segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Biodiversidade

Por: Teresinha Victorino
 
“Como, pois, se atreve o homem a destruir, em um momento e sem reflexão, a obra que a natureza formou em séculos... Destruir matos virgens, nos quais a natureza nos ofertou com mão pródiga as melhores e mais preciosas madeiras do mundo, além de muitos outros dignos de particular estimação, e sem causa, como até agora se tem praticado no Brasil, é extravagância insofrível, crime horrendo e grande insulto feito à mesma natureza.”
(JOSÉ BONIFÁCIO, 1821)

Segundo, Lewinsohn (2001), Biodiversidade é um dos termos científicos mais conhecidos e divulgados no mundo nos dias atuais, mas nem por isso é bem compreendido pela maioria das pessoas, inclusive pelos cientistas. Para o autor, o conceito de biodiversidade refere e integra toda a variedade de organismos vivos encontrados nos mais diferentes níveis. Além disso, a biodiversidade não é apenas uma coleção de componentes em vários níveis, mas também a maneira como esses organismos estão organizados e como interagem, ou seja: “as interações e processos que fazem os organismos, as populações e os ecossistemas preservarem sua estrutura e funcionarem em conjunto”.
Conforme o Artigo 2º da Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB, a Biodiversidade, ou diversidade biológica é entendida como a variabilidade dos organismos vivos de todas as origens, abrangendo os ecossistemas terrestres, marinhos, e outros ecossistemas aquáticos, incluindo seus complexos; e compreendendo a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.
É essencial para o conhecimento da Biodiversidade a descrição de novas espécies. As taxas dessas descrições indicam o volume de trabalho realizado e o ritmo em que ele vem sendo desenvolvido. A Taxonomia, o estudo que descreve e classifica novas espécies, é fundamental para o conhecimento da Biodiversidade, (LEWINSOHN, 2004).
Nos séculos XIX e XX, muitos biólogos e naturalistas se especializaram em algumas famílias de plantas ou animais, se esforçando em descrever novas espécies. Enquanto aumentava conhecimento e a classificação de espécies, percebia-se que em cada região havia espécies diferentes e algumas exclusivas de uma determinada área do planeta, (LEWINSOHN, 2001).
A ideia de diversidade de espécies surgiu da união da Taxonomia com a Biogeografia, ciência que descreve a distribuição geográfica das espécies e busca sua caracterização em cada tipo de ambiente natural e em cada região geográfica do planeta. O atual conceito de espécie biológica, influenciado pela genética e a evolução dos organismos, é a capacidade de intercruzamento em condições naturais. Este conceito reconhece que “indivíduos ou populações variam de aparência e podem mesmo ser de raças distintas, mas pertencerem à mesma espécie, (LEWINSOHN, 2001).
A importância da diversidade biológica passou a ser compreendida a partir do desenvolvimento da biotecnologia, quando foi observado que quanto maior a biodiversidade que um país possui, maior é a gama de produtos que poder ser desenvolvidos e industrializados. A eficácia na proteção da biodiversidade deve levar em conta o fato que ela avança rapidamente da situação de uso econômico limitado, para a de uso econômico amplo, tornando fundamental tratá-la, como um bem e não como uma coisa, (BENTES-GAMA, 2003).
Diversos autores destacam a importância do conhecimento para conservação da biodiversidade (GIULIETT et al., 2005; PEIXOTO e MORIN, 2003; LEWINSOHN, 2001; MEDEIROS, 2001; COSTA e MARTINS, 2008). O estudo taxonômico é fundamental para que se tenha conhecimento da riqueza biológica, esta que muitas vezes é perdida antes mesmo de ser conhecida.
Giuliett et al. (2005) destacam que o progresso da conservação da biodiversidade depende de taxonomistas com experiência de campo e de laboratório. “O trabalho deve ser concentrado em identificar e inventariar os Hotspots (Lugares de grande riqueza biológica e mais ameaçados da Terra, os hotspots, são áreas com alto grau de endemismo) e em manter as coleções de herbários, coleções vivas e coleções de DNA”.
A Biodiversidade, o conjunto de seres vivos, desde os microorganismos até os grandes animais e plantas dentro dos seus respectivos ecossistemas no qual integram, é a garantia do futuro da humanidade já que ela depende da manutenção da variedade e variabilidade dos genes, espécies, populações e ecossistemas atuais, (MENDES).
Segundo Lamim-Guedes e Soares (2007) é importante ressaltar, a inclusão da espécie humana como componente fundamental do sistema e extremamente dependente dos serviços e bens ambientais oferecidos pela natureza. Para esses autores, a vida humana correria riscos caso não pudesse dispor da biodiversidade ou da reserva biológica do planeta.
A conservação da biodiversidade garante a sobrevivência da maioria das espécies de animais e vegetais e a humanidade perderia a fonte de recursos para a sua sobrevivência. Para manter a biodiversidade, a sociedade precisa identificar e proteger lugares especiais desenvolver métodos e ações concretas. A conjugação de esforços em discutir temas importantes como: educação, saúde, mudanças climáticas, energias renováveis entre outros, se faz necessário para o equilíbrio planetário.
A riqueza da biodiversidade é pressionada por parte da humanidade. Seus recursos estão sendo esgotados, afetando diretamente os ecossistemas, levando ao desaparecimento de muitas espécies biológicas. A degradação e a exploração excessiva são causadas pelo aumento demográfico e uso da terra, fatores que afetam negativamente as populações dos ecossistemas, alterando seus habitats e promovendo extinções genéticas. O desmatamento de grandes florestas, hoje reduzidas a fragmentos de mata, propicia o isolamento de populações de animais e plantas e a perda de sua variabilidade genética, (FERREIRA et al. 2008).
A extinção lenta e natural mantém o equilíbrio em relação ao número de especiações, mutações e modificações das freqüências dos alelos que geram novas espécies. A exploração excessiva aos recursos naturais tem desencadeado a diminuição da biodiversidade, uma vez que a taxa de extinção se torna maior que a especiação, (COSTA e MARTINS, 2008).
Segundo Cox e Moore (2009), quando as “condições se alteram muito rapidamente impedindo as adaptações genéticas e evolutivas, populações, espécies ou mesmo grupos inteiros de espécies podem passar à extinção”. Para os autores a extinção é uma “característica regular das constantes mudanças de padrões de vida. Novas formas prosperam em detrimento de grupos antiquados e fracamente adaptados, os quais desaparecem.”
Extinções de espécies ocorrem de forma natural numa escala de tempo de um milhão de anos, eventos de extinção em massa como a que eliminou os dinossauros do planeta são exceções. Ações humanas como a biopirataria, a introdução de espécies exóticas, a destruição de habitats têm acelerado o ritmo de extinções de diversas espécies nos dias atuais e aumentado o risco à manutenção da biodiversidade ao provocar outras ameaças como o aquecimento global, (PIMM e JENKINS, 2005).
Waren Dean (1996) destaca a importância da floresta para a existência de várias espécies da fauna e da flora ao oferecer abrigo e alimento. Visto que algumas espécies da flora dependem diretamente de animais ou insetos específicos para poderem se reproduzir. Nesta enorme e delicada teia, onde o dinâmica natural depende da harmonia entre as espécies, a extinção de determinadas espécies compromete a existência de muitas outras.
Após anos de predação, a fauna, hoje, sofre sérias ameaças através do tráfico de animais silvestres, um dos problemas primordiais a serem resolvidos por órgãos responsáveis de diversos países. As taxas de mortalidades são extremamente elevadas, estima-se que do momento da captura ao destino final cheguem a 90%, no Brasil, cerca de 30% deste mercado ilegal é exportado, o restante é comercializado internamente, (FERREIRA et al., 2008). O país é um dos principais fornecedores de flora e fauna para o mercado mundial e alvo da biopirataria, que é o comércio ilegal da biodiversidade, (BENTES-GAMA, 2003). A sua megadiversidade além de conter um alto potencial para acrescentar conhecimento à ciência, é também um acervo econômico incalculável pelo valor que pode ser gerado por descobertas científicas de interesse comercial, como os fármacos.
Outro grande problema que afeta consideravelmente o equilíbrio do meio ambiente é a introdução de espécies exóticas invasoras. Considerado o segundo maior fator de devastação ambiental, provocando a extinção de centenas de espécies da fauna e da flora, perde apenas para a exploração humana direta por destruição de habitats, (COSTA e MARTINS, 2008). Segundo Fonseca et al., (1999), o problema é grave e desafiante não só pela introdução de espécies de outros países e continentes mas também de biomas diferentes onde essas espécies não ocorriam originalmente. Os autores alertam que os países e regiões biologicamente ricos são bem mais vulneráveis aos impactos derivados de espécies exóticas.
A biodiversidade possui valor ecológico, genético, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético, porém grande parte da sociedade não reconhece a importância desses valores, não tem consciência do valor ecológico que as espécies da fauna e da flora desempenham na estrutura e manutenção dos ecossistemas e que delas depende o equilíbrio biológico, essencial para todas as formas de vida, (FERREIRA et al. 2008).
Para Loureiro (2002), a humanidade interage com a natureza e não a domina, é a sociedade contemporânea, em funções das relações sociais e de produção que apresenta uma “ação predatória e potencialmente ameaçadora da vida na Terra”. Com o surgimento da cultura humana e o seu desenvolvimento, se aprofundou o impacto na biogeografia mundial. Poucas são as espécies que escapam dos efeitos de sua atividade no aspecto de sua ecologia e distribuição, (COX e MOORE, 2009).
Ao longo dos anos, a relação do ser humano com o planeta se desenvolveu e modificou até se tornar uma relação de domínio e desprezo pela natureza, (BENSUSAN, 2006). A manutenção do hábito de consumo e estilo de vida adotados pela sociedade atual é ambientalmente insustentável, (PORTILHO, 2005).
É enorme a dependência que a humanidade tem dos organismos vivos. A utilidade desses organismos pelo ser humano vai desde o alimento fornecido, construções de moradias e confecções de vestimentas até como fontes de medicamentos. Outros funcionam no sistema geral de sustentação do planeta, atuando no balanceamento gasoso da atmosfera ou na estrutura saudável do solo, ou até mesmo, modificando o clima, (COX e MOORE, 2009).
A preservação e a recuperação da natureza são necessárias para a sustentação da riqueza biológica do planeta, (ALVES et al., 2009) ao assegurar os mecanismos de sobrevivência humana e de outras espécies na Terra, (IRVING e MATOS, 2006).
Diegues, (2005) também destaca a importância da preservação da diversidade biológica, principalmente pela manutenção da diversidade genética, visto a necessidade de assegurar o fornecimento de alimentos, de fibras e certas drogas, como também para o progresso científico e industrial. E, ainda, "para impedir que a perda das espécies cause danos ao funcionamento eficaz dos processos biológicos”.
Por desempenhar um papel de influência sobre outras espécies vegetais e animais, ao mesmo tempo em que é uma espécie entre as demais, e também dependente de outras, o ser humano aos poucos percebe que o mundo não é apenas centrado nele, e que as outras espécies têm direito à existência, tanto quanto ele próprio. Portanto tem a responsabilidade, como uma espécie de alto impacto sobre os ecossistemas do planeta de garantir que as extinções sejam minimizadas e a conservação torna-se uma questão ética, (COX e MOORE, 2009).
Loureiro (2002) aponta que não é somente o uso indevido dos recursos naturais o responsável pelas conseqüências da degradação ambiental, mas sim o “conjunto de variáveis interconexas, derivadas das categorias: capitalismo/modernidade/industrialismo/urbanização/tecnocracia.” O pedagogo japonês, Tsunessaburo Makiguti em 1930 quando escreveu sua pedagogia de educação, categorizou a vida em quatro bases distintas de atividade: Natureza; Indivíduos; Sociedade e Universo. Na base Natureza, governada pela lei da física, o relacionamento ele dividiu em quatro tipos: sujeição, harmonização, conflito e conquista. Na base Indivíduos, governada pelo princípio psicológico, lei social, política e econômica, o relacionamento é divido em: conflito e cooperação. Na Sociedade, governada pelas leis da ética, moral, tradições e costumes sociais, o relacionamento deve ser participativo. A última a base, Universo, governada pela lei casual e pelo princípio religioso, o relacionamento é de causa e efeito.
Para Makiguti, a atitude do ser humano em relação à natureza deve primeiramente ser de reconhecimento de que somos criaturas da natureza e sujeitos às leis físicas. Mas procurando seguir o “curso natural” ou “triunfar sobre a natureza”. A outra é a moderação, a harmonia da relação com ela e sua utilização em benefício próprio. Podendo até “domesticá-la para servir aos nossos objetivos”, recebendo vantagens sem nenhum perigo de sua conquista. Mas o segredo para isso é “buscar um relacionamento de interação intelectual equilibrada” entre o ser humano e o meio ambiente.
Segundo Diegues, (2005) os padrões de consumo das comunidades tradicionais, sua baixa densidade populacional e o limitado desenvolvimento tecnológico fazem com que sua interferência no meio ambiente seja pequena. “A conservação de recursos naturais é parte integrante de sua cultura”, o respeito se aplica não a somente à natureza como também aos outros membros da comunidade.
O rico conhecimento que essas comunidades têm sobre os recursos biológicos tem sido alvo dos países detentores da maior parte do volume de produção científica em nível global, as informações que essas comunidades tradicionais detêm sobre a natureza e o uso dos recursos naturais renováveis de ambientes em que habitam há vários séculos guardam segredos que podem ajudar na cura de muitas doenças, (FONSECA, RYLANDS e PINTO, 1999).
Oliveira, (2002) destaca que a capacidade do planeta em suportar o modelo adotado pela sociedade moderna está próxima do limite. Há uma necessidade urgente de repensar sobre conceitos como: ética, vida, consumo, bem-estar e felicidade diante da problemática da questão ambiental. Visto que, a busca “egoísta pela felicidade surtiu um efeito contrário, trazendo sofrimento, resultante dos problemas ambientais e tecnológicos”, (IKEDA, 2005).
A possibilidade de ocorrências de fenômenos devastadores provocados pelo aumento do efeito estufa e do buraco na camada de ozônio, pela desertificação e o comprometimento dos recursos hídricos para o consumo humano; bem como o comprometimento da manutenção da biodiversidade diante da rápida extinção de espécies; além da pobreza, da fome, das guerras, da hegemonia e da arrogância dos poderosos no processo de globalização, obrigam-nos a buscar a transformação do modelo de desenvolvimento atual em um modelo que seja sustentável e equitativo.
Nesse contexto, uma poderosa aliada da biodiversidade é a educação ambiental, que hoje enfrenta um grande desafio ao perseguir a mudança de mentalidade sobre as idéias de desenvolvimento baseado na acumulação de riquezas, no “saque dos recursos naturais”, no desprezo às culturas tradicionais e aos direitos fundamentais do ser humano, (REIGOTA, 1998).
A Educação Ambiental como um processo de esclarecimento, deveria ser encorajada pelas discussões críticas em relação à educação, ao ambiente e às realidades sociais. As confrontações pessoais e coletivas são fundamentais ao permitir parcerias, para construir e dividir as mudanças desejadas, (SAUVÈ, 1997).
Para Pedrini, (2006) a relação entre a Educação Ambiental e a Biodiversidade deve ser intensificada visando à preservação ou a conservação da biodiversidade na sua unidade espacial, ou seja, visando a sua totalidade. Para o autor existe uma convergência entre elas e uma depende da outra.
No atual “estado global de destruição ambiental, parece que o planeta inteiro está nos ensinando de forma direta, refletindo nossos erros”, (HENDERSON, 2005).
Para a manutenção da vida na Terra é preciso que o ser humano comece a mudar seus atos e sua relação com ela. “Dez mil ondas começam a partir de uma única onda, (IKEDA, 2005).

“O homem, como parte da biodiversidade, depende dos recursos naturais que são finitos nos diversos ecossistemas que constituem a biosfera. A gestão desse extraordinário patrimônio está nas mãos de cada um de nós, nos gestos, ações e decisões que tomamos a cada dia. E a educação ambiental é de grande importância na conservação e gestão desta biodiversidade.”

(Parágrafo retirado do Capítulo 6 do Kit Jovem Cientista da Fundação Roberto Marinho)

O inverno nunca tarda a se tornar primavera - Nitiren Daishonin

“Aqueles que creem no Sutra de Lótus são como o inverno; o inverno nunca falha em se tornar primavera. Desde os tempos antigos jamais se ouviu que o inverno tenha se transformado em outono ou que um devoto do Sutra de Lótus tenha se transformado numa pessoa comum”

Este é um dos mais famosos trechos dos escritos de Nitiren Daishonin que tem servido de alento para inúmeras pessoas superarem suas dificuldades na jornada da vida em direção à felicidade.
Esse trecho faz parte da carta escrita em 1275 para a monja leiga Myoiti que vivia em Kamakura. Era uma mulher instruída que havia perdido seu marido e enfrentava dificuldades para criar seus dois filhos. Nitiren Daishonin escreveu-lhe a fim de encorajá-la, afirmando que os seguidores do Sutra de Lótus vivem como se estivessem em meio a um inverno, mas que essa situação infalivelmente se transforma em primavera.
Quatro anos antes, Daishonin havia sido alvo da Perseguição de Tatsunokuti e fora exilado na Ilha de Sado. Esses fatos culminaram na cruel investida contra os seguidores de Daishonin em Kamakura. Entre eles, estavam Myoiti e o seu marido, que tiveram as terras confiscadas. No entanto, o casal persistiu resolutamente na prática da fé do Sutra de Lótus como genuínos discípulos.
Infelizmente, a morte do marido de Myoiti ocorreu antes de Daishonin ser libertado do exílio. A ela coube criar dois filhos, um dos quais estava doente. Ela própria se encontrava com a saúde extremamente debilitada. Mesmo em meio às circunstâncias tão adversas, ela continuou prestando um sincero apoio a Daishonin. Enviou, por exemplo, um serviçal para ajudá-lo durante a permanência dele tanto em Sado como em Minobu.
 

 

Ultrapassar o rigor do inverno

 Para celebrarmos a chegada da primavera, precisamos antes ultrapassar o inverno. Do ponto de vista da prática budista, a conquista da felicidade é uma luta da transformação do carma e da superação de inúmeros desafios. As provações do rigor do inverno são necessárias para se alcançar uma brilhante primavera com base na fé.
O inverno se transforma em primavera, não em outono — eis um princípio imutável da natureza. Do mesmo modo, aqueles que praticam a Lei Mística atingirão o estado de Buda e não permanecerão no estado ilusório de mortal comum. Este é um princípio universal da vida.

 
O essencial é compreender que o que torna genuína a alegria da primavera é justamente o rigor do inverno que a precede. Somente quando superamos as provações do inverno por meio do poder da fé conseguimos desfrutar a primavera de triunfo.

Quando resistimos e superamos as dificuldades do inverno e saímos vitoriosos por meio da prática budista, podemos fazer com que as flores brilhantes da vitória se abram radiantes em nossa vida.
Se, em meio ao rigor do frio, deixarmos de lutar ou de avançar na fé, terminaremos com resultados incompletos. A chave para a nossa vitória encontra-se na intensidade e na paixão com que nos desafiamos no inverno, na sabedoria que manifestamos nesse período, e em quão significativamente vivemos cada dia com a convicção de que a primavera chegará sem falta.

Ter fé é avançar tanto na primavera como no inverno Ter fé no Sutra de Lótus significa avançar pelo caminho do inverno de adversidades. Quando enfrentamos a árdua tarefa de transformar nosso carma, podemos celebrar a chegada da primavera e edificar a boa sorte e a felicidade em nossa vida. Não nos esquivemos, portanto, do rigor do inverno. Se tivermos a coragem de enfrentar os desafios do frio, poderemos avançar ilimitadamente rumo à esplêndida primavera que é a consecução do estado de Buda e do Kossen-rufu.
O presidente Ikeda nos orienta para repetirmos constantemente a ação de transformar o “inverno em primavera”, pois o ato de lamentar está fortemente enraizado em nossa vida de mortal comum. 

Por meio dos constantes esforços para transformar o inverno em primavera, somos capazes de elevar a condição de vida de mortal comum em direção a uma vida baseada na sabedoria do Buda.

O fundamental é que nosso avanço se baseie na recitação de Daimoku, tanto em momentos de sofrimento como nos de alegria. Se agirmos assim em tempos de dificuldade, encontraremos a sabedoria necessária para transformar o veneno em remédio, e nos momentos felizes, avançaremos com otimismo e esperança ainda maiores.

Caso do Vestido – Carlos Drummond de Andrade

Texto extraído do livro "Nova Reunião"

Nossa mãe, o que é aquele vestido, naquele prego?

Minhas filhas, é o vestido de uma dona que passou.

- Passou quando, nossa mãe? Era nossa conhecida?

Minhas filhas, boca presa. Vosso pai evém chegando.

Nossa mãe, dizei depressa que vestido é esse vestido.

Minhas filhas, mas o corpo ficou frio e não o veste. O vestido, nesse prego, está morto, sossegado.

Nossa mãe, esse vestido tanta renda, esse segredo!

Minhas filhas, escutai palavras de minha boca. Era uma dona de longe, vosso pai enamorou-se. E ficou tão transtornado, se perdeu tanto de nós, se afastou de toda vida, se fechou, se devorou, chorou no prato de carne, bebeu, brigou, me bateu, me deixou com vosso berço, foi para a dona de longe, mas a dona não ligou.

Em vão o pai implorou. Dava apólice, fazenda, dava carro, dava ouro, beberia seu sobejo, lamberia seu sapato. Mas a dona nem ligou. Então vosso pai, irado, me pediu que lhe pedisse, a essa dona tão perversa, que tivesse paciência e fosse dormir com ele...

Nossa mãe, por que chorais? Nosso lenço vos cedemos.

Minhas filhas, vosso pai chega ao pátio. Disfarcemos.

Nossa mãe, não escutamos pisar de pé no degrau.

Minhas filhas, procurei aquela mulher do demo. E lhe roguei que aplacasse de meu marido a vontade.

Eu não amo teu marido, me falou ela se rindo. Mas posso ficar com ele se a senhora fizer gosto, só pra lhe satisfazer, não por mim, não quero homem.
Olhei para vosso pai, os olhos dele pediam. Olhei para a dona ruim, os olhos dela gozavam.
O seu vestido de renda, de colo mui devassado, mais mostrava que escondia as partes da pecadora. Eu fiz meu pelo-sinal, me curvei... disse que sim.
Sai pensando na morte, mas a morte não chegava.

Andei pelas cinco ruas, passei ponte, passei rio, visitei vossos parentes, não comia, não falava, tive uma febre terçã, mas a morte não chegava.

Fiquei fora de perigo, fiquei de cabeça branca, perdi meus dentes, meus olhos, costurei, lavei, fiz doce, minhas mãos se escalavraram, meus anéis se dispersaram, minha corrente de ouro pagou conta de farmácia.

Vosso pais sumiu no mundo. O mundo é grande e pequeno.
Um dia a dona soberba me aparece já sem nada, pobre, desfeita, mofina, com sua trouxa na mão.

Dona, me disse baixinho, não te dou vosso marido, que não sei onde ele anda. Mas te dou este vestido, última peça de luxo que guardei como lembrança daquele dia de cobra, da maior humilhação. Eu não tinha amor por ele, ao depois amor pegou. Mas então ele enjoado confessou que só gostava de mim como eu era dantes.

Me joguei a suas plantas, fiz toda sorte de dengo, no chão rocei minha cara, me puxei pelos cabelos, me lancei na correnteza, me cortei de canivete, me atirei no sumidouro, bebi fel e gasolina, rezei duzentas novenas, dona, de nada valeu: vosso marido sumiu.

Aqui trago minha roupa que recorda meu malfeito de ofender dona casada pisando no seu orgulho. Recebei esse vestido e me dai vosso perdão.

Olhei para a cara dela, quede os olhos cintilantes? quede graça de sorriso, quede colo de camélia? quede aquela cinturinha delgada como jeitosa? quede pezinhos calçados com sandálias de cetim?

Olhei muito para ela, boca não disse palavra.

Peguei o vestido, pus nesse prego da parede.

Ela se foi de mansinho e já na ponta da estrada vosso pai aparecia.

Olhou pra mim em silêncio, mal reparou no vestido e disse apenas: — Mulher, põe mais um prato na mesa. Eu fiz, ele se assentou, comeu, limpou o suor, era sempre o mesmo homem, comia meio de lado e nem estava mais velho.

O barulho da comida na boca, me acalentava, me dava uma grande paz, um sentimento esquisito de que tudo foi um sonho, vestido não há... nem nada.

Minhas filhas, eis que ouço vosso pai subindo a escada. 

sábado, 8 de outubro de 2011

A Área de Lazer da Varig está prestar a ir a leilão

No dia 22/10 das 9h às 12h no Largo do MC'Donalds faremos um ato público para pedir ao Prefeito Eduardo Paz que entre no leilão para a compra da Área de Lazer da Varig.

A Área de Lazer da Varig está prestar a ir a leilão e como moradores do bairro, devemos lutar pela aquisição dessa área pela Prefeitura do Rio de Janeiro para ser mantida sob os seus cuidados para os moradores da Ilha do Governador e da cidade, criando ali o primeiro Parque Municipal da Ilha. A área de lazer já existe, está pronta e faz parte da história de muitos moradores que aqui residem. 
Abaixo segue um vídeo gravado por um grupo de aposentados da Varig onde apreesentam a área para quem ainda não conhece. 

Nós moradores da Ilha do Governador, que desejamos o melhor para Ilha sempre, queremos que a prefeitura da cidade entre no leilão e adquira a Área de Lazer da Varig e transforme-a num parque municipal para a nossa cidade, preservando a sua biodiversidade e proporcionando aos visitantes uma natureza exuberante da Mata Atlântica para práticas de várias atividades ao ar livre, além de resgatar parte da história da companhia aérea brasileira, a Varig. O dinheiro deste leilão seguirá para as indenizações dos seus aposentados referente aos Planos 1 e 2.

Quem não gostaria de morar numa cidade que valoriza a cultura de cada bairro, que reconheça a importância do diálogo e que saiba aproveitar o que o bairro tem peculiar proporcionando aos seus moradores uma ótima qualidade de vida?
Unidos à luta dos aposentados e pensionistas da Varig (Aeros Varig), nós moradores da Ilha queremos dizer ao Prefeito Eduardo Paes que entre no leilão da Área de Lazer da Varig* e compre-a para a nossa cidade. Venha engrossar a nossa voz, junte-se a nós no ato público que faremos no dia 22/10 das 09:00h até 12:00h no Largo do MC'Donalds.

* O leilão da Área de Lazer da Varig ocorrerá em Novembro de 2011

Contamos com todos,
 Teresinha Victorino