O difícil trabalho para
erradicação da árvore exótica e invasora pé-de-galinha (Hovenia dulcis),
também conhecida como uva-do-japão, que está aniquilando a Mata Atlântica na RPPN Refúgio do Macuco, nas cabeceiras do rio
Itajaí, em Itaiópolis (SC). Mais de 500 árvores
adultas e milhares de mudas oriundas de uma muda de árvore plantada por um
morador há 40 anos.
A maioria das pessoas já deve ter ouvido que as plantas e animais invasores
(exóticos, isto é, trazidos de outros lugares) são a segunda causa de perda de
biodiversidade, só perdendo para o desmatamento.
Eu já li bastante sobre o assunto, assisti vários documentários sobre a
terrível situação de plantas invasoras em áreas protegidas de ecossistemas pelo
mundo afora e achava que este era um problema distante do Brasil, que não nos
atingia. Pensava isso até conhecer o poder de invasão e de destruição da Mata
Atlântica de duas plantas invasoras: da árvore pé-de-galinha ou uva-do-japão (Hovenia
dulcis) e do lírio-do-brejo (Hedychium coronarium)
A árvore exótica
invasora pé-de-galinha (Hovenia dulcis) é nativa do Japão, leste da
China, Coréia até a cordilheira do Himalaia (em altitudes abaixo de 2000 m).
Cresce em áreas abertas de solos úmidos arenosos ou argilosos. A árvore foi
introduzida como uma árvore ornamental no Brasil e em Santa Catarina para
produção de lenha nas propriedades rurais, mas não foi aprovada pelos
agricultores.
Os frutos do pé-de-galinha (Hovenia dulcis) são muito saborosos e
apreciados por toda a fauna de aves e mamíferos, que se banqueteiam ao redor da
árvore na época em que os frutos amadurecem. Quando eu era criança também
gostava de comer “pé-de-galinha”, denominação que usamos em Santa Catarina, mas
não tinha como saber naquela época que se tratava dos frutos de uma árvore tão
perigosa para a Mata Atlântica.
Frutos da
árvore exótica e invasora pé-de-galinha (Hovenia dulcis), também
conhecida como uva-do-japão.
Por ser muito doce, parece que os animais silvestres (aves e mamíferos)
preferem esses frutos importados aos nativos. Na RPPN há uma oferta de uma
grande diversidade de frutos das árvores da Mata Atlântica que chegam a forrar
o chão e apodrecer na mesma época, mas os habitantes da floresta preferem
consumir a importada, os frutos do pé-de-galinha, mesmo correndo o risco de
serem abatidas a tiros ou caírem em armadilhas quando freqüentam as
propriedades do entorno.
Frutos em desenvolvimento
da árvore exótica e invasora pé-de-galinha (Hovenia dulcis)
Esta concorrência, muito desleal, é um problema que desencadeia outro, com
graves consequências futuras. A fauna dissemina milhares de sementes para o
meio da mata nativa preservada e ao longo dos anos as árvores nativas vão
perdendo espaço ao serem substituídas pelo pé-de-galinha (Hovenia dulcis),
que pode fornecer frutos para alimentar a fauna somente durante duas ou três
semanas - ao contrário da diversidade de árvores da Mata Atlântica que fornece
frutos o ano todo.
Já o arbusto
lírio-do-brejo (Hedychium coronarium), originário da região da Ásia tropical,
foi trazida para o Brasil como planta ornamental especialmente por causa do
perfume muito agradável exalado de suas flores brancas. Como o nome diz, esta
planta se desenvolve bem em áreas úmidas. Necessita também de muita luz, ou
seja, só desenvolve em áreas abertas.
Lírio-do-brejo
(Hedychium coronarium), planta invasora que está substituindo a
vegetação nativa das ilhas e margens do rio do Couro (afluente do rio Itajaí),
na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC)
Na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC), o lírio-do-brejo (Hedychium
coronarium) está colonizando todas as margens e ilhas do rio Itajaí e de
seu afluente, rio do Couro. Estimamos que o custo para remoção (mecânica, de
arrancar com as mãos) desta planta invasora seja na ordem de milhões de Reais,
porque teria que exterminá-las em toda a bacia hidrográfica, não apenas dentro
da RPPN porque as mudas e sementes se propagam facilmente nas enxurradas.
Obviamente que não
dispomos recursos para bancarmos sozinhos a solução deste problema do
lírio-do-brejo (Hedychium coronarium). Então, decidimos atacar o
problema das plantas invasoras na RPPN começando pelas espécies que eu
imaginava mais fáceis de serem removidas, como a árvore pé-de-galinha (Hovenia
dulcis).
O grande estímulo
para esta preocupação com as plantas invasoras veio do Programa Desmatamento Evitado (PDE) da SPVS , de Curitiba, que ampliou minha visão sobre
o perigo das plantas invasoras. Eu subestimava este problema na RPPN
Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC), adotada pelo PDE/SPVS com
recursos do Banco HSBC, da campanha publicitária do seguro de automóveis,Seguros
Verde Auto. Há dois anos começamos a aplicar estes recursos do PDE/SPVS
para combater esta espécie invasora.
Em uma pequena área
da RPPN Refúgio do Macuco já foram abatidas mais de 500 árvores
adultas de pé-de-galinha (Hovenia dulcis), que deixaram milhares de
mudas, muitas delas plantadas pela fauna bem distante do local, na parte de
mata primária. Estimamos que leve mais de 50 anos para erradicação desta
invasora, deste que tenhamos os recursos financeiros e que os vizinhos também
eliminem esta espécie de suas propriedades.
Contaminação
biológica: muda da árvore exótica
e invasora pé-de-galinha (Hovenia dulcis) plantada por animais (jacu, provavelmente) no meio
da mata nativa.
O que estamos observando na RPPN
Refúgio do Macuco serve de
alerta. Mostra de forma bem evidente que o pé-de-galinha (Hovenia dulcis)
é uma espécie de árvore invasora muito perigosa, com um poder devastador de
aniquilar a Mata Atlântica e toda sua rica biodiversidade de plantas e animais
em poucas décadas. A árvore começa a colonizar a mata ciliar, onde incide mais
luz, e vai se expandindo para dentro da mata, substituindo gradualmente as
espécies nativas. Moradores do entorno contam que o antigo proprietário da área
confrontante apareceu com a novidade por lá há 40 anos plantando uma única muda
desta árvore.
Quem não gostou nem
um pouco das nossas ações para erradicação - ou controle – da árvore invasora
pé-de-galinha (Hovenia dulcis) foram os caçadores. Reclamaram – e muito
– porque acabamos com o local de ceva de mamíferos, como o tateto (porco-do-mato),paca e quati.
De fato, no local nós encontramos vestígios de instalação de armadilhas nas dezenas
de trilhas dos animais silvestres. Era o melhor ponto que eles tinham para
caçar.
Postado por Germano
Woehl Jr.