OCEANO ATLÂNTICO NORTE — Cientistas marinhos encontraram fragmentos de plástico em todas as amostras de água do oceano obtidas na perna inicial da travessia do Projeto 5 Gyres (Giros), o primeiro estudo global sobre poluição marinha por plástico.
“Todas as amostras obtidas da superfície no meio do Atlântico continham fragmentos de plástico, não importava aonde deixávamos cair nosso equipamento de arrasto,” disse Anna Cummins. A residente de Santa Monica, Califórnia, velejou através do Atlântico Norte entre St. Thomas, na Ilhas Virgens, EUA e as Bermudas, para lançar o projeto com seu marido o Dr. Marcus Eriksen.
O casal deixou as Bermudas em 28 de janeiro último com destino aos Açores, nesta segunda perna de sua viagem, uma travessia transatlântica sem precedentes. Eles estão velejando através do Mar de Sargaço, uma região alongada no meio do Atlântico Norte circundada por correntes oceânicas as quais formam o Giro do Atlântico Norte.
A poluição marinha por plástico, a qual pode ameaçar a saúde humana, é largamente conhecida como prevalecente no Oceano Pacífico Norte como o “Grande Rastro de Lixo do Pacífico”. O Projeto 5 Gyres busca documentar esses detritos artificiais nos cinco giros do globo.
“Este é um problema global, temos visto evidência de poluição por plástico em todos os lugares do mundo e isto está piorando”, diz o Capitão Charles Moore, o fundador da Algalita Marine Research Foundation (AMRF – Fundação de Pesquisa Marinha Algalita ). O Projeto 5 Gyres é uma colaboração entre a AMRF, Livable Legacy e a Pangaea Explorations.
Cummins e Eriksen, dirigentes do projeto, vêm trabalhando extensivamente com o Capitão Moore. O montante de plástico que eles encontraram durante a perna inicial de 1.070 milhas, cercando o Giro do Atlântico Norte, a bordo do veleiro de regata Sea Dragon, é similar ao que eles viram no Pacífico.
A acumulação torna-se mais densa em leiras no mar, as quais são parecidas com correntes de superfícies de rios povoadas por densos sargaços que aprisionam os detritos. “Nos sargaços encontramos tampas de garrafas, cápsulas de balas de revólver, engradados e até mesmo botas de borracha!” diz Cummins.
Nas Bermudas, Cummins e Eriksen realizaram palestras públicas e para escolas, varreram praias com grupos de limpeza e se encontraram com o Cônsul Geral dos Estados Unidos Grace Shelton. Eles esperam retornar para a Califórnia no final de fevereiro deste ano, após apresentarem suas descobertas na Ocean Sciences Conference de 2010 (Conferência de Ciências Oceânicas) em Portland, no estado do Oregon, EUA, em 24 de fevereiro.
No mar com outros onze tripulantes, Cummins e Eriksen estão aprofundando o foco de suas pesquisas anteriores na AMRF, as quais têm sido quantificar os plásticos flutuantes, incluindo os fragmentos de microplástico consumidos por peixes. Agora eles buscam entender como esses detritos afetam os peixes, para entender melhor o efeito humano do que o Los Angeles Times chama de “um dos segmentos da esteira de lixo tóxico da civilização que mais cresce.”
“As partículas de plástico no mar agem como magnetos para substâncias químicas tais como DDT, PCBs, retardadores de chama e outros poluentes,” diz Cummins. “O Projeto 5 Gyres está trabalhando para avançar nossas pesquisas anteriores com os testes buscando determinar se esses químicos se acumulam nos peixes, navegam ao longo da cadeia alimentar e terminam em nossos pratos de jantar.”
Um dos patrocinadores do projeto é a Blue Turtle. A Pangaea Explorations está fornecendo o veleiro de 72 pés Sea Dragon, no qual o casal velejará para coletar amostras da superfície do oceano, do fundo do mar e do conteúdo do estômago e dos tecidos de peixes para análise.
No final deste ano, o Sea Dragon cruzará o Giro do Atlântico Sul, indo do Rio de Janeiro à Cidade do Cabo, na África do Sul. Esta será a primeira travessia desse tipo nos últimos 30 anos no hemisfério sul. Após está travessia Cummins e Eriksen planejam velejar no Giro do Pacífico Sul.
O Programa de Viagem para Arrasto do 5 Gyres empresta equipamentos de pesquisa para outros velejadores coletarem amostras oceânicas. Atualmente quatro outros arrastos estão sendo desenvolvidos por “cientistas cidadãos” velejando no hemisfério sul, em torno do Cabo Verde na costa da África, no Havaí e em outros lugares.
As Viagens de Arrasto continuarão emprestando equipamentos para outros estudos de plástico no Giro do Oceano Índico e em outros lugares.
“Esperamos obter informações dos cinco giros nos próximos dois anos” – diz Eriksen – “continuaremos trabalhando com cientistas cidadãos para perseguir a acumulação de resíduos plásticos nos oceanos do mundo.”
Eriksen e Cummins estão mantendo um blog com fotos e vídeos sobre sua viagem no endereço 5gyres.org. O progresso do Sea Dragon pode ser acompanhado através da tecnologia GPS.
Pelo fato de que a poluição por plástico no mar não pode ser limpa por qualquer meio, a sociedade deve parar este problema na sua fonte, realçam os pesquisadores. Eles advogam que legislações demandem das empresas a responsabilidade pela recuperação e reutilização de seus produtos, incluindo incentivos econômicos de recuperação e extinção de produtos descartáveis não reutilizáveis. A legislação responsável criará também uma tremenda oportunidade para produtos alternativos inteligentes e inovadores.
“Não podemos sair desta sujeira pela reciclagem, nem podemos limpar o que já está lá fora,” diz Eriksen. “Não estamos olhando para uma grande acumulação de pedaços visíveis de plásticos, mas para uma sopa difusa de micro-partículas.”
Enquanto os efeitos potenciais à saúde humana permanecem desconhecidos, cientistas já estimam que perto da metade de todas as espécies de pássaros marinhos, todas as espécies de tartarugas marinhas e 22 espécies de mamíferos marinhos ferem-se ou morrem por causa do lixo plástico, seja pela ingestão, enredamento ou estrangulamento, antes que os detritos sejam quebrados (pela fotodegradação) em minúsculos fragmentos.
A lista de espécies de peixes que ingerem fragmentos tóxicos de plásticos está crescendo. A AMRF, onde Eriksen é diretor de desenvolvimento de programas, identificou oito dessas espécies em 2008.
Na última primavera, Cummins e Eriksen completaram um tour de 2.000 milhas de bicicleta para gerar conscientização do problema no Giro do Pacífico Norte, onde o próprio Eriksen velejou a bordo do JUNKraft da AMRF construído com 15.000 garrafas de plástico. O problema do plástico no oceano tem sido referido como a Marca de Lixo, mas que é muito mais difusa do que uma simples “marca”, a qual Eriksen e Cummins chamam de sopa de plástico.
O casal continuará sua segunda viagem este ano no Atlântico com um projeto de conscientização de duração de um ano chamado “O Último Canudo.” Este projeto inclui um tour de 2.000 milhas para ciclo de palestras na Costa Leste e a construção, em Paris, de um barco com 250.000 canudos de plástico. Neste barco, chamado de “STRA,” em homenagem à expedição RA feita por Thor Heyerdahl no final dos anos 1960, eles velejarão o Rio Sena e cruzarão o Canal Inglês.
O patrocinador do Projeto 5 Gyre Blue Turtle, baseado em San Francisco, é uma organização social que visa soluções completas e longevas para a poluição dos oceanos mundiais através da educação, de fontes de eliminação e limpeza. A Pangaea Explorations, outro patrocinador importante e proprietária do Sea Dragon, é dedicada à descoberta de bases verdadeiras sobre o meio ambiente, envolvendo pessoas e as questões ambientais, e ensinando a próxima geração a respeitar e proteger o seu meio ambiente.
Patrocínios chave adicionais são fornecidos por Ecousable, Quiksilver Foundation, Surfrider Foundation, Keen Footwear, Patagonia e Aquapac.
Fonte: Fabiano Barreto, EcoDebate
Sandra Barbosa/ Ecóloga - CTF 4917671
Detº M. Ambiente/ SIC
Editora da Revista EA em Açao www.revistaea.org
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