sexta-feira, 27 de janeiro de 2017
Mais de metade dos primatas do mundo podem desaparecer em 50 anos
O ameaçado Gibão-hoolock-oriental (Hoolock leuconedys). Foto: Fan Pen Fei.
Os primatas exercem
papel importantíssimo para a biodiversidade tropical, contribuindo para a
dispersão de sementes, regeneração das florestas e a saúde dos ecossistemas.
Espécies como lêmures, micos, chimpanzés, gorilas, entre outros, oferecem
oportunidades únicas para o estudo da evolução e do comportamento humano, além
de serem valiosos modelos para o estudo de doenças emergentes. Mesmo
desempenhando todas essas atribuições para a natureza, se nada for feito, daqui
a 50 anos o desaparecimento de diversas espécies será uma realidade.
É o que revela um
artigo assinado por 31 especialistas em conservação de diversos partes do
mundo, publicado nesta quarta-feira (18), no periódico científico Science
Advances. O estudo, que levou um ano para ser concluído, alerta para o atual
estado em que se encontram todas as espécies de primata. 60% das mais de 500
espécies conhecidas de primatas correm risco de extinção. A população dos
primatas vem diminuindo há décadas. “A população do orangotango-de-bornéo (Pongo
pygmaeus) diminuiu 50% nos últimos 60 anos. Estima-se que entre 1950 e 3100
desses animais sejam mortos anualmente por caçadores. O número de
gorilas-de-grauer (Gorilla beringei graueri), que era de 17 mil animais em
1995, passou para apenas 3.800 em 2015, um declínio de 77%. Outro exemplo é o
do lêmure-de-cauda-anelada (Lemur catta) cuja população diminuiu drasticamente:
95% desde o ano 2000, passando de cerca de 700 mil animais para somente 2.200”,
afirma Andreas Meyer, doutorando no Departamento de Zoologia da Universidade
Federal do Paraná e coautor do artigo.
Essa situação é
resultado da crescente e insustentável atividade humana nas regiões tropicais
da América do Sul, África e Ásia, que abrigam a maioria dos primatas. A situação
é bastante crítica em Madagascar e em países do sudoeste da Ásia como
Indonésia, China e Vietnã. Em Madagascar, ocorrem pouco mais de 100 espécies de
primatas e todas estão em declínio. Nos países da Ásia, o número de espécies em
declínio corresponde a 95% do total.
Atividades como
agricultura, pecuária, extração de minérios, madeira e combustíveis fósseis,
construção de barragens, bem como a construção de estradas que escoam a
produção são os responsáveis por tal desastre, segundo os autores do artigo.
Somadas a essas pressões estão a caça e o comércio ilegal de primatas como
animais de estimação, além de ameaças globais como as mudanças climáticas.
Todos esses fatores agem em conjunto e vem causando a redução do número de
animais na natureza.
Para os pesquisadores,
medidas cabais para a conservação dos primatas devem ser tomadas o mais rápido
possível. Para isso, é fundamental controlar a demanda mundial por produtos
como madeira, carne, óleo de palma, soja, látex, minério e combustíveis
fósseis, e ao mesmo tempo incentivar práticas de produção mais sustentáveis.
Outros pontos importantes envolvem ampliar a extensão das áreas protegidas,
investir em educação ambiental e estimular atividades que contribuam com a
proteção dos recursos naturais, como por exemplo o ecoturismo.
O papel do Brasil na
conservação dos animais
O Brasil é o país que
abriga a maior diversidade de primatas no mundo, são mais de 110 espécies,
divididas em 22 gêneros e 5 famílias. Mas, o cenário para os primatas é cada
vez mais pessimista. A maioria desses animais encontra-se na Amazônia, um
ambiente que vem sofrendo contínua pressão pelo uso da terra. Além disso, os
cortes nos investimentos em áreas estratégicas como ciência e meio ambiente
podem prejudicar o desenvolvimento de políticas e ações voltadas à conservação
dos primatas e da biodiversidade em geral.
“Infelizmente, hoje o
Brasil vive um cenário de incerteza política, instabilidade socioeconômica e de
políticas que favorecem o crescimento e o lucro no curto prazo, ignorando as
consequências dessas ações no longo prazo. A conservação dos primatas (e da
biodiversidade em geral) hoje é uma tarefa complexa, que precisa envolver
governantes, empresários, cientistas, ONGs e a sociedade em geral. Ações como
investir em políticas públicas que estimulem o uso sustentável dos recursos e
que reduzam a demanda por commodities que degradam o ambiente durante sua
produção é fundamental (como é o caso dos combustíveis fósseis, por exemplo). É
preciso também criar incentivos para que a iniciativa privada amplie seu
envolvimento em ações socioambientais, seja por meio de financiamentos de
projetos próprios, em universidades, ONGs ou institutos de pesquisa. Além
disso, é preciso que iniciativas que podem trazer consequências negativas à
conservação da biodiversidade, como por exemplo a tentativa de flexibilizar o
licenciamento ambiental, deem lugar para projetos que estimulem medidas
compensatórias efetivas por parte das empresas que exercem atividades que
degradam o ambiente. Investir em políticas que incentivem a redução da emissão
de carbono na atmosfera também é fundamental, uma vez que mudanças climáticas
são uma ameaça proeminente à conservação dos primatas”, afirma Andreas Meyer.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário