A Janela de Overton é uma estratégia de manipulação da opinião pública que descreve o conjunto de ideias que a população tolera. Ela e registra como a maioria das pessoas pensa em um certo momento, sobre um determinado assunto. É o grau de aceitabilidade de uma opinião na sociedade.
Muitas pessoas pensam que têm opinião formada sobre um assunto mas na verdade elas podem ter sido induzidas a pensar de uma determinada maneira.
Se uma pessoa está na mesma posição contemplando a paisagem através de uma janela, tudo o que ela vê está delimitado pelas esquadrias e pelo batente. À medida que se levanta e se aproxima da janela, o horizonte se amplia. A Janela de Overton muda paisagens ou amplia limites no campo das ideias, mas com consequências na sociedade.
Os assuntos podem se deslocar entre um extremo, absolutamente contrário, para outro, absolutamente favorável. A janela é a faixa que concentra o que a maioria aceita.
“A aceitabilidade da opinião pública determina a viabilidade política de um fato”.
Emitir opiniões fora da janela social considerada aceitável pode significar ser rejeitado/cancelado. Opinar sobre o que está além do pensamento da janela pode ser um desastre para a popularidade de um candidato político.
As etapas da Janela de Overton são:
- Inaceitável;
- Verossímil (talvez pense nisso);
- Neutralidade (sem opinião formada);
- Provável (é possível concordar);
- Inevitável (ou aceitável).
Criada por Joseph P. Overton, para a segurança pública, que segundo ele, diversos atores sociais podem escolher não apenas o que as pessoas pensam, mas também como elas pensam. Joseph diz que para uma ideia ter viabilidade na sociedade, ela precisa passar pela “janela” social, não bastando serem apenas preferências individuais dos políticos e que a janela inclui um conjunto de políticas consideradas aceitáveis no momento em que a opinião pública as recebe.
O conceito demonstra o que a sociedade considera aceitável ou não em um dado momento. Se alguma figura pública quiser aceitação social, deve emitir opiniões que variem dentro da janela considerada aceitável.
A Janela de Overton não é estática, fixa. É possível mudar a aceitação das pessoas. É possível manipular a opinião pública.
Para que a Janela de Overton se desloque, é preciso que a população mude sua opinião sobre um tema. Isto acontecerá se as pessoas forem convencidas de novas ideias, ou pelo menos persuadidas a pensarem contra o que normalmente era aceito.Muitas pessoas manipulam a opinião pública para aceitar o que antes era inaceitável.
As mudanças realizadas na Janela de Overton podem mudar a opinião de “inaceitável” para “verossímil”, “neutralidade” e progredir para “inevitável”. Ou vice-versa, levando as pessoas da aprovação à desaprovação de algo.
Em geral, os governos gastam dinheiro para vender “ideias” e conquistar a opinião pública.
A Janela de Overton é deslocada principalmente por políticos, assessores de imprensa, institutos de pesquisa, relações públicas, agências de lobby e demais influenciadores. Por esta razão, professores, youtubers, instagramers e similares são mobilizados.
Overton chamou esses agentes, líderes carismáticos, de think tanks, pois colaboram na formação de opinião de seu público, deslocando a janela de aceitação de uma ideia.
Os think tanks muitas vezes desviam o foco de um tema principal e começam a pautar assuntos adjacentes. Desta forma, o discurso torna-se mais aceitável até que a percepção das pessoas tenha mudado.
O jogo de influências se profissionalizou e hoje, foi formada uma indústria especializada em moldar a opinião pública. São assessores de imprensa, publicitários, cientistas políticos, pesquisadores, cientistas, youtubers, políticos e qualquer formador de opinião.
Gerações podem ser envolvidas no processo de mudança de pensamento. Se não for possível mudar a concepção dos pais, as escolas tornam-se o alvo e prepara-se uma geração que aceita o que os think tanks querem desde o momento em que entram na escola ou acessam a Internet.
Em tempos pacíficos, as discussões sociais são conduzidas lenta e gradualmente. Afinal, a Janela de Overton pode ser definida como a zona de conforto da opinião pública.
A Janela de Overton desloca-se a partir das circunstâncias. Grandes acontecimentos favorecem discursos que podem levar as pessoas a aceitarem o que não haviam pensado em aceitar.
Por exemplo, após o atentado às torres gêmeas em 2001, os americanos aceitaram mais facilmente que o governo Bush ampliasse o acesso do Estado a informações privadas, novas regras em aeroportos e a guerra no Iraque.
Em 2009 e 2010, a crise econômica também levou os americanos a aceitar que o governo Obama interviesse em bancos, montadoras e seguradoras.
É possível tirar proveito do desespero, do medo, da insegurança, da ignorância e da fala de especialistas.
Por exemplo, as pessoas não estavam dispostas a usar máscaras quando não estavam doentes. Mas independentemente da lei obrigando o uso, elas aceitaram o uso por causa das falas dos “especialistas” e do foco midiático.
Por estas realidades, uma reflexão deve ser feita. Grandes eventos podem levar as pessoas a abrir mão de seus direitos. Uma vez perdidos, não é tão fácil recuperá-los. Regras circunstanciais podem ser o pretexto para o estabelecimento de um novo comportamento, que pode até se tornar compulsório.
O que era impensável começou a ser discutido. O próximo passo é conseguir a aceitação. O que antes era repudiado começa a se tornar normal e aqueles que discordam começam a ser mal vistos/cancelados.
As percepções negativas da ideia em questão começam a deixar de ser negativas. Com o apoio da mídia, começa-se a ver como respeitável o que antes não era. A ideia se torna sensata.
A opinião introduzida de acordo com os passos descritos, torna-se popular sendo veiculada em propagandas, filmes, novelas, séries e nos demais meios de entretenimento. Os artistas a apoiam e o novo fenômeno se torna mais presente no imaginário social.
As propagandas, por todos os meios possíveis, é uma das formas mais eficazes de atingir a opinião pública e criar um senso de unanimidade de pensamento. Antes que leis sejam compostas, os anúncios são criados. Tal se torna a aceitação, que o legislativo propõe leis que regulamentam o que está sendo debatido. O que começou como impensável, pela descrição da Janela de Overton, pode vir a tornar-se uma lei. A percepção pública pode ser mudada, por mais absurda que seja uma ideia.
A opinião pública recebe constantemente as pautas da imprensa, dos políticos e dos ativistas em geral. Muitas propagandas, discursos e apelações. As pesquisas também são comuns, sejam elas verdadeiras ou falsas.
As ideias são apresentadas como se já tivessem aceitação da sociedade, quando isto é apenas uma roupagem para que, criando a sensação de popularidade, as pessoas não se ocupem em ser contrárias.
Em 1928, no livro Propaganda, Edwards Bernays explicou que as pessoas tendem a se comportar de forma irracional ou impulsiva, especialmente quando estão inseguras. Nesta situação, discursos fortes e emotivos podem manipular suas decisões.
“Somos governados, nossas mentes são moldadas, nossos gostos são formados, nossas ideias são sugeridas, em grande parte por homens dos quais nunca ouvimos falar… Somos dominados por um número relativamente pequeno de pessoas… que entendem os processos mentais e os padrões sociais das massas. São eles que puxam os fios que controlam a mente do público, que aproveitam as velhas forças sociais e criam novas maneiras de ligar e guiar o mundo”.
Indústrias, empresários, governos, grupos com interesses definidos costumam ser os principais agentes que movimentam o dinheiro utilizado em propaganda para manipular a sociedade. São feitos esforços para que seja natural para as pessoas aceitarem o que nem sequer seria uma opção.
O deslocamento de opinião pode ser louvável ou condenável. Nem tudo é manipulação e a Janela de Overton não precisa ser considerada negativa em sua essência. Entretanto, é preciso ter cuidado com as ideias que os agentes sociais apresentam.
É natural que mudanças e deslocamentos aconteçam impulsionados por apelos aos fatos e à lógica, à moral e às emoções. Os casos imorais são movidos por campanhas de desinformação.
Casos notórios são:
- Ideologia de Gênero;
- Black Lives Matter;
- Antifa.
Buscar as reais motivações por trás dos discursos é fundamental. É mais seguro não acreditar apenas no que é dito, mas procurar saber por que é dito e se não há intenção oculta por trás.O principal esforço deve ser o de descobrir se as estratégias utilizadas para mobilizar a opinião pública envolvem mentiras.
A percepção da manipulação da opinião pública pode girar em torno de um desvio do assunto principal.
“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”
Esta frase é de Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha Nazista. Os nazistas sabiam que, para mudar a aceitação das pessoas, seria necessário lutar no campo das ideologias. Por esta razão, foi criado o ministério da propaganda. Os alemães eram constantemente alvejados com a ideia de que pertenciam a uma raça superior, a raça ariana.
Quando a concepção de superioridade se consolidou, a sociedade estava naturalmente menos distante da ideia de que aqueles que não eram arianos não tinham a mesma importância. Consequentemente, era mais fácil conseguir que o povo alemão concordasse com o extermínio dos judeus.As batalhas começam no campo do discurso, mas chegam à realidade e impactam a vida de todos.
A seguinte sequência de exemplos é atual e reflete os acontecimentos que a maioria das pessoas experimenta no dia a dia.
1 – Aborto
A população brasileira, em geral, é contrária ao aborto. Para que a ideia de descriminalizar o aborto seja aprovada, é necessário deslocar a janela, indo de “inaceitável” a “inevitável”. Antes, é preciso passar pela neutralidade.
Por esta razão, iniciam-se campanhas que tratam dos “direitos da mulher” e a palavra aborto começa a não ser usada. O primeiro passo é fazer a opinião pública pensar que o feto é parte do corpo da mulher e não outro ser humano.
Outra etapa consiste em conquistar os afetos das pessoas falando do número de mortes clandestinas causadas por abortos não autorizados. A tática aceita a mentira para mobilizar os sentimentos e são usados números exorbitantes.
Fala-se de crianças abandonadas por suas mães, que seriam violentadas e acabariam ameaçando a sociedade ao crescerem em uma vida de traumas e crimes.
Se os pró-vidas são silenciados e não podem alertar a sociedade sobre as mentiras usadas, a janela muda e o aborto, antes reprovado, passa a ser aprovado.
2 – Natureza
Exemplos menores também ilustram bem o que é a Janela de Overton. Basta considerar a sacola plástica no supermercado. Não se muda a ideia do consumidor dizendo-lhe que as compras serão levadas para casa em caixas de papelão. É preciso falar da preservação da natureza.
3 – Privatizações
Em 2005, se a privatização da Petrobrás fosse discutida, a ideia seria inaceitável. Com todos os escândalos de corrupção que chegaram ao conhecimento público, a ideia de privatização saiu do inaceitável e começou a migrar para o provável nos dias de hoje. Os Correios já se encontram no nível considerado inevitável.
Qualquer um que entenda o que é Janela de Overton corre o risco de se preocupar de forma exagerada. Alguns começam a considerar que tudo o que acontece na sociedade é parte de um plano estrategicamente pensado para moldar a opinião pública. Nem tudo o que acontece é arquitetado e planejado. Muitas mudanças acontecem por causa do desenvolvimento humano natural. O conhecimento também leva a mudanças graduais.Para saber se há ou não manipulação, é recomendável analisar os argumentos, quem está propondo as ideias e quais serão as consequências.
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