domingo, 20 de setembro de 2009
O risco das plantas invasoras
*Primeiro Caderno Dia-a-diaEdição de domingo, 20 de setembro de 2009 *
Espécies exóticas podem provocar desequilíbrio no meio ambiente e causarproblemas na paisagem urbana das cidades
Márcia Dementshuk // marciabeth.pb@diariosassociados.com.br
Mais do que beleza e ornamentação, a vegetação é uma necessidade para o homem e para sobrevivência do planeta. Árvores e plantas são responsáveis pela purificação do ar, transformando o gás carbônico em oxigênio e impedem a erosão do solo, o que resulta em desertificação e morte do mesmo. Seus frutos e folhas servem como alimento ao homem e aos animais. Entretanto, mesmo importantes, elas podem ser prejudiciais ao ecossistema caso estejam em habitats inadequados ao seu desenvolvimento.
Exemplos disso são as plantas exóticas, transferidas de seus locais de origem, por alguma razão, mas que passam a trazer prejuízos ao sistema quando se proliferam de forma descontrolada. A partir disso, elas se tornam invasoras.
Algumas árvores inseridas no solo podem alterar o ecossistema. Neste contexto, cada espécie viva traz características próprias. Algumas são mais resistentes às intempéries do clima. Outras não convivem com a diversidade vegetal. Esse é um fenômeno biológico conhecidocomo alelopatia, observado nos casos em que nenhuma planta consegue crescer próxima a outra determinada, ou quando ela se desenvolve melhor na presença de "companheiras".
O engenheiro agrônomo Genival Filho explica que pela alelopatia determinados vegetais liberam no ambiente substâncias químicas através das folhas, das flores, do caule, das raízes que são absorvidos por outros vegetais. Esses compostos podem beneficiar ou prejudicar o desenvolvimento de espécies próximas a ela. "Quando os produtos liberados são incompatíveis, aquelas que não resistem, morrem e as que permenecem dominam o local". Segundo ele, o maior problema é quando o cultivo é desordenado e as plantas se proliferam por conta própria e livre de inimigos naturais, deterioram as espécies nativas.
*Castanholas invadem superfície*
Este foi o desfecho da história da árvore popularmente conhecida como castanhola, em João Pessoa. Originária do continente asiático, se reproduz com muita facilidade. Por ser resistente e oferecer um sombra agradável, foi preferida pelos moradores da capital, tendo sido plantada nos logradouros e calçadas.
A questão é que os frutos caem no chão e as sementes são levadas pela água até as partes mais baixas da cidade. Em função das condições favoráveis e por não disputar com predadores, as sementes depositadas germinam e crescem, povoando densamente a região. Como se trata de um vegetal forte, pelo fenômeno da alelopatia, outras plantas nativas não resistem e morrem, alterando o ecossistema. Além disso, a castanhola possui raízes grossas que crescem lateralmente, invadindo a superfície. Quando estão próximas às casas ou muros, comprometem a estrutura rachando aconstrução.
Josimar Máximo tem enfrentado no dia a dia a preocupação com plantas invasoras, que cresceram e estão provocando rachaduras no muro de seu condomínio. A Seman foi acionada para corte dos galhos
*Plantas crescem e ameaçam as demais*
Os moradores do Residencial Marina, um condomínio de casas na Rua Egídia Vanderlei A. de Carvalho. Os fundos do terreno e parte das laterais encontram um dos desembocadouros da drenagem das vias públicas de João Pessoa. Visto do alto, é uma bonita área verde.
Examinando de perto, trata-se de um conglomerado de plantas invasoras. Presença unânime das castanholas. Um dos integrantes da comissão de sindicância do condomínio, o advogado Josimar Maximo, informou que foi solicitado à Secretaria do Meio Ambiente de João Pessoa (Seman) a poda dos galhos das árvores que estão invadindo o residencial por cima do muro de mais ou menos quatro metros de altura, além do corte definitivo de uma delas que está rente ao muro.
No momento da entrevista, foram observadas várias rachaduras no muro que pode estar cedendo por causa da sobreposição das raízes. "Vou investigar a situação no outro lado, quando o pessoal da Seman vier. O que posso afirmar agora é que a sujeira é grande. Essas árvores crescem muito rápido. Os galhos podem bater na cerca elétrica e causar um curto circuito. Mas pior do que isso são os morcegos. Há dezenas deles. Eles têm ninho nessas ávores e se alimentamdos frutos. De noite é perigoso ficarmos no quintal, porque eles sobrevoam o condomínio com rasantes, mesmo quando deixamos os refletores de luz acesos", declarou o advogado. Os morcegos são transmissores de raiva e destruí-los,no Brasil, é considerado crime.
*Solução é monitorar e realizar a podagem*
Na área urbana da capital a Seman realiza o controle de espécies invasoras efetuando poda ou corte destas árvores e plantando espécies nativas no local, como a imbiribeira (*Eschweilera ovata*), o pau-cinza (*Hirtellahebeclada*), a quina-quina (*Coutarea hexandra*) o açoita-cavalo (*Lueheaocrophylla*), a guabiraba (*Campomanesia dichotoma*) e o jatobá-vermelho (*Hymenaearubiflora*). Mas estas soluções são paliativas.
De acordo com Anderson Fontes, engenheiro agrônomo da Divisão de Botânica da Seman, a secretaria está na formulando um amplo estudo na área urbana que resultará no Inventário Arbóreo de João Pessoa. Trata-se de um diagnóstico da situação das sete mil ruas da cidade, mapeando espécies nas calçadas, canteiros e praças. Este documento trará informações precisas a respeito da questão e, apartir, de então, será possível o planejamento de ações para resolver o problema.
Prefeitura realizará inventário para identificar os tipos de plantas na cidade Anderson Fontes, que trabalha no projeto, informa que este ano foi concluído o pré inventário que dará origem ao estudo final. Nele foi registrado que a paisagem nativa da capital mudou. 86% das árvores em João Pessoa são exóticas.
Na execução deste documento foram analisados 912 logradouros em 30 bairros, o que corresponde a 12% das ruas da cidade. Para o engenheiro, as pessoas demonstram boa intenção ao plantar uma árvore, "no entanto, elas precisam ter conhecimento da espécie mais adequada para as condições disponíveis. Uma castanhola precisa de sete a dez metros de raio em torno dela para se desenvolver de forma saudável. Não pode ser plantada em uma calçada. São necessárias ações educativas para a população", informou o engenheiro.
Outro alerta é direcionado às árvores que estão na orla: no Cabo Branco e Manaíra. São bonitas, oferecem sombra e alento na hora do sol escaldante. Contudo, não pertencem à vegetação nativa e estão invadindo, ese reproduzindo cada vez mais rápido. Num futuro próximo, irão dominar e depredar as dunas.
*Desequilíbrio na natureza preocupa*
Em âmbito nacional, o Ministério do Meio Ambiente atentou para o problema recentemente, a partir de uma reunião ambiental internacional, sediada no Brasil, que discutiu o assunto. Dentre as recomendações da reunião, foi determinado que o país desenvolvesse diagnósticos das espécies invasoras existentes e formas para combatê-las. Entre os anos de 2003 e 2005, técnicos coordenados pela Câmara Técnica Permanente de Espécies Exóticas e Invasoras, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, trabalharam na coleta de informações para a montagem do "Informe Nacional de Espécies Exóticas Invasoras", que afetam o ambiente em cinco níveis: terrestre, marinho, águas continentais (rios e lagos), sistemas de produção (agricultura, energia, eoutros), saúde humana (microorganismos e vírus, como a dengue, ou a gripe suína). No mês de setembro deste ano, o primeiro relatório será publicado, referente às Espécies Exóticas Invasoras Marinhas.
Expansão de plantas exóticas e os prejuízos para o meio ambiente tem tornadoo assunto prioridade para o governo Segundoo coordenador da Câmara Técnica Permanente de Espécies Exóticas e Invasoras, Lídio Coradin, esta é a segunda maior causa de destruição da biodiversidadedo planeta. É mais destruidor do que as consequências do aquecimento global. "Apenas a destruição causada pelo homem, através do desmatamento e da fragmentação dos ecossistemas é pior do que a presença de espécies invasoras", esclareceu o coordenador. O impacto financeiro também surpreende. No Brasil, entre as perdas causadas pelas espécies invasoras, que compreendem não somente plantas, como também animais e microorganismos, e ações para combatê-las, são gastos em torno de R$ 100 bilhões por ano.
Lídio Coradin lamenta ser este mais um problema que o governo federal terá que se ocupar, destinando verbas e esforços que poderiam estar indo para as áreas de educação e saúde. "As pessoas agem por desconhecerem a matéria enão imaginam o caos que essa atitude pode gerar. Quando o objetivo é econômico, quem explora a cultura precisa se preocupar em impedir que o plantio não se alastre para fora da área cultivada. Na bacia de origem, as espécies possuem predadores naturais consolidando o equilíbrio na natureza.
Quando elas são transferidas, o predador não vem junto e, agora exóticas, em terra estranha, as espécies encontram o ambiente perfeito para reprodução. O sistema começa a se desequilibrar", esclareceu Lídio Coradin. A dimensão do problema pode ser mensurada através da situação que a Usina Hidrelétrica de Itaipu enfrenta. Um dos motivos de paralisação das turbinas é a limpeza por causa do mexilhão dourado que adere ao equipamento. São gerados 90 milhões de megawatts-hora (MWh) por ano, com as 20 turbinas em pleno funcionamento. O mexilhão dourado é considerado uma espécie invasora pelo MAM.
*Algaroba no Cariri: produtividade?*
A algaroba (nome popular) é uma planta originária do deserto de Piura, norte do Peru, e se desenvolve com facilidade em solos áridos. No início da décadade 1940, a espécie foi trazida para o Nordeste com a finalidade de servir de alimento ao gado e para o reflorestamento. Atualmente, técnicos da Empresade Assistência Têcnica e Extensão Rural (Emater) vinculada à Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado, apontam a incidência excessiva da algaroba no interior paraibano, especialmente na região do Cariri. É a planta ivasora mais expoente, uma vez que as demais espécies não chegam a apresentar problemas.
O engenheiro florestal da Emater, Robi Tabolka dos Santos, explica que as invasões de espécies vegetais no interior ocorrem em pontos localizados, nabeira dos rios e mananciais de água e nas áreas onde a caatinga estádegradada. "As consequências se refletem na flora e na fauna. As plantas nativas deixam de existir, os animais que se alimentavam destas plantas migram para outras regiões e outros animais passam a habitar no novo sistema criado pela presença da invasora", esclareceu Robi Tabolka. Ele concluiu afirmando que o problema pode ser dominado, com chances concretas de ser revertido.
*Interior é beneficiado com uso de planta *
Embora a algaroba seja considerada invasora em determinadas situações, o cultivo controlado dela resulta em alta produtividade e lucros. O engenheirode alimentos Clóvis Gouveia da Silva, doutor em Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e pesquisador vinculado ao Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba (CT-UFPB), onde desenvolve pesquisas relacionadas com as propriedades da algaroba, afirma que as qualidades da algaroba são infinitas. "Há um aproveitamento completo da árvore, da raiz aos frutos", disse Clóvis. Para ele, o mito que existe emtorno da planta, considerando-a agente depredador, deve ser reconsiderado.
Com a modernização e a entrada de novas técnicas para alimentação do gado, a algaroba ficou esquecida no interior do estado e, livre de predadores, se proliferou descontroladamente. Contudo, para o estudioso a algaroba apresenta-se como uma das alternativas mais viáveis e imediatas para se combater a fome em nível mundial, por causa das propriedades nutritivas que contém. Rica em açúcares, proteínas e sais minerais, a partir das vagens, se retira às matérias-primas para produção de pães, bolos, biscoitos, bebidas, entre outros.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Excelente!!!!!
ResponderExcluir