Duda Menegassi
Trabalho de sinalização da trilha: siga às
pegadas amarelas. Foto: Duda Menegassi.
Eleita como musa
para inúmeras canções e poemas, a cidade do Rio de Janeiro tem suas belezas
anunciadas há tempos por muitas vozes e letras. Corcovado, Pedra da Gávea e o
Pico da Tijuca são só alguns dos pontos mais conhecidos e visitados, mas o
mosaico de atrativos naturais vai além e engloba trilhas menos conhecidas,
porém não menos belas. Essa é a ideia principal da Transcarioca, circuito que
terá cerca de 150 quilômetros de trilhas, a maioria já existentes, e que irá
conectá-las. O percurso total vai do Pão de Açúcar à Restinga da Marambaia,
unindo áreas remanescentes de Mata Atlântica.
No primeiro sábado do mês (01/12), uma equipe do
Parque Nacional da Tijuca fez uma expedição pelo trecho que vai da rua do Amado
Nervo até a Mesa do Imperador. O objetivo do grupo era trabalhar na sinalização
da trilha e “limpá-la” para torná-la apta para uso público.
A equipe que ajudou a tirar a Transcarioca do
papel, por ironia, tem dois mineiros, um paulista, uma paraense, um argentino e
um casal de suecos voluntários. Na parte carioca do grupo está Pedro da Cunha e
Menezes, atual Diretor de Criação e Manejo de Unidades de Conservação do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia que
gere as unidades de conservação federais do país e Ernesto Castro, chefe do
Parque Nacional da Tijuca. Pedro também foi colunista de ((o))eco*.
Denis (acima), funcionário do ICMBio, trabalha
a sinalização da trilha com a ajuda de voluntária sueca. Foto: Duda Menegassi.
O trecho
pertence ao Parque Nacional da Tijuca, “É preciso começar com os trechos mais
fáceis, que já são do Parque. A partir do momento em que esses trechos
estiverem prontos e com visitação constante, você faz pressão para os outros
trechos que são mais difíceis de ter liberação, como por exemplo, as áreas
militares.” explica Pedro Menezes, que tem como ideal de trilha a Appalachian
Trail, nos Estados Unidos, que conquistou seus 3.500 quilômetros de extensão e
cruza 14 estados norte-americanos.
O trajeto até a
rua Amado Nervo é feito de carro. Escondida aos olhos distraídos e
inexperientes, a entrada da trilha é camuflada pela mata fechada e só quem sabe
que ali tem uma trilha consegue vê-la. Ao lado, uma casa privatiza o que
já foi a entrada principal desse antigo caminho colonial, que se tornou uma
trilha esquecida, que precisa ser limpa e reaberta. A vegetação esconde os
vestígios do passado das fazendas de café que já dominaram o Parque e deixaram
ali seus caminhos. O lugar por onde um dia já passaram até carroças hoje é uma
trilha à beira da ribanceira, seguindo o curso do rio, que corre por baixo,
silencioso.
À golpe de
facões e com motosserras − necessárias para cortar troncos de árvores grossas
caídos que obstruam o caminho −, abre-se mais um caminho da Transcarioca. O projeto idealizado por Pedro da Cunha Menezes**, durante sua
gestão como chefe do Parque Nacional da Tijuca, ganha contornos mais nítidos.
Olho para trás e onde antes éramos desbravadores no meio da floresta, agora
enxergo uma trilha bem marcada.
Logomarca da Transcarioca. Se olhar com atenção
verá o contorno de dois Cristos Redentores no desenho da pegada, um em baixo,
menor e outro maior entre as partes. Foto: Duda Menegassi.
Na terra onde
outrora os escravos já deixaram suas pegadas, uma outra pegada intenta
protagonizar uma nova era destes caminhos. O logo da Transcarioca, que ajudará
na orientação dos visitantes no passeio, é uma simpática pegada amarela, que
combina com as setas da mesma cor, padrão adotado em nível nacional. Essa é a
primeira trilha a ganhar o logotipo oficial e o desafio é encontrar em seus
contornos a silhueta do Cristo Redentor (há quem diga que tem dois Cristos no
desenho!).
O trabalho de
sinalização é intenso, mas não me impede de reparar na beleza daquele recanto
de natureza tão preservado. Fungos e borboletas trazem outras cores à imensidão
verde. Uma antiga contenção para chuvas, feita por pedras empilhadas, remonta
aos tempos coloniais, e se torna um atrativo à parte no caminho reparar nessas
heranças que resistem ao tempo e à floresta. Em momentos de encruzilhada de
caminhos, a opção colonial é sempre priorizada. “O Parque Nacional da Tijuca
não vai estimular o caminho erosivo, mesmo que ele seja mais rápido”, explica
Pedro, para brincar logo a seguir: “Quem estiver de pressa vai de carro”. E de
fato, esse não é um lugar para se ter urgência de nada, a beleza tem seu
próprio tempo.
Fonte: http://www.oeco.com.br/transcarioca/26732-o-primeiro-caminho-oficial-da-transcarioca
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