quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A chave de ouro da Transcarioca

Duda Menegassi
O famoso bondinho vigia os que se aventuram pela trilha

A trilha do Morro da Urca será o último trecho do percurso total da Transcarioca, e de fato, é para fechar em grande estilo. A alternativa para quem dispensa o bondinho não tem limites de faixa etária. Por se tratar de um acesso a um dos pontos turísticos mais visitados do Rio, a trilha foi facilitada ao máximo, com degraus de tronco nos trechos de subida mais íngreme, o que garante a alta circulação de pessoas por essa via em meio à natureza.
Ao lado da praia Vermelha encontra-se a entrada desta Unidade de Conservação da Natureza, onde fica o Monumento Natural dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca, que é onde começa o caminho. Todo esse nome pomposo e emplumado não combina com o clima descontraído das pessoas que circulam por lá, mas é uma homenagem justa à imponência do Morro. Basta olhar para o alto e vemos o topo do monte açucarado, com o maquinário do bondinho que garante a milhões de turistas um visual privilegiado da cidade. Mas o nosso caminho não é por fios de aço, mas por entre as árvores.
O primeiro trecho é no asfalto, na Pista Cláudio Coutinho, que ladeia a base de pedra gigantesca do morro da Urca. A diversão das crianças e dos escaladores – em alturas diferentes – de um lado e o mar do outro, acompanham o visitante até a entrada da trilha de fato, devidamente sinalizada. O caminho é bem marcado e apesar de algumas subidas mais íngremes é um passeio para a família toda. A primeira parte é a mais cansativa, com cerca de 20 minutos indo ao alto e avante.
Até a chegada à estação intermediária do bondinho, há um pequeno mirante, num caminho afluente à trilha principal. É um desvio curto e vale a pena conferir. De lá é possível dar uma boa olhada na enseada de Botafogo enquanto alguns micos dão uma olhada nos visitantes e passeiam ligeiros por cima de suas cabeças. A última parte da trilha é bem tranquila, com subidas leves. Em 15 minutos, a estação de bondinho surge detrás das árvores.
Se você não perdeu o fôlego com a trilha, prepare-se para perdê-lo com a vista. Não importa a direção do seu olhar: a praia Vermelha, agora pequena e distante, lá embaixo; a Baía de Guanabara inteira a seus pés; a Pedra da Gávea; e o Corcovado, sempre de braços abertos. De boca aberta com tanta beleza? Não é à toa o apelido de Cidade Maravilhosa. Do lado, unido ao Morro da Urca por um cordão umbilical de cabos, o Pão de Açúcar, acessível apenas pelo tradicional bondinho ou através de escalada, para os mais radicais.
Nossa parada é no irmão menor mesmo. Com seus 220 metros de altitude ele já proporciona uma paisagem fantástica. Digna de cidade considerada Patrimônio Mundial pela UNESCO, a infraestrutura do local convida o visitante a ficar. Banheiros, espreguiçadeiras e bancos, restaurantes e lanchonetes, e até outras lojas, como uma inusitada H. Stern. A verdadeira joia está ao redor.

O sol se esconde atrás da Pedra da Gávea para deixar a noite vir
Fique, veja a tarde cair. O último trecho da Transcarioca será para todos os corajosos excursionistas fecharem a maratona de trilhas com chave de ouro, como o pôr-do-sol dourado que colore o céu da cidade de tons de amarelo e laranja. Apesar de não ser o Arpoador, a vontade é aplaudir de pé quando o último pedacinho de sol se esconde por trás da Pedra da Gávea. A partir das 19 horas da noite (no horário de verão), a trilha é fechada, para ninguém se aventurar por lá no escuro da mata. Porém a descida de bondinho até a estação da Praia Vermelha é liberada gratuitamente a partir desse horário. Aproveite e curta sem pressa, veja a noite chegar aos poucos e trazer outras luzes, dos carros, prédios e postes, para iluminar o cenário e mudar a lógica da paisagem, que, seja dia ou seja noite, continua maravilhosa.




Fonte: http://www.oeco.com.br/transcarioca/26766-a-chave-de-ouro-da-transcarioca


O primeiro caminho oficial da Transcarioca

Duda Menegassi

Trabalho de sinalização da trilha: siga às pegadas amarelas. Foto: Duda Menegassi.

Eleita como musa para inúmeras canções e poemas, a cidade do Rio de Janeiro tem suas belezas anunciadas há tempos por muitas vozes e letras. Corcovado, Pedra da Gávea e o Pico da Tijuca são só alguns dos pontos mais conhecidos e visitados, mas o mosaico de atrativos naturais vai além e engloba trilhas menos conhecidas, porém não menos belas. Essa é a ideia principal da Transcarioca, circuito que terá cerca de 150 quilômetros de trilhas, a maioria já existentes, e que irá conectá-las. O percurso total vai do Pão de Açúcar à Restinga da Marambaia, unindo áreas remanescentes de Mata Atlântica.
No primeiro sábado do mês (01/12), uma equipe do Parque Nacional da Tijuca fez uma expedição pelo trecho que vai da rua do Amado Nervo até a Mesa do Imperador. O objetivo do grupo era trabalhar na sinalização da trilha e “limpá-la” para torná-la apta para uso público.
A equipe que ajudou a tirar a Transcarioca do papel, por ironia, tem dois mineiros, um paulista, uma paraense, um argentino e um casal de suecos voluntários. Na parte carioca do grupo está Pedro da Cunha e Menezes, atual Diretor de Criação e Manejo de Unidades de Conservação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia que gere as unidades de conservação federais do país e Ernesto Castro, chefe do Parque Nacional da Tijuca. Pedro também foi colunista de ((o))eco*.

Denis (acima), funcionário do ICMBio, trabalha a sinalização da trilha com a ajuda de voluntária sueca. Foto: Duda Menegassi.

O trecho pertence ao Parque Nacional da Tijuca, “É preciso começar com os trechos mais fáceis, que já são do Parque. A partir do momento em que esses trechos estiverem prontos e com visitação constante, você faz pressão para os outros trechos que são mais difíceis de ter liberação, como por exemplo, as áreas militares.” explica Pedro Menezes, que tem como ideal de trilha a Appalachian Trail, nos Estados Unidos, que conquistou seus 3.500 quilômetros de extensão e cruza 14 estados norte-americanos.
O trajeto até a rua Amado Nervo é feito de carro. Escondida aos olhos distraídos e inexperientes, a entrada da trilha é camuflada pela mata fechada e só quem sabe que ali tem uma trilha consegue vê-la.  Ao lado, uma casa privatiza o que já foi a entrada principal desse antigo caminho colonial, que se tornou uma trilha esquecida, que precisa ser limpa e reaberta. A vegetação esconde os vestígios do passado das fazendas de café que já dominaram o Parque e deixaram ali seus caminhos. O lugar por onde um dia já passaram até carroças hoje é uma trilha à beira da ribanceira, seguindo o curso do rio, que corre por baixo, silencioso.
À golpe de facões e com motosserras − necessárias para cortar troncos de árvores grossas caídos que obstruam o caminho −, abre-se mais um caminho da Transcarioca. O projeto idealizado por Pedro da Cunha Menezes**, durante sua gestão como chefe do Parque Nacional da Tijuca, ganha contornos mais nítidos. Olho para trás e onde antes éramos desbravadores no meio da floresta, agora enxergo uma trilha bem marcada.

Logomarca da Transcarioca. Se olhar com atenção verá o contorno de dois Cristos Redentores no desenho da pegada, um em baixo, menor e outro maior entre as partes. Foto: Duda Menegassi.

Na terra onde outrora os escravos já deixaram suas pegadas, uma outra pegada intenta protagonizar uma nova era destes caminhos. O logo da Transcarioca, que ajudará na orientação dos visitantes no passeio, é uma simpática pegada amarela, que combina com as setas da mesma cor, padrão adotado em nível nacional. Essa é a primeira trilha a ganhar o logotipo oficial e o desafio é encontrar em seus contornos a silhueta do Cristo Redentor (há quem diga que tem dois Cristos no desenho!).
O trabalho de sinalização é intenso, mas não me impede de reparar na beleza daquele recanto de natureza tão preservado. Fungos e borboletas trazem outras cores à imensidão verde. Uma antiga contenção para chuvas, feita por pedras empilhadas, remonta aos tempos coloniais, e se torna um atrativo à parte no caminho reparar nessas heranças que resistem ao tempo e à floresta. Em momentos de encruzilhada de caminhos, a opção colonial é sempre priorizada. “O Parque Nacional da Tijuca não vai estimular o caminho erosivo, mesmo que ele seja mais rápido”, explica Pedro, para brincar logo a seguir: “Quem estiver de pressa vai de carro”. E de fato, esse não é um lugar para se ter urgência de nada, a beleza tem seu próprio tempo.
Depois de quase 5 horas de trabalho em equipe os progressos são visíveis, entretanto, não foi possível dar cabo de toda a trilha e o serviço é obrigado a ficar pela metade. E a trilha fica como promessa de conclusão para outro dia, quando todas as pegadas estarão em seus lugares, preparadas para indicar ao visitante que ali é um caminho da Transcarioca, ou melhor, da Cidade Maravilhosa.


Veja mais fotos da trilha no link: 

*  http://www.oeco.com.br/pedro-da-cunha-e-menezes
** http://www.oeco.com.br/pedro-da-cunha-e-menezes-lista/17039-oeco20694

Fonte: http://www.oeco.com.br/transcarioca/26732-o-primeiro-caminho-oficial-da-transcarioca