Chegamos a esse estágio, face o paradigma que configurou a sociedade ocidental e influenciou o resto do mundo. Esse paradigma consiste em uma série de idéias e valores entre eles: a visão do Universo como um sistema mecânico composto de estruturas elementares, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade com uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado a ser alcançado pelo crescimento economico e tecnológico e por último a crença de que uma sociedade na qual a mulher é em toda a parte subordinada ao homem segue uma lei básica da Natureza. Esses valores estão perdendo a força e o novo paradigma, que pode ser chamado de visão holistica do mundo, vê o mundo como um todo integrado e não como uma reunião de partes dissociadas. Também pode ser chamado de visão ecológica, se o termo “ecológico” for usado em sentido amplo e profundo.
Este sentido amplo e profundo do ecológico está associado a uma escola filosófica e a um movimento global radical, conhecido como “Ecologia Profunda”.
O ambientalismo superficial é antropocentrico. Vê o homem acima ou fora da natureza, como fonte de todo valor, e atribui a natureza um valor apenas instrumental ou de uso. A Ecologia Profunda não separa do ambiente natural o ser humano nem qualquer outro ser. Vê o mundo como uma teia de fenômenos essencialmente inter-relacionados e interdependentes. Ela reconhece que estamos todos inseridos nos processos cíclicos da natureza e somos dependentes deles.
Finalmente, a consciência ecológica profunda é espiritual ou religiosa. Uma vez que o conceito de espirito humano é entendido como o modo de consciência no qual o indivíduo sente-se conectado com o cosmos enquanto um todo, torna-se claro que a consciência ecológica é espiritual em sua essência mais profunda. Não surpreende portanto, seja coerente com a chamada “Filosofia perene” das tradições espirituais - quer estejamos nos referindo à espiritualidade dos místicos cristãos, dos budistas, ou a filosofia e cosmologia subjacentes às tradições dos nativos americanos.
Toda a questão de valores é crucial para a ecologia profunda, ela é de fato a característica central que a define, ela baseia-se em valores egocêntricos (isto é, centrados na Terra) É uma visão do Mundo que reconhece o valor inerente da vida não-humana. Todos os seres são membros de Oikos-Lar Terreno, a comunidade une-se numa rede de interdependências. Quando essa percepção tornar-se parte da nossa consciência cotidiana, um sistema ético radicalmente novo emergirá.
Tal ética ecológica faz-se urgente hoje, especialmente na ciência, já que a maior parte do que os cientistas estão fazendo não é no sentido de promover e preservar a vida mas, destrui-la. Com físicos criando sistemas armamentistas que ameaçam varrer a vida do Planeta, químicos contaminando o meio ambiente, biólogos criando novos e desconhecidos microorganismos sem saberem as conseqüências, psicólogos e outros cientistas torturando animais em nome do progresso cientifico.
Por fim a visão de que os valores são inerentes a toda a Natureza viva está fundada na experiência ecológica profunda, ou espiritual, de que a Natureza e o EU são um só. Essa expansão do EU até chegar à identificação com a Natureza é o fundamento da ecologia profunda conforme reconheceu claramente Arne Naess: “O cuidado ocorre se o EU se expandir e aprofundar-se de maneira que a proteção da Natureza seja sentida e concebida como proteção a nós mesmos.”
Fritjof Capra é físico e teórico de sistemas, com PhD obtido na Universidade de Viena em 1965, antes de passar 20 anos dedicando-se à pesquisa em física de partículas. É diretor-fundador do Centro de Ecoalfabetização da Universidade de Berkeley (Estados Unidos). É autor de vários best-sellers internacionais, como “O Tao da Física”, “Ponto de Mutação”, “A Teia da Vida” e “As Conexões Ocultas
Fonte: http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/ecologia-profunda-um-novo-renascimento/
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