segunda-feira, 26 de março de 2012

Plantio de uma árvore coloca em perigo a Mata Atlântica


 O difícil trabalho para erradicação da árvore exótica e invasora pé-de-galinha (Hovenia dulcis), também conhecida como uva-do-japão, que está aniquilando a Mata Atlântica na RPPN Refúgio do Macuco, nas cabeceiras do rio Itajaí, em Itaiópolis (SC). Mais de 500 árvores adultas e milhares de mudas oriundas de uma muda de árvore plantada por um morador há 40 anos.

A maioria das pessoas já deve ter ouvido que as plantas e animais invasores (exóticos, isto é, trazidos de outros lugares) são a segunda causa de perda de biodiversidade, só perdendo para o desmatamento.
Eu já li bastante sobre o assunto, assisti vários documentários sobre a terrível situação de plantas invasoras em áreas protegidas de ecossistemas pelo mundo afora e achava que este era um problema distante do Brasil, que não nos atingia. Pensava isso até conhecer o poder de invasão e de destruição da Mata Atlântica de duas plantas invasoras: da árvore pé-de-galinha ou uva-do-japão (Hovenia dulcis) e do lírio-do-brejo (Hedychium coronarium)
A árvore exótica invasora pé-de-galinha (Hovenia dulcis) é nativa do Japão, leste da China, Coréia até a cordilheira do Himalaia (em altitudes abaixo de 2000 m). Cresce em áreas abertas de solos úmidos arenosos ou argilosos. A árvore foi introduzida como uma árvore ornamental no Brasil e em Santa Catarina para produção de lenha nas propriedades rurais, mas não foi aprovada pelos agricultores.
Os frutos do pé-de-galinha (Hovenia dulcis) são muito saborosos e apreciados por toda a fauna de aves e mamíferos, que se banqueteiam ao redor da árvore na época em que os frutos amadurecem. Quando eu era criança também gostava de comer “pé-de-galinha”, denominação que usamos em Santa Catarina, mas não tinha como saber naquela época que se tratava dos frutos de uma árvore tão perigosa para a Mata Atlântica.
Frutos da árvore exótica e invasora pé-de-galinha (Hovenia dulcis), também conhecida como uva-do-japão.

Por ser muito doce, parece que os animais silvestres (aves e mamíferos) preferem esses frutos importados aos nativos. Na RPPN há uma oferta de uma grande diversidade de frutos das árvores da Mata Atlântica que chegam a forrar o chão e apodrecer na mesma época, mas os habitantes da floresta preferem consumir a importada, os frutos do pé-de-galinha, mesmo correndo o risco de serem abatidas a tiros ou caírem em armadilhas quando freqüentam as propriedades do entorno.

Frutos em desenvolvimento da árvore exótica e invasora pé-de-galinha (Hovenia dulcis)

Esta concorrência, muito desleal, é um problema que desencadeia outro, com graves consequências futuras. A fauna dissemina milhares de sementes para o meio da mata nativa preservada e ao longo dos anos as árvores nativas vão perdendo espaço ao serem substituídas pelo pé-de-galinha (Hovenia dulcis), que pode fornecer frutos para alimentar a fauna somente durante duas ou três semanas - ao contrário da diversidade de árvores da Mata Atlântica que fornece frutos o ano todo.
Já o arbusto lírio-do-brejo (Hedychium coronarium), originário da região da Ásia tropical, foi trazida para o Brasil como planta ornamental especialmente por causa do perfume muito agradável exalado de suas flores brancas. Como o nome diz, esta planta se desenvolve bem em áreas úmidas. Necessita também de muita luz, ou seja, só desenvolve em áreas abertas.
Lírio-do-brejo (Hedychium coronarium), planta invasora que está substituindo a vegetação nativa das ilhas e margens do rio do Couro (afluente do rio Itajaí), na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC)
Na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC), o lírio-do-brejo (Hedychium coronarium) está colonizando todas as margens e ilhas do rio Itajaí e de seu afluente, rio do Couro. Estimamos que o custo para remoção (mecânica, de arrancar com as mãos) desta planta invasora seja na ordem de milhões de Reais, porque teria que exterminá-las em toda a bacia hidrográfica, não apenas dentro da RPPN porque as mudas e sementes se propagam facilmente nas enxurradas.
Obviamente que não dispomos recursos para bancarmos sozinhos a solução deste problema do lírio-do-brejo (Hedychium coronarium). Então, decidimos atacar o problema das plantas invasoras na RPPN começando pelas espécies que eu imaginava mais fáceis de serem removidas, como a árvore pé-de-galinha (Hovenia dulcis).
O grande estímulo para esta preocupação com as plantas invasoras veio do Programa Desmatamento Evitado (PDE) da SPVS , de Curitiba, que ampliou minha visão sobre o perigo das plantas invasoras. Eu subestimava este problema na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC), adotada pelo PDE/SPVS com recursos do Banco HSBC, da campanha publicitária do seguro de automóveis,Seguros Verde Auto. Há dois anos começamos a aplicar estes recursos do PDE/SPVS para combater esta espécie invasora.
Em uma pequena área da RPPN Refúgio do Macuco já foram abatidas mais de 500 árvores adultas de pé-de-galinha (Hovenia dulcis), que deixaram milhares de mudas, muitas delas plantadas pela fauna bem distante do local, na parte de mata primária. Estimamos que leve mais de 50 anos para erradicação desta invasora, deste que tenhamos os recursos financeiros e que os vizinhos também eliminem esta espécie de suas propriedades.
Contaminação biológica: muda da árvore exótica e invasora pé-de-galinha (Hovenia dulcis) plantada por animais (jacu, provavelmente) no meio da mata nativa.
O que estamos observando na RPPN Refúgio do Macuco serve de alerta. Mostra de forma bem evidente que o pé-de-galinha (Hovenia dulcis) é uma espécie de árvore invasora muito perigosa, com um poder devastador de aniquilar a Mata Atlântica e toda sua rica biodiversidade de plantas e animais em poucas décadas. A árvore começa a colonizar a mata ciliar, onde incide mais luz, e vai se expandindo para dentro da mata, substituindo gradualmente as espécies nativas. Moradores do entorno contam que o antigo proprietário da área confrontante apareceu com a novidade por lá há 40 anos plantando uma única muda desta árvore.
Quem não gostou nem um pouco das nossas ações para erradicação - ou controle – da árvore invasora pé-de-galinha (Hovenia dulcis) foram os caçadores. Reclamaram – e muito – porque acabamos com o local de ceva de mamíferos, como o tateto (porco-do-mato),paca e quati. De fato, no local nós encontramos vestígios de instalação de armadilhas nas dezenas de trilhas dos animais silvestres. Era o melhor ponto que eles tinham para caçar.

 Germano Woehl Jr. 

Até as MOSCAS da Mata Atlântica são lindas


 MOSCA SOLDADO AZUL (Blue Soldier Fly) Raphiocera sp*: uma das riquezas dos remanescentes da nossa floresta tropical, Mata Atlântica, que estão sendo devastados e nós lutamos para salvar. Mede mais de 2 cm. Local da foto: RPPN Taipa do Rio Itajaí, em Itaiópolis – SC, em 26/12/2011


Ordem: Díptera
Subordem: Brachycera
Infraorderm: Tabanomorpha
Superfamília: Stratiomyoidea
Família: Stratiomyidae (soldier flies)
Subfamília: Raphiocerinae
Espécie: Raphiocera sp*

As imagens em vários ângulos e as informações completas estão no site do 
Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade na página da MOSCA SOLDADO AZUL
As moscas da família Stratiomyidae são conhecidas como "moscas soldado". O nome é derivado do grego: stratiotes significa soldado (ou guerreiro), devido às marcas no abdome assemelharem-se com as marcas distintivas de hierarquia no uniforme dos militares.

CARACTERÍSTICAS
O tamanho das espécies família Stratiomyidae varia de 3 a 28 mm de comprimento (o exemplar da foto mede mais de 20 mm). Algumas espécies são esbeltas, com a forma que imita vespas (mimetismo), enquanto outras podem ser vigorosas ou conspicuamente achatadas. A coloração também varia, desde preto com amarelo à padrões de brando com verde, sendo que reflexos metálicos são freqüentes.
Os adultos são frequentemente encontrados repousando sobre a vegetação ou alimentando-se sobre flores (alimenta-se de néctar e polem). Daí podemos imaginar o impacto sobre a nossa biodiversidade das abelhas africanizadas (invasoras) que rapam todo o néctar e polem das matas nativas.

LARVAS
As larvas de Stratiomyidae podem se desenvolverem em ambientes aquáticos ou terrestres. Aquelas que se desenvolvem em ambientes terrestres alimentam-se na matéria orgânica em decomposição como esterco, cogumelos e carne de animais em decomposição. As larvas de Raphiocera armata (que pode ser a espécie da foto)
* são aquáticas.
As larvas de espécies de mosca como esta da foto desempenham um papel importantíssimo na natureza que vai muito além da decomposição da matéria orgânica: servem de alimento para toda a fauna, principalmente de aves e anfíbios.
* Pode ser Raphiocera armata (Wiedemann, 1830), mas as cores conhecidas para esta espécie variam entre AMARELO e VERDE, ou seja, não há registro da cor AZUL para esta espécie.

Agradecemos à Diego Aguilar Fachin da USP - Ribeirão Preto (SP) e João Paulo Morselli do Depto. de Zoologia, Lab. Sistemática de Insetos, UNESP/Botucatu (SP) pela identificação e informações.


A incrível MOSCA PREDADORA que habita a Mata Atlântica


Mosca predadora (robber fly) sugando o conteúdo interno de uma abelha africana capturada em pleno vôo. Foto: 20/02/2012 

Ordem: Díptera
Subordem: Brachycera
Infraordem: Asilomorpha
Superfamília: Asiloidea
Família: Asilidae

A mosca predadora captura os insetos, suas presas, em vôo com muita agilidade. Então, com a presa imobilizada pousa em algum galho de um arbusto e usa sua probóscide* curta e muito forte para perfurar o corpo da presa e injetar um liquido paralisante que dissolve todo o conteúdo interno que é sugado alguns minutos depois pela probóscide.

É oportunista. Fica à espreita das suas presas nas plantas com flores, que atraem muitos insetos.

No dia 20/02/2012 observamos na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC), a mosca predadora capturar em pleno vôo duas abelhas africanas num intervalo de poucos minutos.

*Probóscide é um apêndice alongado que se localiza na cabeça de algumas espécies de invertebrado. Também pode ser sinônimo de tromba
Postado por Germano Woehl Jr.

sábado, 10 de março de 2012

Ministro da Pesca e Aquicultura, Marcelo Crivella visita a Ribeira

Ministro da Pesca e Aquicultura, Marcelo Crivella, a Vereadora Tânia Bastos e outras autoridades


Ontem, dia 09.03.2012, pela manhã, o Ministro Crivella esteve na Ribeira, Ilha do Governador para conhecer o terreno que seria implantado o Terminal Pesqueiro Público no Rio de Janeiro. O terreno com cerca de 24 mil m2 foi passado para o Ministério da Pesca na ocasião em que equivocadamente o Governo Federal pretendia implantar aqui o TPP, hoje totalmente descartada essa possibilidade, devido a uma lei municipal que proíbe qualquer empreendimento desse porte no bairro. 
O Ministro Crivella, acompanhado da Vereadora Tânia Bastos e outras autoridades, veio na Ribeira conhecer a área e ouvir dos moradores qual o destino a ser dado a ela
Os integrantes do "Movimento Terminal Pesqueiro na Ilha, NÃO" entregaram ao ministro uma proposta criada pelo Engenheiro Agrônomo e velejador, Alexandre Biancatto para a implantação de um Pólo Nautico-Pesqueiro na Ilha do Governador que seria referência no país em estudo e pesquisa ligado à área da pesca e a biodiversidade marinha. 
Novas reuniões serão marcadas pelo integrantes do movimento para serem discutidas a destinação dessa área e ajustes na proposta. 
Nesse momento é importante a presença da comunidade insulana para que o destino dado a esse terreno seja de acordo as necessidades do bairro e não cause nenhum impacto ao Manguezal do Jequiá, que está no seu entorno, pelo contrário, queremos aproveitar a essa proximidade e recuperar o ecossistema e reativar de maneira proveitosa o já existente CEA-Jequiá que encontra-se totalmente abandonado e impossibilitado de receber visitas de alunos das escolas do bairro diante do descaso da Secretaria Municipal de Meio Ambiente para com esse ecossistema tão importante para a vida marinha da Baia da Guanabara. 


domingo, 4 de março de 2012

Usar bicicleta como meio de transporte sai mais barato, diz estudo





Economia pode chegar a R$2.700,00 por ano

26 de setembro de 2011 | 18h 35
Boghossian - O Estado de São Paulo
RIO - Desistir da ideia de comprar um carro e usar uma bicicleta para ir ao trabalho todos os dias pode significar uma economia de até R$ 2.700 por ano, segundo um estudo da Coppe, o programa de pós-graduação em engenharia da UFRJ. Cálculos dos pesquisadores mostram que pedalar consome aproximadamente R$ 0,12 por quilômetro - um sexto da despesa referente a veículos movidos a gasolina, que chega a R$ 0,76.
O levantamento, coordenado pelo aluno de mestrado Marcelo Daniel Coelho, levou em conta o preço de uma bicicleta nova, a compra de acessórios, a depreciação e a manutenção do equipamento. A pesquisa foi feita com base em percursos de 20 km por dia no Rio e em Porto Alegre, simulando os trajetos de ida e volta para o trabalho durante a semana.
A média anual de gastos com uma bicicleta na capital fluminense é de R$ 519, levando em conta sua compra e a substituição periódica de peças, como freios, correntes e pneus. O custo da pedalada ficou abaixo do uso do carro a gasolina (R$ 3.219 por ano), da moto (R$ 2.029) e até do ônibus (R$ 1.367).
"O gasto inicial com a compra de um automóvel é muito alto, o que favorece a bicicleta nessa comparação. Em vez de gastar R$ 30 mil para comprar um carro, eu posso pagar R$ 600 em uma boa bicicleta e aplicar a diferença em um fundo de investimentos, por exemplo", explica Coelho.
Além do custo relativamente baixo, a bicicleta também supera o carro particular pois não paga impostos anuais, como o IPVA, e dispensa o consumo de combustível. Para o pesquisador, é preciso expandir a estrutura disponível para ciclistas para evitar um excesso de veículos nas cidades brasileiras. "A bicicleta não precisa ser um transporte direto para o trabalho. Ela pode servir como um meio de integração a sistemas de transporte público", diz Coelho, que defende a instalação de bicicletários em pontos de ônibus, e estações de trens e metrô.
No Rio, a prefeitura promete expandir a estrutura de bicicletários para facilitar o acesso de ciclistas aos meios de transporte de massa. Enquanto isso não acontece, o prefeito Eduardo Paes permitiu que bicicletas fiquem presas a postes, desde que não obstruam o trânsito de pedestres e veículos.
Também foram criadas na cidade 13 zonas preferenciais para ciclistas, em que a circulação de carros fica restrita à velocidade máxima de 30 km/h. Segundo o subsecretário de Meio Ambiente do município, Altamirando Fernandes, a medida tem o objetivo de criar vias preferenciais para o uso de bicicletas, mesmo onde não há ciclofaixas. "É impossível ter uma rede cicloviária que cubra toda a cidade, então podemos criar ambientes amigáveis para os ciclistas", afirma Fernandes.
Com base nas contas apresentadas na pesquisa da Coppe, o especialista em mobilidade José Lobo calcula que conseguiu economizar quase R$ 30 mil desde que decidiu vender seu carro, há 11 anos. Ele passou a depender apenas da bicicleta - apelando para táxis ou carros alugados quando fosse necessário.
"Como eu já usava bicicleta para ir a reuniões e eventos, meu carro ficava parado na garagem quase todos os dias. No início de 2000, quando chegou a hora de pagar o seguro e o IPVA, achei melhor vender e depender só da bicicleta", conta ele, que é presidente da ONG Transporte Ativo.
Lobo também cobra a implantação de mais ciclovias nas cidades, mas garante que a circulação de ciclistas e motoristas nas mesmas vias é possível e seguro, desde que todos respeitem as leis de trânsito. "Pode ser apavorante pedalar ao lado de carros quando não há ciclovias ou ciclofaixas, mas é apenas uma questão de adaptação. Um motorista que acaba de tirar sua carteira de motorista também tem medo, mas percebe que é uma atividade segura depois que se acostuma", compara.