(JOSÉ BONIFÁCIO, 1821)
Segundo, Lewinsohn (2001), Biodiversidade é um dos termos científicos mais conhecidos e divulgados no mundo nos dias atuais, mas nem por isso é bem compreendido pela maioria das pessoas, inclusive pelos cientistas. Para o autor, o conceito de biodiversidade refere e integra toda a variedade de organismos vivos encontrados nos mais diferentes níveis. Além disso, a biodiversidade não é apenas uma coleção de componentes em vários níveis, mas também a maneira como esses organismos estão organizados e como interagem, ou seja: “as interações e processos que fazem os organismos, as populações e os ecossistemas preservarem sua estrutura e funcionarem em conjunto”.
Conforme o Artigo 2º da Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB, a Biodiversidade, ou diversidade biológica é entendida como a variabilidade dos organismos vivos de todas as origens, abrangendo os ecossistemas terrestres, marinhos, e outros ecossistemas aquáticos, incluindo seus complexos; e compreendendo a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.
É essencial para o conhecimento da Biodiversidade a descrição de novas espécies. As taxas dessas descrições indicam o volume de trabalho realizado e o ritmo em que ele vem sendo desenvolvido. A Taxonomia, o estudo que descreve e classifica novas espécies, é fundamental para o conhecimento da Biodiversidade, (LEWINSOHN, 2004).
Nos séculos XIX e XX, muitos biólogos e naturalistas se especializaram em algumas famílias de plantas ou animais, se esforçando em descrever novas espécies. Enquanto aumentava conhecimento e a classificação de espécies, percebia-se que em cada região havia espécies diferentes e algumas exclusivas de uma determinada área do planeta, (LEWINSOHN, 2001).
A ideia de diversidade de espécies surgiu da união da Taxonomia com a Biogeografia, ciência que descreve a distribuição geográfica das espécies e busca sua caracterização em cada tipo de ambiente natural e em cada região geográfica do planeta. O atual conceito de espécie biológica, influenciado pela genética e a evolução dos organismos, é a capacidade de intercruzamento em condições naturais. Este conceito reconhece que “indivíduos ou populações variam de aparência e podem mesmo ser de raças distintas, mas pertencerem à mesma espécie, (LEWINSOHN, 2001).
A importância da diversidade biológica passou a ser compreendida a partir do desenvolvimento da biotecnologia, quando foi observado que quanto maior a biodiversidade que um país possui, maior é a gama de produtos que poder ser desenvolvidos e industrializados. A eficácia na proteção da biodiversidade deve levar em conta o fato que ela avança rapidamente da situação de uso econômico limitado, para a de uso econômico amplo, tornando fundamental tratá-la, como um bem e não como uma coisa, (BENTES-GAMA, 2003).
Diversos autores destacam a importância do conhecimento para conservação da biodiversidade (GIULIETT et al., 2005; PEIXOTO e MORIN, 2003; LEWINSOHN, 2001; MEDEIROS, 2001; COSTA e MARTINS, 2008). O estudo taxonômico é fundamental para que se tenha conhecimento da riqueza biológica, esta que muitas vezes é perdida antes mesmo de ser conhecida.
Giuliett et al. (2005) destacam que o progresso da conservação da biodiversidade depende de taxonomistas com experiência de campo e de laboratório. “O trabalho deve ser concentrado em identificar e inventariar os Hotspots (Lugares de grande riqueza biológica e mais ameaçados da Terra, os hotspots, são áreas com alto grau de endemismo) e em manter as coleções de herbários, coleções vivas e coleções de DNA”.
A Biodiversidade, o conjunto de seres vivos, desde os microorganismos até os grandes animais e plantas dentro dos seus respectivos ecossistemas no qual integram, é a garantia do futuro da humanidade já que ela depende da manutenção da variedade e variabilidade dos genes, espécies, populações e ecossistemas atuais, (MENDES).
Segundo Lamim-Guedes e Soares (2007) é importante ressaltar, a inclusão da espécie humana como componente fundamental do sistema e extremamente dependente dos serviços e bens ambientais oferecidos pela natureza. Para esses autores, a vida humana correria riscos caso não pudesse dispor da biodiversidade ou da reserva biológica do planeta.
A conservação da biodiversidade garante a sobrevivência da maioria das espécies de animais e vegetais e a humanidade perderia a fonte de recursos para a sua sobrevivência. Para manter a biodiversidade, a sociedade precisa identificar e proteger lugares especiais desenvolver métodos e ações concretas. A conjugação de esforços em discutir temas importantes como: educação, saúde, mudanças climáticas, energias renováveis entre outros, se faz necessário para o equilíbrio planetário.
A riqueza da biodiversidade é pressionada por parte da humanidade. Seus recursos estão sendo esgotados, afetando diretamente os ecossistemas, levando ao desaparecimento de muitas espécies biológicas. A degradação e a exploração excessiva são causadas pelo aumento demográfico e uso da terra, fatores que afetam negativamente as populações dos ecossistemas, alterando seus habitats e promovendo extinções genéticas. O desmatamento de grandes florestas, hoje reduzidas a fragmentos de mata, propicia o isolamento de populações de animais e plantas e a perda de sua variabilidade genética, (FERREIRA et al. 2008).
A extinção lenta e natural mantém o equilíbrio em relação ao número de especiações, mutações e modificações das freqüências dos alelos que geram novas espécies. A exploração excessiva aos recursos naturais tem desencadeado a diminuição da biodiversidade, uma vez que a taxa de extinção se torna maior que a especiação, (COSTA e MARTINS, 2008).
Segundo Cox e Moore (2009), quando as “condições se alteram muito rapidamente impedindo as adaptações genéticas e evolutivas, populações, espécies ou mesmo grupos inteiros de espécies podem passar à extinção”. Para os autores a extinção é uma “característica regular das constantes mudanças de padrões de vida. Novas formas prosperam em detrimento de grupos antiquados e fracamente adaptados, os quais desaparecem.”
Extinções de espécies ocorrem de forma natural numa escala de tempo de um milhão de anos, eventos de extinção em massa como a que eliminou os dinossauros do planeta são exceções. Ações humanas como a biopirataria, a introdução de espécies exóticas, a destruição de habitats têm acelerado o ritmo de extinções de diversas espécies nos dias atuais e aumentado o risco à manutenção da biodiversidade ao provocar outras ameaças como o aquecimento global, (PIMM e JENKINS, 2005).
Waren Dean (1996) destaca a importância da floresta para a existência de várias espécies da fauna e da flora ao oferecer abrigo e alimento. Visto que algumas espécies da flora dependem diretamente de animais ou insetos específicos para poderem se reproduzir. Nesta enorme e delicada teia, onde o dinâmica natural depende da harmonia entre as espécies, a extinção de determinadas espécies compromete a existência de muitas outras.
Após anos de predação, a fauna, hoje, sofre sérias ameaças através do tráfico de animais silvestres, um dos problemas primordiais a serem resolvidos por órgãos responsáveis de diversos países. As taxas de mortalidades são extremamente elevadas, estima-se que do momento da captura ao destino final cheguem a 90%, no Brasil, cerca de 30% deste mercado ilegal é exportado, o restante é comercializado internamente, (FERREIRA et al., 2008). O país é um dos principais fornecedores de flora e fauna para o mercado mundial e alvo da biopirataria, que é o comércio ilegal da biodiversidade, (BENTES-GAMA, 2003). A sua megadiversidade além de conter um alto potencial para acrescentar conhecimento à ciência, é também um acervo econômico incalculável pelo valor que pode ser gerado por descobertas científicas de interesse comercial, como os fármacos.
Outro grande problema que afeta consideravelmente o equilíbrio do meio ambiente é a introdução de espécies exóticas invasoras. Considerado o segundo maior fator de devastação ambiental, provocando a extinção de centenas de espécies da fauna e da flora, perde apenas para a exploração humana direta por destruição de habitats, (COSTA e MARTINS, 2008). Segundo Fonseca et al., (1999), o problema é grave e desafiante não só pela introdução de espécies de outros países e continentes mas também de biomas diferentes onde essas espécies não ocorriam originalmente. Os autores alertam que os países e regiões biologicamente ricos são bem mais vulneráveis aos impactos derivados de espécies exóticas.
A biodiversidade possui valor ecológico, genético, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético, porém grande parte da sociedade não reconhece a importância desses valores, não tem consciência do valor ecológico que as espécies da fauna e da flora desempenham na estrutura e manutenção dos ecossistemas e que delas depende o equilíbrio biológico, essencial para todas as formas de vida, (FERREIRA et al. 2008).
Para Loureiro (2002), a humanidade interage com a natureza e não a domina, é a sociedade contemporânea, em funções das relações sociais e de produção que apresenta uma “ação predatória e potencialmente ameaçadora da vida na Terra”. Com o surgimento da cultura humana e o seu desenvolvimento, se aprofundou o impacto na biogeografia mundial. Poucas são as espécies que escapam dos efeitos de sua atividade no aspecto de sua ecologia e distribuição, (COX e MOORE, 2009).
Ao longo dos anos, a relação do ser humano com o planeta se desenvolveu e modificou até se tornar uma relação de domínio e desprezo pela natureza, (BENSUSAN, 2006). A manutenção do hábito de consumo e estilo de vida adotados pela sociedade atual é ambientalmente insustentável, (PORTILHO, 2005).
É enorme a dependência que a humanidade tem dos organismos vivos. A utilidade desses organismos pelo ser humano vai desde o alimento fornecido, construções de moradias e confecções de vestimentas até como fontes de medicamentos. Outros funcionam no sistema geral de sustentação do planeta, atuando no balanceamento gasoso da atmosfera ou na estrutura saudável do solo, ou até mesmo, modificando o clima, (COX e MOORE, 2009).
A preservação e a recuperação da natureza são necessárias para a sustentação da riqueza biológica do planeta, (ALVES et al., 2009) ao assegurar os mecanismos de sobrevivência humana e de outras espécies na Terra, (IRVING e MATOS, 2006).
Diegues, (2005) também destaca a importância da preservação da diversidade biológica, principalmente pela manutenção da diversidade genética, visto a necessidade de assegurar o fornecimento de alimentos, de fibras e certas drogas, como também para o progresso científico e industrial. E, ainda, "para impedir que a perda das espécies cause danos ao funcionamento eficaz dos processos biológicos”.
Por desempenhar um papel de influência sobre outras espécies vegetais e animais, ao mesmo tempo em que é uma espécie entre as demais, e também dependente de outras, o ser humano aos poucos percebe que o mundo não é apenas centrado nele, e que as outras espécies têm direito à existência, tanto quanto ele próprio. Portanto tem a responsabilidade, como uma espécie de alto impacto sobre os ecossistemas do planeta de garantir que as extinções sejam minimizadas e a conservação torna-se uma questão ética, (COX e MOORE, 2009).
Loureiro (2002) aponta que não é somente o uso indevido dos recursos naturais o responsável pelas conseqüências da degradação ambiental, mas sim o “conjunto de variáveis interconexas, derivadas das categorias: capitalismo/modernidade/industrialismo/urbanização/tecnocracia.” O pedagogo japonês, Tsunessaburo Makiguti em 1930 quando escreveu sua pedagogia de educação, categorizou a vida em quatro bases distintas de atividade: Natureza; Indivíduos; Sociedade e Universo. Na base Natureza, governada pela lei da física, o relacionamento ele dividiu em quatro tipos: sujeição, harmonização, conflito e conquista. Na base Indivíduos, governada pelo princípio psicológico, lei social, política e econômica, o relacionamento é divido em: conflito e cooperação. Na Sociedade, governada pelas leis da ética, moral, tradições e costumes sociais, o relacionamento deve ser participativo. A última a base, Universo, governada pela lei casual e pelo princípio religioso, o relacionamento é de causa e efeito.
Para Makiguti, a atitude do ser humano em relação à natureza deve primeiramente ser de reconhecimento de que somos criaturas da natureza e sujeitos às leis físicas. Mas procurando seguir o “curso natural” ou “triunfar sobre a natureza”. A outra é a moderação, a harmonia da relação com ela e sua utilização em benefício próprio. Podendo até “domesticá-la para servir aos nossos objetivos”, recebendo vantagens sem nenhum perigo de sua conquista. Mas o segredo para isso é “buscar um relacionamento de interação intelectual equilibrada” entre o ser humano e o meio ambiente.
Segundo Diegues, (2005) os padrões de consumo das comunidades tradicionais, sua baixa densidade populacional e o limitado desenvolvimento tecnológico fazem com que sua interferência no meio ambiente seja pequena. “A conservação de recursos naturais é parte integrante de sua cultura”, o respeito se aplica não a somente à natureza como também aos outros membros da comunidade.
O rico conhecimento que essas comunidades têm sobre os recursos biológicos tem sido alvo dos países detentores da maior parte do volume de produção científica em nível global, as informações que essas comunidades tradicionais detêm sobre a natureza e o uso dos recursos naturais renováveis de ambientes em que habitam há vários séculos guardam segredos que podem ajudar na cura de muitas doenças, (FONSECA, RYLANDS e PINTO, 1999).
Oliveira, (2002) destaca que a capacidade do planeta em suportar o modelo adotado pela sociedade moderna está próxima do limite. Há uma necessidade urgente de repensar sobre conceitos como: ética, vida, consumo, bem-estar e felicidade diante da problemática da questão ambiental. Visto que, a busca “egoísta pela felicidade surtiu um efeito contrário, trazendo sofrimento, resultante dos problemas ambientais e tecnológicos”, (IKEDA, 2005).
A possibilidade de ocorrências de fenômenos devastadores provocados pelo aumento do efeito estufa e do buraco na camada de ozônio, pela desertificação e o comprometimento dos recursos hídricos para o consumo humano; bem como o comprometimento da manutenção da biodiversidade diante da rápida extinção de espécies; além da pobreza, da fome, das guerras, da hegemonia e da arrogância dos poderosos no processo de globalização, obrigam-nos a buscar a transformação do modelo de desenvolvimento atual em um modelo que seja sustentável e equitativo.
Nesse contexto, uma poderosa aliada da biodiversidade é a educação ambiental, que hoje enfrenta um grande desafio ao perseguir a mudança de mentalidade sobre as idéias de desenvolvimento baseado na acumulação de riquezas, no “saque dos recursos naturais”, no desprezo às culturas tradicionais e aos direitos fundamentais do ser humano, (REIGOTA, 1998).
A Educação Ambiental como um processo de esclarecimento, deveria ser encorajada pelas discussões críticas em relação à educação, ao ambiente e às realidades sociais. As confrontações pessoais e coletivas são fundamentais ao permitir parcerias, para construir e dividir as mudanças desejadas, (SAUVÈ, 1997).
Para Pedrini, (2006) a relação entre a Educação Ambiental e a Biodiversidade deve ser intensificada visando à preservação ou a conservação da biodiversidade na sua unidade espacial, ou seja, visando a sua totalidade. Para o autor existe uma convergência entre elas e uma depende da outra.
No atual “estado global de destruição ambiental, parece que o planeta inteiro está nos ensinando de forma direta, refletindo nossos erros”, (HENDERSON, 2005).
Para a manutenção da vida na Terra é preciso que o ser humano comece a mudar seus atos e sua relação com ela. “Dez mil ondas começam a partir de uma única onda, (IKEDA, 2005).