre US$ 0,25 e US$ 0,50 por dia para ser transportado em navios de grande porte para granéis líquidos. Qualquer viagem para um dos chamados "países com sede", localizados no Caribe ou no Oriente Médio, por exemplo, demoraria vários dias, ao que se impõe uma realidade importantíssima: o custo da água atingiria valores superiores a US$ 3 por m3 para uma viagem de 10 dias a 13 dias, mais os custos de tratamento para torná-la potável, ao redor de US$ 0,40/m3. Esses valores nos mostram a impossibilidade do comércio mundial de água bruta para abastecimento público utilizando-se o transporte marítimo, porque os custos do frete de granéis líquidos tornam a atividade inviável em distâncias superiores a 500 km.
A realidade que está resolvendo a sede dos países é a dessalinização e o reúso, que, com tecnologia e escala, operam a custos cada vez menores. Em Israel, três plantas dessalinizadoras (Ashkelon, Hadera e Sorek), no modelo de parcerias público-privadas (PPPs), fornecem água potável a 3,5 milhões de pessoas a um custo médio de US$ 0,60/m3. Dessa maneira, Israel, dentro de alguns anos, não vai mais comprar água da Turquia, o único caso conhecido de transporte de água em navios-tanque e que, apesar da distância de apenas 600 km, está perdendo toda viabilidade econômica.
Existem hoje cerca de 380 plantas de dessalinização em todo o mundo. No Brasil há apenas uma pequena unidade, funcionando na Ilha de Fernando de Noronha, que opera ao custo de US$ 1/m3. É interessante ressaltar que nem para Fernando de Noronha compensaria levar água em navios-tanque.
Existe, sim, um comércio de água entre países, de características muito limitadas, que ocorre por aquedutos, como, por exemplo, entre Lesoto e África do Sul, Malásia e Cingapura, Turquia e Chipre.
Por outro lado, o Brasil, o país mais rico do mundo em água doce, começa a se beneficiar com a exportação de água, mas não na sua forma líquida, e sim da maneira que se convencionou chamar de água virtual, aquela que é exigida para a produção de bens agrícolas ou industriais. Alguns produtos, como grãos, frutas, carnes, aço, papel, açúcar e álcool, demandam grandes quantidades de água para serem produzidos e muitos países já encontram dificuldades ambientais para a produção desses produtos e, por isso, precisam importá-los de países com água e solo em abundância, como o Brasil, por exemplo.
Provavelmente a história da hidropirataria nasceu de uma confusão que se faz com a prática do uso da água como lastro para os navios. Sem o lastro o navio não tem segurança, navegabilidade nem equilíbrio para a viagem, operações e manobras necessárias. A água de lastro é bombeada para dentro e para fora dos navios, de acordo com a necessidade operacional. Essa prática rotineira tem trazido ao mundo problemas expressivos por causa da introdução de organismos invasores que passam pelos filtros da rede e das bombas de lastro. Atualmente, cerca de 5 bilhões de toneladas de água são movimentadas por ano entre diferentes regiões do globo.
Estimam-se em US$ 100 bilhões por ano os prejuízos globais causados por espécies invasoras na água doce levadas de um continente a outro. Os Estados Unidos gastam por ano cerca de US$ 10 bilhões, principalmente por causa do mexilhão zebra (Dreissena polymorpha).
No Brasil, há cerca de dez anos, foi introduzido o mexilhão dourado (Limnoperna fortunei), trazido por navios do Sudeste Asiático à Bacia do Prata. Para tentar prevenir o flagelo mundial provocado pela introdução de espécies exóticas a Organização Marítima Internacional (IMO), a agência das Nações Unidas responsável pela segurança da navegação e prevenção da poluição marinha, adotou, desde 2004, uma nova Convenção Internacional para Controle e Gestão da Água de Lastro e Sedimento de Navios.
Ainda que o transporte de água doce por navio fosse economicamente viável, quem o fizesse estaria contrariando o principal pressuposto dessa convenção, que é despejar no mar a água doce de lastro trazida de qualquer país, antes de retornar, para evitar a contaminação.
Esforços têm sido intensificados para fiscalizar a água de lastro em costas e portos brasileiros. Esperamos que o Brasil possa, num futuro breve, ser citado como um bom exemplo para os demais países, signatários ou não, da referida convenção.
Portanto, problemas reais de água na Amazônia existem, sim, embora não despertem tanta atenção. Como, por exemplo, o fato de que na área mais rica de água doce do planeta cerca de 40% da população ainda não tem acesso a água tratada, o índice mais baixo no País, cuja média é de cerca de 10%. Esse é, sem dúvida, um fato incômodo e real, que deveria ser objeto de nossa preocupação.
COORDENADOR DE ARTICULAÇÃO E COMUNICAÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA)
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