sábado, 5 de setembro de 2009

Mídia: o que não querem que você saiba

12 milhões de mortos invisíveis

Por Marcelo Salles

Enquanto a gripe suína não sai do noticiário, as doenças negligenciadas seguem matando sem causar alarde. Geralmente suas vítimas estão nas classes sociais mais baixas. Só no Brasil, malária, tuberculose, hanseníase, dengue e leishmaniose infectam mais de 650.000 pessoas por ano. No mundo todo morrem 35 mil pessoas todos os dias.
Os números são alarmantes. Enquanto a badalada gripe suína matou algumas centenas de pessoas, doenças como Aids, tuberculose, malária e doença de Chagas, entre outras, matam mais de 12 milhões de pessoas todos os anos. São 35 mil mortes por dia! E se os números são alarmantes, a diferença no tratamento do monopólio da imprensa é escandaloso. Enquanto uma não sai dos noticiários, as doenças que assolam a humanidade simplesmente não são noticiadas.

O estardalhaço feito em cima da nova gripe tem suas serventias. Primeiro, não deixa tempo para falar sobre o genocídio promovido pelo USA no Iraque e no Afeganistão. Em segundo lugar, ajuda aos noticiários a omitirem a raiz do problema, que está na poluição causada pela empresa ianque Smithfield Foods em terras mexicanas. A discrepância entre a mortalidade da gripe causada pelos porcos capitalistas e a mortandade avassaladora das doenças negligenciadas revela o escárnio de todo o teatro.

De acordo com um alerta divulgado pela internet por médicos e cientistas de vários países, incluindo o Brasil, o que existe é uma negligência dos governos em relação às doenças que atingem preferencialmente as camadas mais pobres da população:

— Embora estas doenças afetem centenas de milhões de pessoas, faltam vacinas, diagnósticos e medicamentos, que sejam seguros, adaptados às condições de vida das pessoas afetadas, efetivos, e cujos preços sejam acessíveis, para combatê-las.

Em 1990, o Fórum Global de Saúde apontou o chamado "Hiato 10/90". O termo se refere a um conjunto de doenças que atingem apenas 10% da humanidade, mas que recebem 90% dos investimentos para estudos e pesquisas científicas. As doenças negligenciadas estão fora deste grupo. O resultado é que esta omissão do sistema capitalista termina por favorecer os interesses de grandes monopólios farmacêuticos e empresas associadas, que seguem fabricando apenas determinados tipos de remédios:

— O modelo de desenvolvimento de medicamentos baseado no lucro não é adequado para desenvolver ferramentas de saúde essenciais para doenças negligenciadas. Níveis mais elevados de proteção de propriedade intelectual não resultaram em mais produção e distribuição de medicamentos para as necessidades globais de saúde — denuncia o alerta divulgado pela internet.

— As empresas acabam se preocupando apenas com os medicamentos que dão lucro, então os governos precisam se preocupar com a saúde da população, disse em 2006 o presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo Buss, um dos representantes do Brasil na assembléia anual da Organização Mundial da Saúde.

Entre a década de 1980 e o início do novo milênio, o financiamento global para a pesquisa em saúde triplicou, passando de US$ 30 bilhões para US$ 106 bilhões. No entanto, os seguimentos mais pobres não desfrutaram do progresso. Como exemplo pode-se citar o baixíssimo índice (1%) de medicamentos aprovados entre 1975 e 1999 para doenças tropicais e a tuberculose, que afetam diretamente essa parcela da população.

Só no Brasil, doenças já erradicadas em boa parte do mundo como malária, tuberculose, hanseníase, dengue e leshmaniose infectaram mais de 650 mil pessoas no ano de 2005, segundo os dados oficiais. Dentre essas, milhares morreram em decorrência das enfermidades.

Dados do Ministério da Saúde apontam uma média de 85 mil casos de tuberculose registrados no país a cada ano — 35% do total encontrado nas Américas. O índice provoca cerca de cinco mil mortes anuais e classifica o Brasil como detentor do maior número de mortes pela doença entre os países do continente.

Estima-se que 17 milhões de pessoas estejam infectadas pelo parasita causador da doença de Chagas, o Trypanosoma cruzi, e que cerca de 120 milhões de pessoas estejam sob risco de infecção em regiões endêmicas da América Latina. No Brasil, são cerca de 3 milhões de pessoas infectadas.

A este quadro desastroso se somam a medicina privada restritiva e o sistema público ineficiente, onde para se obter o resultado de um exame é preciso esperar até 40 dias úteis — tempo que pode decidir a vida de uma pessoa, dependendo da doença que lhe aflija.

Por fim, o documento divulgado pela internet ressalta a falta de vontade política para resolver esse drama que mata milhões de pessoas em todo o mundo a cada ano:

— A ciência básica para doenças infecciosas existe e a biomedicina está se desenvolvendo com muita rapidez, mas sem determinação política, este progresso não pode ser utilizado para desenvolver produtos essenciais.

Só que não adianta esperar a boa vontade de governos comprometidos com o sistema capitalista. Essa determinação política somente será convertida em benefícios para as maiorias quando o povo organizado se apropriar das indústrias farmacêuticas e/ou tomar o controle das ferramentas do Estado.

Principais doenças negligenciadas:

Doença de Chagas
A doença de Chagas é causada pelo Trypanosoma cruzi, um parasita transmitido por insetos hematófagos, por transfusão de sangue contaminado, ou de mãe para filho, na gravidez. A doença ameaça um quarto da população da América Latina.

Doença do sono
Causada por dois protozoários, a infecção é transmitida pelas moscas tsé-tsé, que se reproduzem em áreas pantanosas. Em 1999, 45 mil casos foram reportados à Organização Mundial de Saúde (OMS), mas o número pode chegar a 500 mil.

Leishmaniose
Brasil, Bolívia e Peru contabilizam 90% de todos os casos mundiais. Os três tipos da doença são causados pelo Leishmania, um parasita microscópico transmitido pela picada de mosquitos.

Malária
A doença é causada por protozoários do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada da fêmea do mosquito Anopheles. A malária está presente em mais de 100 países e ameaça 40% da população mundial. A cada ano, 500 milhões de pessoas são infectadas.

Núcleo Piratininga de Comunicação

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